terça-feira, 19 de novembro de 2013

Julgamentos, competições e cusparadas para cima

Desde o começo da gravidez frequento grupos de parto e maternidade, nas redes sociais. Conheci muita gente bacana, gente interessada em fazer diferente, gente que quer compartilhar conhecimento, gente que quer dividir as delícias e agruras da maternidade. Gente que quer criar gente diferente. Mas constatei algo triste e decepcionante no universo materno, a competição. Sim, mães tendem a ser competitivas. E nos grupos de maternagem ativa e consciente então, esta disputa atinge níveis assustadores. 
Antes que alguém se ofenda, não tenho o intuito de causar celeuma, nem de atingir quem quer que seja. Apenas sigo me surpreendendo com a incrível capacidade de julgar e menosprezar a maternagem alheia. Assim como o parto perfeito precisaria ser com a parteira da moda, com a doula estrela, de cócoras na água, de um bebê com 5 kg, a maternagem perfeita precisa preencher a todos os requisitos. Nada de televisão, nunca, jamais! Aplicativo no celular, para um bebê? Pecado capital! Nada de comida pronta, de chupeta, de mamadeira, de engrossante. Tem que amamentar linda e sorridente o guri de 5 anos, se ele assim o quiser. Cama compartilhada é lei. Se você descumpre uma destas regras, sinto lhe informar, tá fora do clubinho. Não vai ser aceita. E por mais que digam que não, sim, te consideram menos mãe. Ou MENAS, se assim o preferir. 
Ah, as tais menas. Eu confesso que não entendia porque tantas mulheres defendiam suas escolhas com um: "mas eu não sou menas mãe por isso.." Hoje entendo. Há um certo pedantismo em muitos dos discursos que vemos "dazativista". Um ar de eu fiz o melhor. Um tom de menosprezo. Uma real crença de que sim, a Menas é menos informada, menos dedicada, menos mãe.E é aí que mora o perigo.
Conheço muitas mães. Converso com pessoas que agem como eu, buscando uma criação voltada para a segurança emocional da cria, e pessoas que seguem o que todo mundo segue. Nossas posturas nos diferem, mas acredito que verdadeiramente o que nos move é igual. Amamos nossos filhos mais que a nós mesmas. Salvo as pouquíssimas exceções, toda mãe faz o que acha que é o melhor. Já não tenho a ilusão de que toda mãe saiba o que é melhor. Mas faz o que considera melhor. Será que alguém realmente acredita que a mãe que coloca coca-cola na mamadeira deseja prejudicar o filho? Será que a mãe que deixa chorando tem a real noção do tamanho do prejuízo emocional que está trazendo para a cria? Julgar a mulher que não acredita no seu próprio corpo para parir, amamentar e criar é como falar a uma vítima de estupro que se não quisesse que acontecesse, andasse com roupas maiores! É culpabilizar a vítima!
Vivemos em uma sociedade altamente patriarcal e preconceituosa. Aprendemos desde pequenas a fecharmos as pernas, a nos comportamos, a nos calarmos, a rirmos contidas. Será que este já não é um julgo pesado demais para que a mulher carregue? Ainda precisa ser apontada por outras mães? Você conseguiu informação? Que bacana! Compartilhe, divida, converse, acolha! Mas não espere que todas tenham a mesma sede de mudança que você. Antes de sentirmos necessidade de fazer diferente, precisamos confessar para nós mesmas que algo está errado, e que não pode permanecer como está, e isso não é fácil. Simplesmente respeite a mulher que não bebeu das mesmas fontes que você. Já me vi hostilizando. As vezes a gana de mudar o mundo nos deixa cega. Esquecemos que cada pessoa tem sua história e seu tempo. Demorei, mas tenho aprendido a não me intrometer na educação do filho dos outros. A minha opinião é dada quando solicitada. Com o máximo de respeito e paciência que meu jeito um pouco duro é capaz de ter.
Muito além de ter esta ou aquela informação, de saber mais ou saber menos sobre as evidências científicas, tenho comprovado diariamente que ser mãe é cuspir pra cima. Meu filho muda tudo e mostra que não estou no controle de absolutamente nada. Que não sou super nada. Que a maternidade perfeita é linda, ideal, mas não existe. Que todo mundo volta e meia pisa fora da linha, perde as estribeiras e manda a cartilha pras cucuias. E principalmente, que não existe mãe melhor ou mãe pior, mais ou menAs mãe. Amor de mãe é amor de mãe. Sem comparações, sem medidas, sem precedentes. Toda e qualquer tentativa de comparar e mensurar o que nos move é vazia e imbecil. É só mais uma cusparada, que muito provavelmente, nos atingirá em cheio a testa!


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Filhos melhores que nós.

Lá vou eu começar mais um texto com "A maternidade". Mas não posso mentir, foi a partir dela que muita coisa se transformou em minha vida. Sempre ela. Pois bem, vamos nessa. A maternidade foi um divisor de águas em minha vida. Não somente pelo amor insano que me apresentou, mas por ter me apresentado a mim mesma. Tenho trilhado um caminho longo, por vezes doloroso, mas necessário, pra dentro de mim. Parei de dourar a pílula, de enfeitar situações dolorosas e constrangedoras, de mentir para mim mesma. Tenho me desnudado de uma maneira irreversível. Tratadas as feridas novamente abertas, tenho ressurgido na figura de um ser humano melhor.
Fui educada com a maioria das pessoas da minha geração. Aprendi a obedecer a base de cintadas e palmadas.Ouvi por milhões de vezes que não tinha querer. Ouvi que se não parasse de chorar, sem motivo, ganharia um "belo" motivo pra chorar. Aprendi que não deveria ameaçar, a base de ameaças. Fui treinada para reprimir o choro. E como toda criança, aprendi que a culpa sempre era minha. Era culpada por apanhar, por ficar de castigo, pela impaciência do adulto. Não tinha a oportunidade de argumentar, já que decisão de pai/mãe não se questiona. Antes que achem que meus pais eram criaturas terríveis, preciso esclarecer que não são. São seres amorosos e especiais. Me educaram da forma que acreditavam ser certa. Não foi por falta de amor. Mas por falta de introspecção. Faltou-lhes o momento de sentir suas próprias dores e medos. Faltou, a eles, o silêncio e a oportunidade de se conhecerem profundamente. Faltou-lhes instinto. Faltou-lhes instinto porque não é próprio de nenhum animal educar a cria com agressões físicas. Este é um comportamento nosso, dos seres ditos inteligentes e superiores.
Essas crianças reprimidas emocionalmente, crescem e tornam-se os adultos com quem convivemos diariamente. Tornam-se nós. Não sabem lidar com suas emoções, iniciam e terminam relacionamentos por faltar-lhes capacidade de dialogar. Reprimem suas dores, mentem - para os outros e para si -, enganam.
Digo que a maternidade me guiou para uma jornada interior, porque a responsabilidade de educar um ser humano me fez questionar tudo o que sou." O que quero que meu filho herde de mim? Em que quero que ele se espelhe? Quais dificuldades sonho que ele não tenha? E de onde essas minhas dificuldades surgiram?" Não demorei muito a concluir que o adulto que sou é fruto da criança que aprendi a ser. Se hoje tenho extrema dificuldade pra controlar a raiva, é porque não fui ajudada a lidar com minhas explosões infantis. Sei que a única vez que "esperneei" no mercado, apanhei e não repeti o comportamento. Se acho que ameaçar normal,é porque fui muito ameaçada pelas pessoas que mais me amavam no mundo. Se seguro o choro e nego meus sentimentos mais íntimos, é porque fui treinada a fazê-lo desde muito nova. Não, eu não quero que meu filho seja igual a mim. Não quero que tenha as mesmas dificuldades de relacionamento. Não quero que tenha a minha incapacidade de reconhecer o motivo de minhas angustias. Não quero que não saiba expressar o que sente, como sente. Não quero que viva a ponto de explodir. Não quero ver nele uma continuação de todas as minhas inseguranças emocionais.
Existe garantia de que vou conseguir? Infelizmente não. Mas já dizia Einstein, não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes. Logo, se quero um adulto diferente, preciso fazer da sua infância diferente. Olhe ao redor. Observe o mundo. Algo está errado. Não há revolução que mude o cenário que vemos diariamente. Porque o problema está nos seres que fomos condicionados a ser. Não é óbvio que não podemos seguir os mesmos caminhos de nossos pais? Não seria insano fazer tudo igual e esperar que nossos filhos sejam pessoas melhores que nós? Quando reconheceremos que somos emocionalmente inacabados? Que temos corações em frangalhos como crianças abandonadas nos berços, chorando até adormecer? 
Não sonho com a profissão que meu filho seguirá. Não me importo se será bem sucedido financeiramente. Minhas preocupações vão muito além do que a forma que a sociedade irá enxergá-lo. Me preocupa o que ele verá ao olhar no espelho. Que homem ele enxergará. Me preocupa se será emocionalmente seguro. Se saberá reconhecer suas tristezas e alegrias. Se lidará com as dores e frustrações de uma maneira sábia. Se chorará suas angústias se gozará com plenitude suas vitórias. Se terá empatia com o outro. Se será um ser humano melhor que eu. Estou no caminho certo? Talvez. Mas sei onde dá o outro caminho, e não é lá que quero chegar.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mais uma epifania...

