quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O melhor que posso ser

Ouvi uma linda homenagem de uma mãe ao seu filho e me apaixonei por uma das frases da música."Ser sua mãe é o melhor que posso ser." A Maternidade, quando vivenciada profundamente desperta o melhor de nós. Pari um filho e uma nova mulher. Renasci. E me sinto muito feliz com isso. 
Por diversas vezes ouço mulheres falarem que não deixaram a vida mudar com a chegada do filho. "A criança que se habitue ao ritmo da família". "O cinema uma vez na semana não pode ser abandonado". "Não troco minhas noites de sono por nada." Sinto pena de quem pensa dessa maneira. Não aquela pena que é desprezo. Mas pena de dó, de piedade. Não sabem o que estão perdendo. Não deixaram que a maternidade as transforme no melhor que podem ser. Não há motivo para orgulho nisso. A maternidade tem que mudar a gente. Impossível passar por uma experiencia tão forte e sair ilesa, intocada. Ela nos faz, quando vivida sem pudores, restrições ou barreiras, encarar o mais escondido de nós mesmas. Nos faz questionar, refletir. Faz repensar. Ela dói, abre feridas para depois curá-las.  
Lembro de um dia, meu pequeno ainda era um recém-nascido, e, como muitos recém-nascidos, fez um cocô surreal. Sujou calça, body, trocador. Acho que salvou-se apenas a cabeça. Eu, estressada, com mais de 20 dias dormindo muito pouco, ao olhar aquele bebê todo sujo, me pus a chorar. Chorei muito. Entrei numa crise existencial de que aquela seria a minha vida para sempre, que agora só iria trocar fralda suja e não dormir nunca mais. Deixei minha alma chorar muito mais que os motivos superficiais que eu tinha em mente. No fundo, sabia que estava chorando porque estava vivendo algo novo, assustador. Porque quando ele chorava, mesmo depois de muito peito, colo, carinho, fralda limpa e sem dores eu ainda não sabia o que queria. Chorei porque queria dormir. Chorei porque estava rompendo com a mulher que eu era e abrindo passagem para o melhor de mim que estava para brotar. Percebi ali, naquele momento, que não adiantava resistir. Eu precisava abrir passagem para o vendaval que mudaria tudo em minha vida. Eu precisava deixar a maternidade me tomar. E ela me tomou.
Para maternar com alma é necessário esquecer as palavras, esquecer o óbvio. A maternidade exige profundidade. Passamos meses cuidando de pequenas criaturas que não falam. Não se comunicam da maneira que estamos acostumados. Falam com os olhos. Para um estranho, o choro do meu filho é apenas um choro. Eu sei o que cada choro diz. Conheço o choro de nervosismo, de ansiedade, de carência, de sono, de fome, e, infelizmente, o choro de dor. Diferencio cada chorinho. Cada expressão do seu rosto me diz com uma incrível clareza o que ele sente, o que ele quer. Nunca achei que seria capaz de algo assim. Sou uma tagarela. Falo pelos cotovelos. E aprendi, com o meu filho, a força do silêncio. A conexão do olhar. 
Observá-lo mudou minha forma de encarar o mundo. Amo ver a curiosidade dos seus olhinhos, a boquinha aberta de admiração, o êxtase a cada descoberta. Passei a admirar mais minhas próprias capacidades. Ele me mostra coisas que eu não enxergo, me traz um encantamento que a muito deixei perdido pelo caminho.
Hoje o mundo é um lugar diferente. E eu sou diferente para o mundo. Aprendi a valorizar o imaterial, o impalpável. A busca desenfreada por sucesso profissional e financeiro perdeu o sentido. Nada vale o sacrifício dos momentos que tenho vivido. Ele tem aprendido comigo e eu com ele. A maternidade é uma troca. Não há unilateralidade. Pobres dos que não enxergam que, muito além do que ensinar, temos muito a aprender. Os filhos ensinam muito. É preciso quebrar os tabus e os preconceitos na relação que se constrói com os pequenos. A porta do aprendizado deve estar sempre aberta.
 A maternidade exige dedicação: de tempo, de forças, de energias, de amor. Doar-se tão profundamente a ponto de fusionar. Só meu filho foi capaz de despertar tanto em mim. Sem dúvida, ser a mãe de Miguel é o melhor que eu posso ser.

3 comentários:

  1. Maravilhoso Elisama! me sinto assim também...ser mãe é muito mais que ter um filho....

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  2. Que lindo! Vc fala por mim nesta Reflexão...
    Eu não tenho essa habilidade de escrever, mas sinto exatamente o que vc descreve .
    Obrigada por compartilhar de forma escrita sentimentos tão intimos e pertinentes à maternidade.

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  3. Interessante, que antes de ler os comentários, quando chegava no finzinho do texto, pensei a mesma coisa!! É exatamente como me sinto.
    Muito obrigada por transpor em palavas os sentimontos que muitas de nós carregamos!
    Eu nunca achei que pudesse ter essa conexão com outro ser, ate a gente ser mãe a gente pensa que vai ser sozinho, como diz a musica "cada um é uma ilha", mais não é verdade...Nós estamos ligados por uma sintonia que não sofre interferência externa. è amor puro e cristalino! E, para sempre!
    Muito obrigada mais uma vez, por nos deixar ver seu corção!

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