terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A história da mocinha ou O nascimento de uma chata


Era uma vez uma mocinha que decidiu que queria ter um filho. Depois de muito insistir com o marido, de muitas discussões e de muito pensar, foi tomada a grande decisão: chega de pílulas anticoncepcionais.A pobre mocinha não fazia ideia do quanto essa decisão mudaria imensamente sua vida. Um mês depois, com um exame de sangue positivo em mãos, ela seguiu serelepe e feliz para o consultório médico para saber como lidar com sua gravidez. E assim ela foi apresentada ao mundo das mãezinhas. Perdeu nome, identidade e, de alguma forma, o domínio de si mesma. Era apenas a mãezinha. Ah, mas essa mocinha nunca foi fácil, essa história de mãezinha não combinava com ela. Algo no seu instinto lhe dizia que o guia para uma boa gestação estava dentro e não fora dela. Mas a forte maré continuava lhe empurrando para o infantilizado mundo das mãezinhas. A dotôra lhe disse pra cuidar do enxoval, preparar a casa, porque o resto era com ela. A mocinha, encrenqueira como sempre foi, mudou de médico. E mudou, e mudou. E seis vezes mudou. Até que o mundo virtual lhe mostrou uma triste realidade. Pra conseguir parir como sempre sonhou, a mocinha precisava se rebelar.Não bastava querer. E assim a mocinha esqueceu tudo que lhe foi dito durante toda a vida, perdeu o medo dos cordões assassinos, do útero hostil e das passagens estreitas. Armou-se de muita informação e de tacape na mão foi a luta. Percebeu que os mocinhos de branco não eram mocinhos, e que os vilões estão por toda parte. Fez um curso rápido de obstetrícia para leigos, muito útil para quem quer parir com respeito no reino verde e amarelo. Deixou de ser mocinha. Se tornou a chata. Questionava o antes inquestionável e, a medida que a barriga crescia, sua autoconfiança e empoderamento se multiplicavam. Conheceu gente mágica, trocou energias, conhecimentos e força. Olhou pra dentro de si e descobriu que era capaz. E amou cada segundo com seu barrigão, se sentindo poderosa e linda tomou consciência que vivia algo mágico e inigualável. E fingiu não ouvir as vozes dos que não enxergavam. Descobriu que tinha poder. Um poder que ninguém lhe podia roubar, que nasceu com ela. Encontrou-se com sua feminilidade. E se tornava a cada dia mais chata. E ela conseguiu, e sentiu a dor que era pra sentir, e descobriu uma força muito maior que a que achava que possuía, e por muitas horas se encontrou com seus instintos mais íntimos e nasceu novamente com aquele ser que saía de dentro dela. 
Ah, mas ela não sabia que ainda existia muita luta pela frente. O reino verde amarelo é cheio de robôs. O reino fabrica robôs. As grandes empresas, do alto dos seus castelos, precisam de robôs. E os robôs querem que todos sejam robôs. Mas a danada da mocinha, mais chata do que nunca, se nega a ser robô. Ela sabe que não precisa que ninguém lhe ensine a cuidar daquele que cresceu dentro dela, que saiu dela. Ela sabe que seu instinto de mamífera a guiará muito bem. Ela sabe que seu corpo aquece, ama e alimenta, sem limites, sem regras, sem hora marcada. A mocinha amarra seu novo ser no corpo, e sem largar o tacape, segue abrindo caminho na mata fechada da irracionalidade. E conhece mais  mocinhas que, como ela, desligaram o modo automático e não aceitam ser robôs. E formam uma tribo. E juntas são cada vez mais fortes. E juntas sonham com um reino verde amarelo diferente. E juntas revolucionam e vão a guerra. E se multiplicam. E se tornam cada vez mais chatas. E amedrontam quem precisa dos robôs pra viver. Ah, essas mocinhas...elas vão longe!

5 comentários:

  1. adorei o texto e sua história!!
    eu e meu barrigão tb temos nos tornados cada dia mais chatos e questionadores!!!
    rsrs!!

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  2. Que as chatas se multipliquem, Gisele!

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  3. Adorei!! Essa é a mãe do meu genro!!! Leoas ssempre
    Thais

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  4. Que bom que uma chata reconhece a outra e se emociona com seu texto!! Parabéns pelo blog!

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  5. Viva as chatas!!! pq o mundo precisa de mais chatas mesmas!! chega de zumbis...
    estou indo para o 5º obstetra pq até agora não gostei de nenhum e nenhum me tratou como Carol, só como mais uma fulana...

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