A maternidade é uma experiência transformadora. Ou reveladora, já não sei mais. Volta e meia me pergunto se esse ser que hoje sou é um Eu transformado ou um Eu revelado pela maternidade. Explico. A bem pouco tempo minha vida, minhas prioridades, meu sonhos e até meus pesadelos eram outros. Nunca, em hipótese alguma, sonhei que pariria em casa. Tão pouco que amamentaria um "rapazinho" - ouvi isso da dentista recentemente, que estou amamentando um rapazinho, enorme - de um ano. Muito menos que usaria fraldas de pano, dividiria a cama com o bebê e abandonaria a carreira. Imaginaria menos ainda que gostaria verdadeiramente destas tão intensas mudanças. Por isso me pergunto, a maternidade transformou ou revelou?
Começo a acreditar que não fui transformada. Passo a acreditar que me encontrei. A despeito do que muitos dizem, que viver em casa com o filho é improdutivo e frustrante, tenho me sentido altamente produtiva e feliz. Óbvio, existem os dias nebulosos. Mas estes sempre existirão, independente de nossas escolhas. A frequência que eles aparecem é que pode ser preocupante. Mas sim, voltando a mais esta epifania. A maternidade me desnudou. Depois de mergulhar tão profundamente em meus instintos, de viver com entrega a fase de fêmea parida, concluo que as roupas que tirei, lá no começo deste caminho, não me cabem mais. Não eram exatamente minhas. Não foram escolhidas pela minha alma, pelo meu desejo. Foram impostas, ditadas. Sufocavam, apertavam, incomodavam, marcavam. A tranquilidade e conforto que hoje sinto com minhas escolhas refletem que hoje sim visto as roupas feitas para mim. Escolhidas a dedo, confortavelmente ajustadas. 
A gente ouve tanta coisa desde que nasce que se distancia demais do que realmente somos. Permitimos que o mundo nos diga o que precisamos falar, comer, vestir, comprar, ouvir, gostar. Até a nossa rebeldia foi previamente planejada e imposta. Passamos anos desejando desejos que não são nossos.
Definitivamente não foram meus discursos que mudaram. Os discursos que sempre arrotei como verdades não eram meus. Mas a maternidade me deu de presente a tal pílula vermelha. E ai a gente começa a enxergar que necessitamos de menos do mundo e muito mais de nós. Por tanto, aos amigos que falam quase que com pena que parei a carreira ou que eu era muito boa no que fazia, apenas digo que, se é que importa,  estou feliz. E que esta é uma escolha genuinamente minha.
Não, não é felicidade modelo novela das oito. É felicidade de gente de verdade. É felicidade de ter a consciência tranquila. É felicidade de aproveitar o que realmente importa. É a felicidade de cozinhar um belo prato e saborear sem pressa. De acordar recebendo beijo babado de bebê. De poder parar no meio do dia, do nervosismo e da correria e brincar na sala. Felicidade de ter brinquedo espalhado pelo chão. De ler livro fazendo voz de macaco, de elefante e da mamãe urso.De tomar banho junto. De se espremer pra cabermos os três -papai, mamãe e bebê - na foto. Felicidade de ver os primeiros passinhos. De ouvir as primeiras palavras incertas. De admirar o sorriso durante o sono. De dividir a fruta, o prato, e o gosto. Não é essa felicidade que achei que teria um dia. Por anos a fio acreditei que a felicidade morava em produtos em prateleiras de lojas. E que precisava do trabalho corrido, do dia apertado e da rotina estressante para comprá-la. Engraçado que um serzinho que está no mundo a pouco mais de 1 ano que me ensinou o que realmente importa. Eles nascem sábios.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Partos no Parto

O parto me trouxe muitas mudanças. Não a chegada do meu filho, mas o parto em si. Pari dores, medos, frustrações, inseguranças, frescuras, preconceitos. Meu filho eu agarrei nos braços, o resto ficou ali, no misto de água e sangue na piscina. Pode soar estranho a quem nunca teve um parto respeitoso. Falo parto respeitoso porque parir normal da forma que acontece em grande parte dos hospitais Brasil a dentro não permite esta epifania. Pois bem, saí do parto transformada. 
Por muito tempo fui a mulher moderna, como manda o figurino. Afogada em cobranças de beleza, trabalho, tempo. Reproduzia discursos que me foram impostos de maneira tão natural, desde criança, que acreditava veementemente que eram discursos meus. Interiorizava muitas das incapacidades impostas por uma sociedade machista e puritana. Sem perceber me espelhava no padrão da mulher de plástico. Quem quiser um bom texto a respeito, dá uma lida nesta publicação da TPM, incrivelmente excelente.
Mesmo passando por transformações imensas durante a gestação, muito ainda precisava ser transformado. E eis que veio o parto. Na hora que eu não esperava, do jeito que eu jamais imaginei que seria. Em meus sonhos meu filho seria aparado por mim, em um parto tisunâmico, quase indolor. Mas eu não estava preparada pra isso. Eu tinha muitas coisas para parir no meu parto, não dava pra sair tudo assim, escorregando feito quiabo. E nas horas que caminhei pela casa, tudo mudava em mim. Mesmo totalmente irracional - e pra parir precisamos mandar a racionalidade pra longe - tudo se transformou. 
Depois de horas de dor, de bolsa rota, de mecônio, eu finalmente consegui por pra fora a fêmea feroz que sempre viveu reprimida em mim. A fêmea que enjaulei quando acreditei nesta sociedade asséptica, limpa, estéril. A fêmea que deixei de alimentar quando acreditei que a feminilidade cabia em saltos altos, pernas depiladas e "roupas sensuais". Mas o parto abriu a jaula. E ela saiu louca. E fizemos as pazes. E senti o cheiro de amor, de ocitocina e de sangue que estava no ar. Cheiro de mim. Descobri a doçura do cheiro de sangue. O sangue que por diversas vezes achei nojento, o líquido que acreditei ser um castigo mensal em minha vida. Não, o parto me mostrou que o sangue é meu e é bom. Aquele instante me faz agradecer diariamente a dádiva de ser mulher.
Parir doeu. Doeu muito. Mas toda a força avassaladora que estava em mim não sairia de maneira delicada. Precisava desta dor. E com a força que fiz, pus pra fora toda desconfiança que eu tinha que meu corpo não conseguiria. Deixei naquela água os medos que me impuseram durante toda a minha vida. Deixei de ser coitada. Saí do raso e fui fundo em mim. Vi muito além do que dizem ser uma mulher. Nesse olho no olho com a fêmea que sou, percebi que o corpo perfeito não cabe em números. Que perfumes não gostosos, mas que meus cheiros também são. Fiz as pazes com minha intuição, com meu poder e com meu sangue.
Inquestionavelmente saí do parto me sentindo poderosa, mais segura. Hoje pouco importa se meu cabelo cacheado não é considerado elegante, se minhas unhas não estão sempre feitas ou se meus sapatos de salto estão guardados em caixas no topo do roupeiro. Não caibo em padrões. Assim que pari olhei para aquele guri gordo e graúdo, respirei fundo e conclui que sou foda - não encontro palavra que consiga descrever melhor a sensação - e essa sensação ninguém consegue me tirar. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Para a patrulha anti-peito

Pra quem não sabe, hoje é o dia mundial da amamentação. Um dia de conscientização, de informação e de luta. Esta semana muitas manifestações serão realizadas pelo País, com o intuito de lembrar às mães e à sociedade o quanto amamentar é importante. Nas bandas de cá, em 6 dias completaremos 12 meses de amamentação. 12 meses de troca, de vínculo fortalecido, de olhares trocados, de amor líquido. Não posso negar, me orgulho demais de estarmos atingindo esta marca. Porque? Porque amamentar no Brasil é pra quem tem raça! Não, não é pra quem tem leite. Sinto informar, mas leite todo mundo tem. O que faltou à mãe que queria amamentar e não conseguiu foi informação e apoio. Pra amamentar não basta querer. 
Se você tem dificuldades com a amamentação, esqueça o chá que sua mãe mandou fazer, a mandinga que a sogra ensinou e, principalmente, o conselho do seu pediatra e/ou ginecologista fofo. Busque a ajuda certa, vá a um banco de leite, procure uma especialista em amamentação, alguém que realmente entenda do assunto. Todo o resto serve apenas para confundir e desencorajar. Mas meu post hoje não é pra explicar sobre a amamentação ou ajudar quem tá começando. Hoje me dirijo a você, que vira o rosto quando vê alguém amamentando em público, que acha um absurdo tirar o peitão na rua. Você que acha imoral amamentar um bebê de dois anos mas não perde uma cena da novela das oito! Você que carinhosamente chamo de patrulha anti-peito! É a você que dedico estas mal traçadas linhas!
Pra começo de conversa, vamos deixar clara a utilidade dos seios femininos. Eu sei que a mídia e a sociedade machista te ensinaram que os seios servem para seduzir e erotizar, mas essa não é exatamente a função principal dos peitões. Sinto muitíssimo te desapontar, mas a não ser que você seja um bebê, os seios não foram feitos para te satisfazer. Como em todos os mamíferos - sim, eu sei que você aprendeu isso na aula de ciências, somos mamíferos - as tetas servem para alimentar a cria. E se é pra isso que eles servem, nada mais justo que os utilizemos para seu devido fim. Então, saco as peitolas em qualquer lugar, a qualquer hora, para alimentar a minha cria. E não vejo motivo para me envergonhar. Se você, de alguma maneira, acredita que uma mulher que amamenta em público está querendo chamar atenção e/ou seduzir quem quer que seja, lembre desta lição. Tetas são para os filhotes. E por mais que você tenha uma mente de filhote, sua fase já passou.
Ah, jamais, nunca, em hipótese alguma, ofereça um paninho para uma mulher cobrir os seios. Você come de cara coberta, cara pálida? Porque acha que o pobre do meu filho vai se sentir mais confortável se alimentando com um pano na cabeça? Você come no banheiro? Então siga a mesma lógica, não espere que uma mulher se sente em um banheiro para alimentar uma criança! Tá vendo como a regrinha de ouro é simples e vale muito? Se coloca no lugar do outro que tudo fica mais fácil. O bebê está se alimentando, recebendo carinho e atenção da mãe. Engraçado que dar uma mamadeira não escandaliza ninguém. Tem algo errado, né não?
Ultimamente começo a sofrer uma pressão que não esperava que acontecesse tão cedo: O desmame. Alguém pode me explicar porque cargas d'agua as pessoas se incomodam tanto com um bebê mamando? Ah, seu pediatra disse que depois de um ano o leite materno não serve para mais nada????? Pois bem, façamos o seguinte, peça que ele estude bastante, faça uma pesquisa séria, publique em uma revista científica bem reconhecida e transforme a asneira que fala em argumento. E chega de mimimi. Ah, tem uma hora que a gente perde a paciência. Depois de quase um ano explicando, conversando e fazendo cara de alface, decidi partir para a grosseria. A teta é minha e o filho é meu. Se tá bom pra gente, ninguém tem nada com isso. Um dia ele para de mamar, na hora dele, no nosso tempo. Não se preocupe, nunca vi menino de 15 anos pendurado no peito da mãe. 
Agora vamos com a tia Elisama fazer um resumo das lições de hoje, repete comigo: " O peito serve para alimentar um filhote, vou deixar de ser machista e burro e respeitar o momento da amamentação. Nunca mais vou dar opiniões enfraquecedoras e desencorajadoras, nem falar do que não entendo. Também não vou oferecer paninhos, torcer a cara ou perguntar quando o bebê vai parar de mamar. O leite materno é saudável, forte e adequado."  Agora vá pro cantinho do pensamento e só saia de lá quando entender que a amamentação alheia não lhe diz respeito. Se não conseguir entender isso, corra para terapia. Só Freud explica.

