sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Mais que a sobrevivência

Desde que meu filho nasceu tenho tomado decisões pouco convencionais. Avisei aos parentes e amigos que preferia não receber visitas no primeiro mês. Não contratei ajudante. Decidi que queria receber meu filho sem intromissões, sem opiniões alheias. Queria me conectar a ele. E assim, marido e eu nos ajeitamos e cuidamos sozinhos da cria desde o seu nascimento. É notável como a sociedade tem a mania de tratar a recém-parida como uma incapaz. Querem lhe ensinar a dar banho, a como dar mama, como segurar, como pôr pra dormir, o que comer. Querem decifrar o choro antes de você. Confesso que nos primeiros dias o choro me deixava bastante confusa, não sabia ao certo diferenciar e me angustiava. Já chorei junto perguntando a ele o que queria. E exatamente essa ausência de pessoas ao meu redor me falando que era cólica, ou gazes, ou fome me fez entender meu filho mais rapidamente. Nunca tinha dado banho em um recém nascido, mas fiz questão de dar banho e cuidar da minha cria, sem ninguém por perto. Segui meu coração e meu instinto de mãe e vi que sabia o que fazer. 
Quando uma amiga grávida ou parida me pede um conselho, dou minha opinião, mas afirmo logo: Ouça o seu coração. Siga sua intuição de mãe. Sempre. Ninguem conhece seu filho mais que você. Ninguem possui a ligação emocional, física e espiritual que você possui. Não importa quantos filhos sua mãe, avó ou sogra criaram, o seu filho quem cria é você. Difícil é colocar isso na cabeça das pessoas. Acho graça que quem tem mais de um filho se considera expert em criação. Sabe tudo, passou por tudo, fez tudo certo. Os filhos sobreviveram e você deveria seguir os mesmo passos, sempre!  Pensar, questionar, duvidar e tomar outro caminho soa como uma afronta. Cada vez que falo que Miguel não vai consumir industrializados até pelo menos um ano, ou que meu filho não fica chorando desamparado, tem sempre alguém para se ofender. Penso, cá com meus botões, que quem se ofende com a decisão alheia é porque acha que poderia ter feito melhor. Poderia ter se informado mais, questionado mais. Não há nada mais irritante que ouvir: "Eu fiz isso e ele não morreu." Desde quando sonho para o meu filho apenas a sobrevivência? Desde quando quero apenas que ele não morra? Porque nos acostumamos a criar filhos como se fossem batatas? Porque nos acostumamos a reservar sempre as sobras para os pequenos? Para as crianças ficam apenas os poucos minutos que nos sobram do dia atarefado.Para elas dedicamos os minutos entre um bloco e outro do jornal. Queremos que fiquem quietas e mudas enquanto vemos TV ou lemos um livro. Queremos que durmam cedo e que, de preferência acordem tarde. Oferecemos migalhas da nossa atenção. E elas não podem reclamar. Criança boazinha é aquela que não chora, não se comunica, não reclama.
Se pararmos para analisar o mundo dos olhos da criança, ficaremos muito tristes com nós mesmos. Não é porque meu filho tem apenas 6 meses e não sabe se comunicar com clareza que não devo respeitá-lo, ouvi-lo. Cresci ouvindo que criança não tem querer. Bicho tem querer, porque meu filho não teria? O que eles querem de nós é tão pouco. Quantos minutos por dia você dedica a seu filho? Não digo quantos minutos você fica no mesmo ambiente que ele, ou o carrega no colo, ou pensa na sobrevivência dele. Pergunto quantos minutos você dedica a ele. Quantas vezes você senta, sem fazer mais nada além de brincar, de conversar. Quantas vezes você larga o computador, a Tv, o livro e fica com seu filho, dando-lhe atenção exclusiva? Até quando faremos apenas com eles não morram? Porque se preocupar apenas com uma sobrevida? Quando vamos começar a nos preocupar com proporcionar-lhes uma existência agradável, segura, completa? Nossa sociedade decadente e podre é consequência do pouco que oferecemos aos nossos filhos.Queremos que vivam, que sejam educados, que não quebrem a mobilia, que não nos façam passar vergonha. Corremos insanamente atrás de dinheiro para deixá-los com uma vida confortável, mas não nos preocupamos em oferecer condições emocionais para que cresçam seguros, felizes, bem resolvidos.
Eu decidi me preocupar com muito mais que a sobrevivência. Decidi respeitar suas limitações, respeitar suas fases, seus quereres. Decidi tratá-lo como ser humano, não como bibelô. Portanto, o argumento de que seu filho sobreviveu não me convence de que devo seguir seus passos. Vou ofertar ao meu filho o meu melhor, não as sobras. Sobreviver não é o bastante.



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