P.S. O "cantinho do pensamento" é uma forma de educação inapropriada para crianças, utilizei no texto por ser dirigido a adultos. Não apoio nenhum tipo de castigo, nem físico, nem moral.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sobre as birras e frustrações.

A cada dia constato que pari um lindo, genioso e determinado ser. Sabe o que quer, a hora que quer e o jeito que quer. E odeia ser contrariado. Grita, joga as coisas no chão. Berra desesperadamente, fica vermelho. As vezes puxa os cabelos. Diante de cenas como esta, a criatura que eu era enlouqueceria, consideraria uma tremenda afronta e sem dúvida reprimiria o comportamento com um castigo moral e/ou físico. Mas a criatura que hoje sou enxerga a beleza destes momentos. Mesmo as vezes querendo surtar junto, sei que está diante de mim uma demonstração de sentimentos genuína e forte, a frustração. A tal birra, que tanto fazem questão de alarmar e julgar como falta de limites, nada mais é que um ser frustrado exteriorizando toda raiva e desapontamento que sente. Não tem nada a ver com você, não tem a intenção de manipular, de chantagear. Não é o seu filho se enveredando para o lado negro da força. É seu filho sendo um humano que ainda não aprendeu a controlar seus próprios sentimentos. Simples assim.
Como você lida com suas frustrações? De que maneira age quando seus planos saem dos eixos? De que maneira gostaria de agir quando dá tudo errado?  A sensação de frustração é péssima. Mesmo após os vários desapontamentos que acumulamos com os anos, o fracasso continua a doer e desestabilizar. Agora reflita, se já é péssimo para você, adulto, que sabe exatamente o que está acontecendo, porque está sentindo e como resolver - ou não - a situação, imagine para um ser que não faz ideia de como o mundo funciona, que não sabe se expressar com clareza, que não sabe nem organizar as ideias com precisão. Passei a ter um pouco mais de empatia às explosões de raiva do pequeno. Eu iria ficar P da vida se meu marido me tomasse o celular enquanto eu estava usando, principalmente se o fizesse de maneira abrupta. E se me obrigassem a sair de um lugar, no ápice da minha diversão? Com certeza eu não reagiria de maneira branda, amável e pacífica. Agora porque esperamos tanto das crianças? Porque desejamos que tenham atitudes que nós não somos capazes de ter? Porque menosprezamos tão friamente seus sentimentos? Será que não merecem um pouco mais que frases imperativas e olhares repressores?
A maternidade é um aprendizado continuo e tenho crescido com meu filho, diariamente. Aprendi a enxergá-lo como gente e tratá-lo com o mesmo respeito que trato meu marido e as pessoas que amo muito. Se nos colocarmos um pouco no lugar deles, perceberemos que a tal "birra" não foi sem razão. E quando conseguimos enxergar que ali, a nossa frente, está apenas um ser humano com um forte sentimento de frustração,  baixamos a guarda e, com menos raiva ou estresse, nos oferecemos apenas para explicar e consolar. Quando este episódios acontecem aqui em casa, abraço meu filho, o pego no colo e explico porque a mamãe agiu daquela maneria. Falo que também estaria chateada se fosse ele, mas que infelizmente a mamãe não podia fazer diferente. E como faria a um amigo, o consolo. Em poucos instantes, em regra, o nervosismo passa e ele, com o mesmo olhar lindo e doce de sempre, brinca como se nada tivesse acontecido.
Com o desenvolvimento de sua personalidade e autonomia estas situações serão cada vez mais frequentes. Mas não me furto ao meu papel de mentora. Não calo as demonstrações de raiva, o choros de frustração. Não o ensino que deve calar seus sentimentos, mas a lidar com eles. Meu filho precisa saber que todos estes sentimentos são legítimos e humanos.  Estou certa de que será um adulto mais pacífico, seguro e amável que os que vemos por aí. Um homem que conhece seus sentimentos, suas dores e alegrias, sabe vivê-las com plenitude. Não calará suas frustrações, e também não se tornará agressivo por conta delas. Talvez escreva uma música ou uma poesia. Quem sabe pinte um quadro. De uma coisa estou certa, a cada "birra" aprendemos a lidar melhor com nossas dores e frustrações, Ele e eu.

terça-feira, 16 de julho de 2013

E quando você volta a trabalhar?

Ao longo da gestação muitas coisas mudaram em mim. A medida que a barriga crescia algumas convicções se firmavam e se mostravam como escolhas mais adequadas para nós - marido, filho e eu. Destas escolhas, a que mais impacto causou em minha vida foi deixar de trabalhar. Estava acostumada com o ritmo frenético de um escritório de advocacia, com clientes ligando, com prazos findando, com o dinheiro na conta no final do mês.Mas nada disso se mostrava prioridade após a chegada do meu filho, ele não se encaixaria bem nesta rotina. Optamos, então, por me dedicar exclusivamente a ele. E foi aí que descobri como a nossa sociedade está com os valores completamente distorcidos, e como as mulheres não sabem o que é machismo, tão pouco feminismo. Recebo incessantes cobranças de quando voltarei a advogar. Todos, sim, todos que me encontram perguntam quando volto ao batente...e meu filho tem apenas 11 meses. Já ouvi que estou desperdiçando meu tempo, que joguei os 5 anos de faculdade fora e que meu diploma - no caso, minha carteira da OAB - não deve ficar guardada em uma gaveta. E que é importante, para a mulher, que ela não dependa de um centavo sequer do marido.
Nos acostumamos tanto com a figura da mulher-mãe-profissional-esposa que achamos ser este o modelo perfeito. Nos habituamos tanto a babá trocando as fraldas, dando leite na mamadeira e educando nossos filhos que não aceitamos quem sai deste padrão. Pois bem, decidi sim trocar fraldas, amamentar, cozinhar e cuidar do meu filho. Optei por estar presente quando a primeira palavra foi falada, por amparar os primeiros passos. Decidi não assistir, de longe, o desenvolvimento da minha cria, acreditando que quantidade e qualidade de tempo são igualmente importantes.
Desde quando ficar em casa, educando o meu filho, dando-lhe amor, carinho e atenção é desperdício de tempo? Algo está errado em seus conceitos! Criar um ser humano melhor deveria ser a nossa prioridade! Passar ao filho os valores que acreditamos, direcionando num caminho bacana está muito longe de ser improdutivo! Esta juventude vazia, consumista e alienada é fruto de uma sociedade que estimula a tercerização de suas responsabilidades. Decidir trabalhar em home office, mudar o rumo da carreira, foi um decisão consciente e acima de tudo responsável, uma decisão que abraça um conceito de vida que refletirá nas próximas gerações. Os anos de faculdade foram muito importantes e trouxeram uma vivência e experiência que são aproveitados diariamente. É um pensamento muito restrito e limitado acreditar que um diploma te amarra a uma única profissão para sempre, até que a morte os separe. Saber mudar e utilizar o aprendizado em outras realidades é inteligência emocional. 
Mas o argumento que, sem sombra de dúvidas, me tira do sério é que mulher não pode depender de marido. Pra ser respeitada por meu marido preciso dividir com ele as contas da casa? Jura? Tá aí outra demonstração de que falta a quem pensa assim um pouco de raciocínio lógico e inteligência. Não posso falar do casamento alheio, mas no meu o respeito independe de conta bancária ou de trabalho. Nos respeitamos por sermos quem somos e pelo que nos tornamos juntos. Respeitamos nossas escolhas por merecemos respeito, simples assim. Somos companheiros e parceiros, nossas vitórias e derrotas são divididas. Quem paga o aluguel ou a conta do restaurante pouco importa. Portanto, querida amiga-mulher-pseudo feminista, se você realmente acredita que para se fazer respeitar precisa de um contracheque, sinto te informar que você é tão machista quanto quem sonha com Amélia. O direito de escolha é um alicerce da liberdade. Falta-lhe auto-estima e auto-confiança suficientes para sustentar as suas escolhas.
Não posso considerar uma opção fácil, principalmente para quem está acostumada a ter um emprego pra chamar de seu,  mas tem sido gratificante e rico. Jamais imaginaria perder cada descoberta e cada conquista do meu filho. Se um dia abandonarei o projeto da lojinha virtual e voltarei à advocacia? Não sei, não estou nem um pouco preocupada com isso. Pouco me importa a ansiedade alheia. Nas bandas de cá tenho utilizado meu tempo, meus esforços e minhas energias na produção de algo imaterial, impalpável e imensurável: um ser humano mais humano.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu não agradeço as palmadas que levei

Volta e meia vejo um amig@ postando em uma rede social imagens valorizando as palmadas, com dizeres do tipo: "Eu agradeço aos meus pais as surras que levei." Sinto muito, meu querido amigo, se você agradece aos seus pais as palmadas que você levou. Não, eu não agradeço as palmadas que levei. Não agradeço por ter aprendido que a violência é uma forma de linguagem. Não agradeço por ter aprendido que o mais forte pode bater no mais fraco. Não agradeço ter aprendido que, as vezes, a violência é uma forma legítima de amor. Sim, violência. Palmadas e cintadas são violência. Agradeço sim, aos meus pais, pelo carinho e amor que sempre me deram. Pelas várias vezes que se acalmaram e conversaram. Pela preocupação em me manter sempre bem. Pelo colo, pelos beijos, pelos abraços. Por terem acreditado em mim. Agradeço, principalmente, o exemplo que sempre me deram, esse sim, me educou e me moldou. Agradeço ao meu pai por me mostrar que preciso ser determinada, forte e sincera. À minha mãe por me ensinar a ser sempre compreensiva e branda. Inúmeros são os motivos que tenho a agradecer. Mas a palmada não está entre eles.
Meus pais apanharam bastante dos meus avós, tiveram uma criação sem diálogo ou respeito. Pai manda, filho obedece, sem explicações, sem conversa. Aprenderam que a surra educa. Diante da criação que tiveram, fizeram o que acreditavam ser o melhor. Introduziram o diálogo e deixaram a palmada apenas para as situações em que " a conversa não resolvia". Certamente meus avós apanharam ainda mais dos meus bisavós. Mas esse ciclo acabou aqui. Nesta família, a minha geração foi a ultima a ser agredida fisicamente. Meu filho não o será. Não é esta a linguagem que usamos e usaremos em nossa casa. Ele não aprenderá que violência educa. Não aprenderá que encerrado o diálogo a agressão será a única saída. Já acreditei que a palmada é uma forma legítima de educar. Inofensiva. Escondia os reais sentimentos que ela sempre me causou. Aliás, esta é a conduta mais comum em toda vítima de violência. Negar que foi violentado. Negar o medo, o terror, a angústia, a dor. Se culpar. Acreditar que causou a agressão. Meu filho não conhecerá esse sentimento. Não olhará para a porta, ansioso e assustado, enquanto apanha, esperando que alguém chegue e o salve. Agressão física é descontrole. Ele não pagará pelo meu descontrole, não é dele a conta por eu ter pedido a paciência. Se eu perdi a paciência, sou eu quem devo me acalmar e recuperá-la. 
Como ensinarei meu filho a não ameaçar, se sempre o ameaço? Como ensinarei que não deve agredir os coleguinhas e os irmãos se eu o agrido? Como ensinarei que deve buscar sempre o diálogo se eu, adulta, não sou capaz de dialogar? Quando enxergaremos que palmadas são violência? Quando assumiremos, para nós mesmos, que fomos violentados?  Quando choraremos a nossa dor? Quando veremos, nos olhinhos suplicantes do filho agredido o nosso próprio olhar? Quando lembraremos que as surras nos trouxeram apenas medo e angústia, nada mais? Quantas vezes vemos em nós mesmos o comportamento dos nossos pais? Aprendemos mais com os exemplos ou com as agressões?
Te aconselho, caro amiga@ que apenas reproduz um discurso irracional, a parar e pensar. Te aconselho a voltar um pouco à infância e, sem fazer piada ou esconder seu sentimento, pensar em cada vez que levou uma "inofensiva" palmada. Deixar de lado as velhas verdades e sentir suas próprias dores.Verá que jamais aprendeu algo de bom com uma palmada. Que não repetiu o "erro" apenas por medo. Que com a palmada aprendeu apenas a não questionar, a se anular, algumas vezes a mentir. Enxergará que as palmadas refletem até hoje, negativamente, em sua vida. Antes de levantar a mão para o seu filho, lembre do horror que sentia quando via uma mão erguida. Use a mão para acarinhar. Existem maneiras positivas de educar e ensinar. Não é fácil, mas é gratificante. Quebre os ciclos, mude o rumo. Agradeça aos seus pais o que realmente merece agradecimento. Eles com certeza merecem muitos agradecimentos. Meus pais me amaram e amam muito. Buscaram em todo o tempo acertar. Mas erraram, e este erro eu não quero e não vou repetir.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A consciência e a maternidade consciente

Ser mãe é uma delícia, isso é inegável. Não é perfeito, mas nada o é. Vivemos para o filho durante algum tempo, priorizamos seu bem estar, sua saúde física e emocional, abrimos mão de muito do que fomos para melhor atender as demandas destes pequenos seres que chegam transformando nossas vidas. Abdicamos de nós mesmas, diariamente. Já escrevi aqui sobre o mito da mãe 100% feliz, satisfeita e realizada. Mas até que ponto temos que abdicar de nós mesmas? Até que ponto é saudável para nós - e para eles - que esqueçamos de nossas necessidades? E quando o maternar de forma consciente passa a ser uma obsessão irracional, que escraviza e oprime tanto quanto o "todo mundo faz"? 
Participo de muitas discussões, a maioria on line, em redes sociais, sobre a maternidade ativa e consciente e tenho percebido que criou-se uma padrão de comportamento, pré-requisitos que devem ser preenchidos para que uma mãe possa ser bem vista e benquista. Importante parir em casa, deixar o emprego para ser mãe em tempo integral, só comer orgânicos e eliminar por completo a vida social nos primeiros anos de vida do baby. Cinema, nem no CineMaterna. Pecado mortal deixar o filho com a avó para ir ao salão fazer a unha ou simplesmente para dormir um pouco e descansar. Todas estão sempre vigiando, de olhos vívidos e ouvidos apurados, prontas para criticar qualquer comportamento fora do padrão. E assim, buscando fugir de um mundo alienado, caímos em outro. Não me entendam mal, não estou aqui defendendo as cesáreas eletivas ou a terceirização da educação. Jamais. Mas acredito que maternar de forma consciente exige consciência em cada decisão, não um padrão pré-estabelecido no qual não se pode questionar, duvidar ou escolher um caminho diferente. 
Logo após o nascimento do meu filho, na ânsia de fugir do senso comum, busquei seguir o caminho oposto. Hoje passados quase 11 meses, tenho percebido que ser consciente não é apenas agir de maneira diferente. Não vejo diferença entre a mãe que dá mamadeira porque todo mundo dá da mãe que amamenta porque lhe falaram que deveria. Ambas agem sem consciência. Ambas terceirizam suas escolhas. Ambas seguem cartilhas. Ser consciente não é isso. A maternidade consciente não nos tira o direito  a escolha, muito pelo contrário, ela nos abre um leque de opções. Ela nos mostra que não temos obrigação de agir desta ou daquela forma. Ela amplia os horizontes. De posse de muita informação podemos eleger a melhor escolha. Normalmente busco as evidências cientificas quando preciso decidir algo em relação ao meu filho. Leio, pesquiso, me informo. Mas nenhuma leitura me vincula, nenhum método me aprisiona. Por diversas vezes agi  de maneira diversa da "cartilha". Já contrariei orientações dadas pela OMS. Mas o fiz de maneira consciente. Fiz conhecendo o risco das minhas escolhas, assumindo as consequências, os eventuais danos. É   esta clareza que nos difere de quem simplesmente segue a manada, sem nada questionar. A capacidade de entender, conhecer e assumir os riscos de cada escolha.
Neste primeiros meses de vida, quase que primeiro ano, meu filho não ficou longe de mim por mais de 2 horas, mesmo nestas situações, o longe era ali, na esquina. Todas as ocasiões que saí, o levei comigo. Saí muito pouco, em comparação com a vida antes de sua chegada. Mas esta escolha não me oprimiu. Não tenho sofrido com minhas decisões. E, caso perceba que minhas escolhas estão causando dores além das normais, irei rever meus conceitos. Simples assim, sem qualquer culpa. Percebi que preciso, além de atender as necessidades do meu filho, atender também as minhas. Não uso chupeta, mas por diversas vezes coloquei meu filho no peito porque precisava que se aquietasse, e não vejo motivo de me sentir mal com isso. Já fingi estar dormindo pra ver se ele dormia também. Não deixei de assistir aos seriados que gosto, mesmo quando Miguel está acordado. Continuo comendo pão, brigadeiro e pizza, enquanto ofereço uma fruta para ele. Lanchamos frutas e comidas saudáveis juntos, mas percebi que gosto de determinados alimentos e decidimos - marido e eu - não abrir mão. Mudei muita coisa em minha vida. Coisas que jamais imaginei que mudaríamos. Mas deixei um pouco de mim inteiro. 
Talvez seja chegado o momento de rever nossos conceitos e decisões. Quantos deles são realmente nossos? Quantos nos oprimem porque fogem da nossa vida, da nossa realidade? Sigo buscando cada vez mais consciência e ciência nos meus caminhos, cuidando para que o afã de fugir de uma manada não me empurre, cega e alienada, para outra. Conscientemente livre.



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Carta a uma amiga grávida

Querida amiga,

Não tenho a pretensão, com esta carta, de te preparar para o turbilhão de emoções e mudanças que estão por vir. Não se engane, você jamais estará preparada. Então, sente e respire. Relaxe. A gravidez recém descoberta passará mais rápido do que você imagina. Em poucos meses o bebê que hoje é só uma manchinha no ultrassom estará em seus braços, te olhando fixo e revirando sua vida pelo avesso. Os dias passarão acelerados, curta a gestação, você sentirá saudades imensas dela. Lembro que, logo quando descobri a gravidez, torcia para que o tão sonhado dia do parto chegasse...mais pro final, torcia para que a gestação não acabasse nunca. Sei que você ouvirá um milhão de opiniões e absurdos sobre a gravidez, mas quem te fala aqui é uma apaixonada pela barriga. Uma maluca que se sentiu tão linda e fêmea com a gravidez que desejava passar um ano grávida. Não é romantismo. Senti dores, incômodos. Uma azia que  me queimava por dentro e me dava a clara sensação de que o pequeno estava acendendo uma fogueira ou soltando fogos! Mastigava gelo como se fosse chicletes. Mas se ter um filho fosse só a gravidez, eu já estaria com o segundinho aqui, crescendo em mim. Acredite quando falo que você sentirá saudades da barriga. Você jamais olhará uma gravida com os mesmo olhos de antes da gestação. Aliás, vale te informar, você jamais olhará o mundo com os mesmo olhos de antes da gestação. Tudo muda. Se permita mudar. Não lute, não evite o inevitável. Esta mudança é necessária. Deixe que, nestes meses que se seguem, cresçam seu filho e seu novo eu. Quando engravidei, achava fraldas de pano um retrocesso, acreditava que amamentaria apenas por 6 meses, via na surra uma forma de educar - talvez a única e pregava a eficácia de deixar chorar(oh, God, que vergonha). Eis que eu, que sempre fui uma mulher altamente consumista e "moderna" me tornei uma "índia". E tenho que confessar, me orgulho muito de me permitir transformar e mudar. A gravidez foi um divisor de águas na minha existência. Deixe que o seja na sua também. Esqueça o que todo mundo faz, o caminho mais largo. Trilhe sua própria trilha.
Não posso deixar de falar: gravidez não é doença. É saúde. Muita saúde. Saúde para dois. É o ápice, o auge. É a fêmea na plenitude de seus instintos. Se permita ser fêmea. Se permita se animalizar. Permita que seu instinto te guie. Aproveite as sensações aguçadas e maximizadas pela gravidez. Sinta os cheiros, abuse do paladar apurado. Respeite as ânsias, as dores, os enjoos. Se sinta linda. Se veja linda. Você está linda, e ficará cada dia mais bela. As curvas que a gravidez te dará te embelezarão ainda mais. Cuide do ganho de peso, da pele, da alimentação, mas não se apavore com isso. Cada marca que ficará te fará lembrar de dias felizes. Ainda me emociono com cada fotografia minha grávida. Aquele brilho nos olhos foi único. O brilho de carregar um novo ser. 
Você sentirá algo imensamente privilegiado: os movimentos do seu filho. As tremidinhas iniciais se tornarão chutes fortes e vigorosos. O primeiro movimento é indescritível, único, mágico. Quando senti o primeiro chute, estávamos lá pelas 18 semanas, uma lágrima de emoção escorreu. Seguida de várias outras. Daí por diante os chutes e movimentos se tornaram as respostas às longas e intermináveis conversas que tínhamos.Ah, as lágrimas. Estas se tornarão companheiras. Ora de alegria, ora de medo, ora de dor. Acostume-se a chorar. A se emocionar. Chorei algumas vezes em propagandas de Tv. Chorei ouvindo música. Chorava ao ouvir o coração do meu pequeno. A gravidez nos deixa absolutamente sensíveis. E essa sensibilidade é o que nos faz entender as necessidades de um ser que não fala e que se comunica, muitas vezes, apenas com o olhar. Mas não se engane, junto a essa sensibilidade, nasce uma força sobrenatural. Você virará uma leoa. Uma fêmea brava e feroz. Você descobrirá que seus limites vão muito além do que conhecia. Se respeitará mais. Se amará mais. Se conhecerá. O mundo não será um mar de rosas. Você sentirá uma dor tão profunda que jamais imaginou sentir. Sentirá vontade de fugir, de sumir, de desaparecer. E quem sabe um dia aprenderá a conviver com essa dualidade de sentimentos que um filho traz.
Não posso deixar de aconselhar que lute pelo parto. Lute. Se esforce, corra se preciso. Fuja dos médicos que desencorajam, do sistema que enfraquece, do capitalismo voraz que nos reduz a nada. Não se permita violentar. Parir é importante. Lutei firmemente e me sinto feliz por ter vencido a guerra. Colocar seu filho no mundo, você mesma, é mágico. Exija respeito. Se informe, leia, estude. Não entregue sua gravidez ao médico, não confie no sistema, não seja coadjuvante do seu parto. Assuma o protagonismo da gestação e do parto. Não seja uma paciente. Não, não na gravidez, não no parto. Assuma as rédeas e confie em seu corpo. Esqueça os úteros hostis e os cordões assassinos. Não há lugar mais seguro, para seu filho, que dentro de você. Seu útero foi projetado para acolher. Seu corpo foi feito perfeito para parir. 
Vou ficando por aqui. Falar de gravidez me faz render o assunto. Espero, sinceramente, que você consiga viver a beleza de engravidar. Que você consiga se reconhecer linda. Que você consiga se entregar de corpo e alma. Que você consiga respeitar seu corpo e seu momento. Que você se permita metamorfosear e renascer. Viva com paixão. 

Um beijo 


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um papo sobre a manha

Sou uma pessoa muito educada. Costumo conversar com as pessoas, ouvir e responder educadamente. Mas tem coisa que me faz perder a paciência, as estribeiras, a educação, o bom humor. Das muitas coisas que me irritam, a que encabeça a lista do top 5 é que bebê faz manha. Ah, dá vontade de virar as costas e deixar a pessoa vomitando besteira sozinha. Minto, dá vontade de mandar pra um lugar bem bonito e fofinho. Só que não. Já parou pra procurar o significado de manha no dicionário, cara pálida? Você realmente acredita que um bebê, que não sabe satisfazer suas necessidades mais básicas e primitivas sozinho, consegue ser astuto e ardiloso? Jura? Do fundo do coração? 
Acreditar na manha é, no mínimo, ilógico. Um bebê que acabou de sair da barriga da mãe,que não faz ideia de como o mundo funciona, nem mesmo de quem ele é, que precisa que lhe limpem a bunda suja, alimentem e vistam é obviamente incapaz de ser ardiloso. De maquinar qualquer coisa que seja. Incapaz. Não possui capacidade neurológica ou emocional para isso. Não precisa ser um neurocientista pra saber, qualquer um que pare dois segundos para ligar os pontos consegue enxergar. 
Bebês são seres dependentes. E são dependentes não apenas física, mas emocionalmente. Precisam de nós para que construam sua própria identidade e visão de mundo. Precisam de apoio emocional, carinho, chamego. Opa, mas quem não precisa? Amo dengo, amo carinho e tem dia, que se eu pudesse, ficaria abraçada com o marido, deitada na cama, vendo um filminho e jogando conversa fora. Ok, normalmente estes dias ficam apenas na vontade. Porque sei que temos que trabalhar, porque temos nossas atividades e porque ainda não viramos hippies  - mas tenho cogitado bastante a ideia. Pois bem, se eu, pessoa adulta, amo um carinho, imagine uma criancinha que acabou de chegar nesse mundo e nem faz ideia que existem necessidades emocionais e necessidades físicas? Tudo é fome, tudo dói, tudo precisa ser atendido. A fome do peito dói como a fome de amor, de carinho, de aconchego. Ninguém explicou aos bebês que no mundo invertido dos adultos as necessidades emocionais são desprezadas. Eles ainda não sabem que calamos os nossos gritos por atenção, que nos acostumamos a dor da solidão. Ainda não aprenderam a se reprimir. Ainda não embruteceram. Então choram pelo colo, pelo carinho pela atenção. Choram como as vezes queremos chorar pedindo que nos abracem, pedindo um ombro amigo. 
Alguém vive só de comida? Você não precisa de nada além de roupas limpas e comida na mesa? Nada mesmo? Não precisa ligar pra um amigo, falar com o namorado, tomar um chop com a galera? Não precisa de abraço apertado, de beijo demorado e de cafuné? E porque temos que acreditar que bebês precisam apenas de limpeza e comida? Até nosso animalzinho de estimação recebe um carinho na barriguinha, além da ração e do cantinho pra dormir. Não faço ideia de quem iniciou essa conversa de manha, mas posso afirmar que, além de muito egoísta, esse ser era muito infeliz. Porque quem recebe dengo gosta de dar. Quem tá feliz de verdade, gosta de fazer feliz. Quem curte o aconchego de um abraço, gosta de abrir os braços pra aconchegar. 
Pra você, que acredita que criança faz manha, aconselho que deixe de se reprimir. Curta mais abraços apertados. Curta mais beijos longos, daqueles que fazem nossa alma se sentir beijada. Durma de conchinha. Peça um cafuné, aquele carinho de levinho na cabeça, que faz a gente amolecer e dormir. Receba mais cheirinho no cangote. Depois de doses cavalares de carinho e dengo, você entenderá que a necessidade de aconchego é tão importante quanto a necessidade de comida. Que a falta de carinho não mata fisicamente, mas mata a alma e nos põe em um estado vegetativo. Ah, você vai saber que um carinho bem feito faz a vida valer a pena. E vai entender que a criança que chora por aconchego sabe que solidão dói no estômago como a fome. Quem sabe assim seus dias se tornem menos amargos. Acredito verdadeiramente que se alimentarmos esta fome de amor, e ensinarmos aos pequenos que as necessidades emocionais também precisam ser atendidas e supridas, o mundo um dia será um lugar bacana de se viver. Tenho esperança. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Mãe também é gente.

O dia das mães está chegando. Muita propaganda linda, muita homenagem emocionante. Em diversas delas, esqueço todo o consumismo que ronda o dia e me sinto verdadeiramente prestigiada. A gente merece. Mas merece muito. Já escrevi aqui que tem dia que a gente sente vontade de fugir, correr pra bem longe e não voltar nunca mais. Exatamente por esses dias que tenho visto a maternidade com menos romantismo. Tem frase e propaganda que vejo que tenho vontade de gargalhar. "Ser mãe é viver em eterno estado de graça." Jura???? Amiga, tenho certeza que você não é mãe. Por diversos momentos meu estado emocional está muito longe da graça, chega a beirar o outro extremo. 
Acho uma tremenda injustiça essa idealização da mãe perfeita, linda, sorridente e feliz. Essa fantasia de que somos satisfeitas e dedicadas em todo o tempo só faz com que acumulemos frustrações. Jamais alcançaremos essa constante felicidade que nos empurram como uma obrigação diária. Nada nesta vida traz só alegria. Um filho não é uma exceção. Então, se você acredita que sua vida pós maternidade será uma propaganda de margarina, meus pêsames. A realidade irá lhe frustar fortemente. E você se sentirá culpada diariamente por ter sentimentos que alguém lhe disse que nenhuma mãe tem. 
Tem dia que ser mãe é bem fácil. Tem dia que acordar de madrugada pra amamentar é um prazer. Que brincar o dia inteiro com o filho faz tudo valer a pena. Dias que somos genuinamente felizes e satisfeitas, gozando de um amor tão descomunal que não parece possível.Mas tem dia...hum...tem dia que o conto de fadas parece um pesadelo. Tem dia que o choro do seu filho ecoa de uma maneira tão estridente e irritante que você tem que contar até um milhão pra se acalmar. Tem dia que o cansaço é tão grande que levantar na madrugada é um sacrifício enorme, que só de ouvir o bebê reclamar dá vontade de fugir. Já acordei o marido e pedi que pegasse meu filho, pra que eu pudesse sair do quarto, respirar, tomar um ar e voltar, mais calma e tranquila, porque a vontade era de fazer uma besteira.
Mas antes que me julguem uma péssima mãe, digo que, com muita segurança, me considero uma excelente mãe. Sem culpa. Apesar de todas as vezes que senti uma vontade imensa de deixar meu filho chorando desamparado, eu o tomei em meu colo e o acalmei. Apesar de todas as noites que tive uma enorme vontade  de enfiar um calmante na garganta do pequeno - e na minha - eu levantei de hora em hora durante a madrugada para amamentar e ninar. As poucas vezes que falei algo que não deveria, em um momento de extremo estresse, pedi perdão, abracei ele e expliquei que mamãe é humana. Demorei um pouco para perceber, mas todas as vezes que senti ódio do meu filho, fui humana. Não sou super nada. Não desejo ser super nada. Já senti raiva da minha mãe, do meu pai, do meu marido. Então, nada mais humano que vez ou outra sentir raiva do filho, da maternidade, da vida. Sentimentos negativos fazem parte da vida, fazem parte de todas as relações. E em uma relação tão forte e simbiótica,os sentimentos são fortes e exagerados.
Nesse dia das mães que se aproxima, desejo apenas que idealizemos menos a figura materna. Que sejamos mais compreensivos. Mães também são gente. Não estamos no pedestal. Me doou inteiramente, vivo negando a minha vontade para pôr o bem do meu filho em primeiro lugar, mas isso não é fácil. E nem todas as vezes que abdiquei de minha vontade ou adiei um sonho, o fiz sorrindo. Nem todas as fraldas foram trocadas com satisfação. Nem todas as vezes que o ninei, e nino, o faço cheia de prazer. Nem todas os meus olhares para o meu filho transbordaram o mais puro amor. E não tenho a ilusão de que isso vá mudar. Porque esta dualidade de sentimentos faz parte da vida. Portanto, aceitando minha condição humana, sei que a maternidade me trará vários sentimentos que não constarão no cartão de dia das mães. Nem na propaganda da Natura - linda, por sinal. E que nenhum destes sentimentos abalarão o amor que sinto. Se deixaria de ser mãe após tantas descobertas? Jamais. Saber que venço meus piores instintos por meu filho me mostra que mereço ser homenageada. Não por ser perfeita, não por ser uma super mãe, não por ser feliz e dedicada com tudo. Mas por ser feliz e dedicada apesar de tudo. 



sexta-feira, 3 de maio de 2013

Mãezinha? Eu? Desculpe, dotô, mas a fêmea aqui tem nome!

Sentada, amamentando meu pequeno, encosta uma mulher com sua filha de 1 ano e 9 meses. Papo vai, papo vem...
- Ele AINDA mama, não é?
- É sim, e vai mamar até quando quiser.
- Ela AINDA mama também. 
- Que ótimo! A amamentação é excelente e deve ser mantida pelo menos nos primeiros 2 anos de vida.
- Ah, não, o pediatra me disse que depois de 1 ano o leite é igual a água, não serve para nada.
Respiro fundo, muito fundo. 
- Não acredite em tudo que pediatra diz. A organização mundial de saúde e as evidências científicas orientam de maneira completamente diferente. Pediatra fala muita besteira.
Recebo um olhar que mistura indignação, incredulidade e repugnância. Juro que parecia que tinha xingado Jesus, cuspido no papa ou feito uma minissaia com o santo sudário. Encerrei o assunto em mais poucas palavras, sobre o tempo e o mar, pedi licença e saí. Difícil lidar com a santidade do "dotô". Canso de ouvir: "o médico proibiu ele de comer isso", "o médico me proibiu de usar aquilo". Que pena que seu pediatra te faz proibições. Aqui ninguém tem esse poder. Não há médico que me proíba de comer, beber ou fazer algo, muito menos ao meu filho. Não é essa a função do médico, não é essa a importância que lhe dou.
Vamos ao pediatra bem pouco. Abrimos mão das consultas mensais e vamos sem uma periodicidade regular. O pediatra que nos acompanha, apesar de não ser exatamente da linha que gostaria, não me trata como mãezinha. Discute, conversa, explica, e sabe que sigo o que acredito, independente da opinião que ele me dá. Não faço ideia do que ele pensa sobre amamentação, introdução alimentar ou sobre o choro desamparado. Não tenho o número do celular, ou da residência. Meu filho não é pesado, nem medido todos os meses. Assim seguimos felizes, tranquilos e saudáveis. Mas principalmente, assim seguimos donos de nós mesmos.
Creio que essa dependência da opinião do médico seja uma coisa recente. Não vou me aprofundar neste texto sobre o que penso sobre o controle que hoje é exercido pela medicina na sociedade, com a proliferação da cultura do medo. Quero apenas chamar a atenção para o quanto deixamos que o pediatra determine a forma que vamos educar, amar e cuidar das nossas crias. Permitimos que nos digam a hora e a forma de amamentar. Permitimos que enfraqueçam nossa fé em nós mesmas. Seguimos orientações estapafúrdias. Acreditamos no leite fraco, no bebê manhoso, e na nossa incapacidade de cuidar da nossa cria. Discutimos com o médico a marca da fralda, o lugar que o bebê dorme, a rotina da família. Abrimos a porta de nossas vidas para esse estranho, lhe entregamos o leme e deixamos que guie a embarcação. 
Não seria a hora de retomarmos a direção de nossas vidas, e, principalmente, da criação de nossos filhos? Acredite, ninguém nesse mundo sabe cuidar do seu filho melhor que você. Ninguém cuida do meu filho melhor que eu. Ninguém o entende como eu. Porque ninguém possui a nossa ligação física, emocional e espiritual. Se nos aquietarmos e escutarmos os nossos corações, saberemos exatamente o que fazer. Não precisamos da permissão do pediatra, nem da opinião da mãe, da sogra ou da vizinha. Para termos filhos seguros e saudáveis, precisamos da segurança que somente um encontro profundo com nós mesmas traz.Por isso, mães, se empoderem. Esqueçam a mãezinha, infantilizada e sem nome que senta ansiosa mês a mês no consultório pediátrico. Se entreguem à maternidade de corpo e alma. Encontrem o instinto da fêmea parida. Se animalizem. Se nos conectarmos melhor com nossos instintos, nos conectaremos melhor com nós mesmas, consequentemente, com nossas crias. 
Costumo seguir as evidências científicas em relação às decisões que tomo. Estudo, pesquiso, me informo. Mas no final das contas, nem as evidências, nem o pediatra determinam o meu caminho. Estudo para que minhas decisões sejam conscientes. É o instinto que me mostra o melhor. É a fêmea, loba e feroz, que fareja a trilha devida. A maternidade, para que seja vivida com consciência e intensidade, precisa de entrega. Pra nos entregarmos precisamos nos livrar das amarras. Livrem-se dessa necessidade opressiva de pediatra. Reservem para o este profissional um papel secundário. Não deixem que protagonizem um papel que é nosso, de mães. Livrem-se da opinião infundada da vizinha, da sogra, da mãe. Escutem mais a voz interior que nos diz o que fazer e como agir. Silenciem as demais vozes. Mais uma vez digo: Empoderem-se. Acreditem no poder da maternidade, do amor, do colo, do peito. Acreditem na sabedoria dos nossos corpos, dos corpos de nossas crias, e da natureza.Somos treinadas naturalmente para cuidarmos dos nossos filhos. A humanidade sobreviveu e multiplicou-se durante anos e anos. A pediatria é uma ciência recente, se comparada aos nossos anos de existência neste mundo. Não somos diferentes das nossas ancestrais, não viemos com "defeito de fábrica." Acreditem, sabemos gestar, sabemos parir e sabemos criar. Se seu médico te faz pensar o contrário, mude de médico.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ser mãe dói.

Existem coisas que só descobrimos após a maternidade. Existem sentimentos que são despertados apenas após o nascimento de um filho. Ouvimos todo o tempo que a maternidade nos traz um amor sem medida, sem precedentes, incomparável. Esquecem-se, no entanto, de nos avisar que esse amor vem de mãos dadas com uma dor também incomparável. Uma dor, que assim como o amor, não tem medida, não tem precedentes. Ser mãe dói. Muito. Nos mostra o tamanho da nossa impotência, da nossa pequenez. Faz doer a alma. Uma dor tão forte que a sentimos em nossos corpos, no vazio que dá no estômago, no aperto sufocante no coração. E ninguém nos prepara para isso.
Esses dias um amigo foi baleado, na porta de casa, em frente à filha pequena, em uma tentativa de assalto.Quando recebi a notícia, minhas pernas tremeram. Ele estava bem, fora de perigo. Mas a dor que senti não foi por ele. Senti o chão se abrir, o estômago doer de uma fome de força, o coração ser espremido pelo corpo que parecia se encolher. E se fosse eu? E se meu filho tivesse visto uma cena dessas? Chorei pela dor que ele sentiria. Chorei por não poder protegê-lo. Chorei por ter certeza que o futuro - nem o dele, nem o meu - não pertence a mim. Senti o peso da minha impotência. Só sabe essa dor quem é mãe.Percebi, naquela hora, que o meu melhor não é garantia de absolutamente nada. E isso dói.
Depois do nascimento do pequeno, não vejo mais jornal. Quando vejo, se começa uma notícia, dessas trágicas que vemos tanto, mudo de canal. Choro junto quando vejo uma mãe perder um filho. Acho que temos, todas, uma solidariedade materna, uma ligação. Só nós podemos imaginar a dor de outra mãe. Porque é uma dor única. Não importam nossas crenças, nossas verdades. Um amor tão grande tem seus efeitos colaterais. Uma dor permanente, ora grande, ora pequena. Mas sempre ali. Escondida, as vezes, mas presente. A dor de ter o coração pulsando fora de nós mesmas. A dor de ter um pedaço desmembrado.
Meu filho nunca ficou doente. Estamos com 8 meses e, até hoje, teve apenas um leve resfriado, quando o pai eu tivemos também. Mas nas poucas vezes que chora de dor, porque caiu ou por um dente, essa dor dói em mim. Já pedi a Deus, com minha cria em prantos nos braços, que a dor fosse transferida a mim. Eu sentiria toda dor do mundo para vê-lo sempre em paz. Eu queria sentir a dor dos dentes nascendo - no momento, quatro ao mesmo tempo - para que pra ele ficasse apenas a alegria do sorriso. Mas é aí que a nossa dor aumenta. Não podemos fazer nada. Não podemos transferir para nós aquela dor. Não podemos arrancá-la deles. Não poderemos evitar seus sofrimentos, nem presentes, nem futuros. Eles sofrerão, adoecerão, chorarão. E nosso amor, tão grande que é, não é capaz de impedir que aconteça.
Olho para o sorriso do meu filho, tão puro, tão verdadeiro, tão singelo. Queria mantê-lo sempre assim. Dói imaginar que passará por dores que já passei, e por outras que talvez eu nem conheça. Durmo e acordo rogando por saúde e vida. Porque depois que o filho nasce, a gente perde o direito de morrer. Porque eles precisam de nós. Porque esse serzinho tão indefeso precisa que eu lhe pegue nos braços, e, como leoa, o defenda do que posso defender. Do pouco que posso defender. 
Acho que com o tempo aprendemos a lidar com essa dor. Sou uma mãe-bebê, pra mim, ela ainda é muito forte. Cada vez que o vejo feliz, sorrindo, crescendo, ganhando espaço e independência sinto a dorzinha me espreitando, me olhando de canto e mostrando que mesmo nestes momentos ela ainda está lá. Talvez o equilíbrio esteja em tornar-se amiga desta dor que nos acompanhará até o fim de nossos dias. O equilíbrio que nos torna capazes de deixá-los arriscar, quando a vontade é proteger. De deixar ir, quando a vontade é pedir que fique. O equilíbrio de incentivar a coragem, quando estamos internamente tremendo de medo. Abraçar a dor que o amor trouxe, olhar nos olhos dela e dizer que aceitamos a sua presença. A aceitamos como efeito colateral de algo muito maior e sublime. Mesmo com coração apertado e o vazio no estômago incentivaremos os vôos altos, as conquistas difíceis, as viagens longas e os sonhos impossíveis. Incentivaremos os passos largos, as caminhadas incertas e os amores eternos. Incentivaremos a ida, deixando claro que sempre haverá para onde voltar. Os ombros que suportam com firmeza o peso dessa dor de amor estarão sempre fortes para consolar o choro das inevitáveis quedas. Mesmo com voz engasgada, com coração apertado e a mente cheia de medos, faremos a promessa que jamais teremos a certeza de que iremos cumprir: "Vem filho, vai ficar tudo bem."

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Hitler nasceu bom


"Sabem o que fez o Joca? Cortou ao meio a minhoca!/ - Joca, como és tão malvado!/O papai disse indignado./E a mamãe, toda enojada:/- Ai! Mataste a coitada!/Mas responde alegre o Joca:/- Só fiz bem para a minhoca!/Ela estava tão sozinha,/Pobre e triste minhoquinha!/De uma só eu fiz um par: Duas já podem brincar, /Já se fazem companhia/E rebolam de alegria!/ - Diga - isso foi, ou não,O tipo da boa ação?"
Tatiana Belinky. 

O poema acima está, em forma de canção, em um Cd que ganhamos esses dias. Tic Tic Tati. Depois de ouvir a música, me pus a pensar em como somos injustos com as crianças. Não preparamos o mundo para recebê-los e não os preparamos para o mundo. Reclamos, brigamos, tolimos. Enquadramos suas atitudes em nossas próprias percepções e vivências e esquecemos que são apenas crianças, inocentes, movidas por um incansável instinto curioso e verdadeiro. Esquecemos que não são mini adultos. Já me peguei chamando o pequeno de malvado, quando puxa com força o rabo de um dos gatos. Coitado, não sabe o que é maldade. Não sabe que aquele treco peludo que está no chão é um gato.Não sabe que gatos sentem dor. Não sabe o tamanho da força que tem. Tenho me policiado para não chamá-lo assim. Crianças são boas. São honestas e verdadeiras. Ah, se fossemos um pouquinho como eles.
Acredito verdadeiramente que todas as vezes que nos descontrolamos com as crianças é porque nos falta compreensão. Paciência e compreensão.Nos falta a capacidade de enxergá-las como seres humanos, recém chegados ao mundo.Digo que falta que os enxerguemos como seres humanos porque enxergamos nossos filhos como nossa propriedade. São nossos. Não perguntamos sua opinião, não queremos entender suas motivações, não respeitamos suas vontades. Almejamos uma obediência cega. Queremos adestrá-los. Não quero que compreendam o que falo como permissividade. Criança precisa sim que direcionemos suas energias, que expliquemos que todas as suas atitudes tem consequências. Que lhes ajudemos a caminhar nestas tão tortuosas trilhas. Sim, ajudar, direcionar, compreender. Vejo pais orgulhosos em dizer que seus filhos obedecem com um olhar, mortos de medo. Posso estar enganada, mas o medo não é um bom alicerce para nenhuma relação. Não tenho a mínima intenção que meu filho tenha medo de mim. Desejo respeito, e o ensino a me respeitar respeitando-o todos os dias. Baseio nossa relação no amor. Deixo o medo para o mundo lá fora, esse já está assustador o bastante.
 Nas situações que tenho em minha mente, da minha infância, todas as vezes que me pus em perigo, que me machuquei ou desobedeci, estava bem intencionada. Nunca, enquanto criança, agi com o intuito de afrontar meus pais, ou qualquer outro adulto. Quando esquecemos que éramos bons? Que adquirimos, ao passar dos dias, os sentimentos e intenções ruins que carregamos em nós? Certa feita, conversando com uma pessoa querida, mãe de três filhos, ouvi que tinha que ter cuidado para não ser manipulada pela criança, à época, falávamos de um bebê  de dois anos(sim, para mim é um bebê). Uma criança de 2 anos não tem construções neurológicas suficientes para manipular. Ela não tem vivência suficiente para isso. Não  possui maturidade para tanto. Antes de perder a paciência e partir para a agressão física, lembre que crianças não são como nós. Não viveram tantos anos, não choraram nossas lágrimas e não riram nossos sorrisos.Não carregam nossas cargas emocionais. Não utilize as suas medidas para mensurar a vontade de uma criança, nós perdemos a pureza, nossas medidas não lhes cabem.
Acredite, Hitler não nasceu mau. Ele nasceu bom, como todas as crianças. O adulto que se tornou foi moldado pelas experiências que vieram ao longo de sua existência. Ao nascer ele era bom, como você e eu fomos. Lembre sempre, ao olhar o seu filho, que ele é um ser melhor que você. Que ele não sente inveja, que não dissimula, que não maltrata. Converse mais, compreenda mais, tente olhar o mundo pelos olhos deste serzinho que lhe presenteia com lições de bondade e fraternidade. Alcançar a lógica ilógica da criança nos fará lembrar que também já fomos puros. Quem sabe este exercício diário não desperta em nós um pouco da inocência perdida? Vale tentar.



terça-feira, 2 de abril de 2013

E porque não falar dos espinhos? ou Quem nunca?

Como boa nordestina, vou começar o post com um ditado que traduz com perfeição a difícil tarefa de educar um filho: " Rapadura é doce, mas não é mole não!". Ah, mas não é mole mesmo! Sempre escrevo sobre maternidade como uma paixão, algo lindo e inigualável. Não é mentira, nem exagero. A maternidade é mágica, fantástica e blábláblá. Mas tem espinhos, e muitos. E tem dias que a gente quer fugir, voltar a fita, sair correndo como uma louca sem nem olhar pra trás. Ah, amiga, tem dias desses sim, e isso não mede o tamanho do seu amor ou a sua qualidade como mãe. Portanto, se você acha que suas flores virão sem espinhos, e pretende manter viva esta ilusão, para por aqui mesmo. Tem muito texto apaixonado aqui no blog, esse aqui fala dos espinhos, e das coisas que ninguém conta.
Pois bem, lá vamos nós. Assim que meu filho nasceu, o peguei nos braços, babei, achei lindo, maravilhoso, mas aquele amor de tirar o chão não veio assim, no primeiro olhar. Hoje o amo mais que no dia do nascimento. Acho que cresce um pouco mais a cada dia, ainda bem, já que o trabalho também cresce consideravelmente a cada habilidade adquirida. Sinto que estou jogando um vídeo game, daqueles bem difíceis, e a cada fase que finalmente consigo vencer, avanço para uma mais complicada. E haja estudo, paciência e amor. Pra piorar um pouco mais, a cada mês acumulo mais horas de sono perdidas, mais dor na  coluna  e menos tempo para mim. Sim, sim, horas de sono perdidas, muitas delas. Ouvi de muita gente que o filho dormia bem, a noite inteira, e me iludi que isso aconteceria aqui em casa. Juro que fico puta da vida quando alguém me diz que o filho nunca acordou de madrugada. Na boa, ou a pessoa sofre de uma bela de uma amnésia, aquela memória seletiva que apaga os momentos ruins, ou é um ser sádico com vontade de ver nosso olhar de "porque comigo, meu Deus?".Converso com muitas mães com bebês de uma idade semelhante à do meu filho, e todos, TODOS os bebês acordam algumas vezes durante a madrugada. Quando ele acorda uma única vez, mama e dorme novamente, fica tudo lindo. O problema é quando acorda, faz cocô e quer comemorar o feito. Ou quando quer mostrar a mais nova habilidade, ou treinar as várias entonações do ba-bá,dá-dá,má-má,pá-pá. Aí você pede pelo amor de Deus que ele durma, explica pela milésima vez, no escuro da noite, que mamãe está cansada, que precisa dormir. Os olhos ardem, a cabeça dói. Mas os grandes olhinhos brilham e não dão a mínima para a sua súplica. Desesperada você desiste e coloca a criaturinha no berço, no meu caso ao lado da minha cama, esperando que durma sozinho - doce ilusão. Mas a cabeça de mãe neurótica não consegue parar, a cria começa a conversar cada vez mais alto, a cada segundo mais esperta e você percebe a merda que fez. Promete a si mesma, no momento de desespero, que ao amanhecer vai comprar uma chupeta. E que a noite vai dar um mingau bem grosso e pesado - amigas ativistas, até a mais consciente das mães de vez em quando pensa uma besteira destas. Depois de alguns muitos minutos, algumas vezes horas, de luta, ninadas, canções e muito mamá, o pequeno dorme. Mas você comete a besteira de olhar o relógio e percebe que faltam poucas horas para amanhecer. E que a cotovia que pôs no mundo acorda pontualmente às 5:40h, as vezes antes. Lembra das milhares de coisas que tem pra fazer no dia que está chegando. Levanta mais uma vez e tem certeza que ele tá dormindo. E trava uma briga intima para desligar. Quando finalmente dorme, o tempo, sacana como é, passa em segundos e o reloginho grita querendo mamar, brincar, conversar e que lhe troquem a fralda.
E você, com o pouco de ilusão que lhe resta, pensa que irá dormir a tarde pra compensar a noite perdida. Mas os 70 e poucos centimetros de criança não param mais. Eu achava lindo uma criança engatinhar. Olhava e babava pensando em quando o meu começaria. Agora, juro por tudo que é mais sagrado, fico com dó da coitada que me conta feliz que o baby aprendeu a engatinhar. Não sabe o que lhe espera. De domingo a domingo a casa tem que ser toda limpa e aspirada pra que o pequeno possa explorar. Os objetos de decoração que você comprou com carinho vão ficando cada vez mais escondidos em nome da segurança. Esconde-se telefone, modem, caixa de som.Tem dias que nem eu mesma sei onde escondi o celular. Os brinquedos dele são coloridos demais, bonitinhos demais. Acho que ele gosta de coisas menos chamativas. Do velho cinza do controle remoto ou do preto do celular. E do rabo do gato também. E aquela paranoia que você tinha de manter tudo limpo e organizado vai por água a baixo. O guri lambe a parede, agarra qualquer sandália que esteja vacilando e rói os móveis. Sim, sim, rói os móveis. Os tais dentinhos que deram um trabalho pra nascer, que causaram dor em você e nele causarão prejuízo. Depois de muito aprontar, vem o primeiro cochilo do dia. Liga-se o cronometro, tenho exatamente 40 minutos para deixar tudo em ordem, aprontar a comida, escovar os dentes e acabar de passar aspirador na casa. Os minutos passam e o banho fica pra depois. Hora de voltar a correr atrás de uma criaturinha que veio com 10 dentro e uns 5 correndo por fora! "A mão de Miguel fica longe da tomada", "O telefone fica fora da mãozinha de Miguel." " A gatinha fica longe de Miguel". Nessa loucura o dia se vai, e você percebe que tomou um banho de 20 segundos enquanto o gato e o menino gritavam na sala, um com dor e o outro de êxtase.
Quando finalmente o pequeno dorme, toma um banho um pouco mais demorado, mas não muito, porque tem que aproveitar o tempo para ajeitar um trilhão de coisas, come com um pouco mais de calma, senta no computador e começa a trabalhar. Sim, sim, trabalhar. Cumprir prazo, estudar algumas coisas, atender cliente. E aí decide dormir, deita exausta, acabada e com dor em todos os ossinhos e músculos do corpo, com uma imensa vontade de descansar e com uma incansável esperança de que a noite será um pouco melhor e que o bebê dormirá a noite toda. Três horinhas depois - com sorte - o pequeno acorda e mostra que a tão sonhada noite ininterrupta de sono ficará para a próxima vez.
A gente acorda, olha no espelho, vê que as unhas foram feitas no século passado, que as olheiras estão mais fundas que o oceano, que a pele está opaca, sem vida e pálida e que o cabelo precisa ser lavado e hidratado com urgência. Pensa que você foi uma maluca em ter inventado filho, que tava tudo certo como era, que nunca mais vai dormir, comer ou viver em paz. Sonha com uma folguinha da maternidade. Mas a criaturinha olha pra gente com um olhinho curioso, e um sorrisinho com dois dentinhos que coloca o sorriso da Julia Roberts no chinelo. Abre os braços e faz tudo valer a pena. A gente recebe um carinho melado de mão babada, se sente muito especial e privilegiada, e a mãe maluca, cansada e descabelada percebe que não poderia estar com outra vida, ou em outro lugar. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Sobre as palmadas e a educação


A maternidade ativa e consciente desconstruiu em mim muitas certezas. A mais difícil delas foi a certeza que para educar, precisava bater. Sim, eu acreditava nisso. Arrotei algumas vezes essa falácia mal digerida, essa verdade que nos é passada como quesito básico e necessário para a boa educação. Apanhei dos meus pais, algumas vezes. Jamais duvidei do amor que tinham por mim. Sei que absolutamente todas as decisões que tomaram tinham uma imensa intenção de fazer o melhor, e, quando erraram, erraram buscando acertar. Mas erraram. E este erro eu não pretendo cometer com o meu filho. A maternidade/paternidade nos dá a chance de fazermos melhor. Quero ser o melhor possível para o meu filho, ser ainda melhor do que o que meus pais foram. E torço que ele seja ainda melhor que eu com os meus netos. Assim evoluiremos como seres e como sociedade. Portanto este post não discute o amor de ninguém por seus filhos. Seguindo o perfil de todas as minhas outras escritas, quero apenas que analisemos o senso comum, que enxerguemos as falhas do "todo mundo faz." 
Como já disse, apanhei algumas vezes na minha infância e adolescência. Fui criada com um certo rigor, com regras rígidas. Certa vez fui a um festa sem a permissão dos meus pais. Saí escondida, curti, aproveitei e pensei: " a surra não vai apagar tudo que tô curtindo aqui." Cabeça de adolescente avoada, doida pra se divertir. Meus pais descobriram e, quando meu pai veio conversar comigo, seu comportamento me surpreendeu. Em vez da surra que imaginei que viria, encontrei meu pai, o homem mais forte e machão - com todos os preconceitos que à época eu carregava - que eu conhecia, chorando. Ele me olhou e disse que eu havia traído a sua confiança. Lembro do que senti até hoje. Naquele momento eu preferiria uma surra. O olhar dele não valeu minha diversão da noite. Me senti péssima. Eu havia magoado o homem que mais me amava no mundo. Meu pai, apesar de rude as vezes, era - e é - um homem muito amoroso, carinhoso. Vê-lo chorando por uma atitude minha doeu demais. Naquele dia ele me ensinou algo que jamais esqueci, traição dói, magoa. Tenho aversão a traição de confiança e sei que este sentimento se deve muito àquele dia. Porque estou contando essa história? Porque talvez, se naquele dia eu tivesse levado uma surra, em vez do arrependimento, podia ter aflorado uma revolta e uma vontade de repetir o erro.Não precisei de palmada para aprender algo tão importante.
Infelizmente nossa sociedade associa palmada à educação. Nos preocupamos em dar limites às crianças, pois caso contrário se tornarão seres desmedidos, irresponsáveis e repugnantes. E dar limite é bater. Mas educar vai muito além de perder as estribeiras e agredir fisicamente. Sim, agredir. Palmada é agressão, violência. Bater em um animal é violência, bater em outro adulto é violência. Bater em criança é educação. Não é possível que esta máxima não nos cause estranheza. Já ouvi que a palmada é um ato de amor. Mas não, eu não quero que meu filho cresça ouvindo que "te bato porque te amo." Não acho que esse seja uma boa premissa para ele basear suas crenças futuras e seu caráter. Nossas atitudes mostram a eles como é o mundo, o que é o amor, o companheirismo, a educação. Não é isso que quero que ele aprenda.
Antes que achem que estou aqui afirmando que devemos fazer todas as vontades dos filhos, explico que não acredito que este seja o caminho. As crianças acabaram de chegar ao mundo e não sabem o que é melhor para elas. É nosso dever, como pais, guiá-las,instruí-las e livrá-las do mal que podem causar a si mesmas e aos demais.Dizer o não, redirecionar a atenção e a energia. Explicar, conversar. Ensinar que toda atitude tem consequências. Mas principalmente dar o exemplo, ser exemplo. Um discurso vazio recheado de violência não educa ninguém. 
O que  você acha que a palmada ensina? Como você se sentiu quando apanhou dos seus pais? Quantas das suas angustias poderiam ser evitadas se, em vez de uma mão erguida, você encontrasse braços abertos?  Quantas vezes queríamos apenas atenção, compreensão? Quantas vezes, no afã das ansiedades infantis fizemos algo que nos trouxe medo, dor, e queríamos apenas um consolo, em vez de palmadas mudas?
Não, a sociedade cheia de valores invertidos que temos hoje não é fruto de pais que não educaram com palmadas. É fruto de pais que não deram exemplo. É fruto de pais que acreditaram que dar dinheiro, casa, comida e o tênis da moda já ensinavam bastante. É fruto de pais que não conversaram, que não olharam nos olhos, que não convidaram à reflexão.A juventude irresponsável e egoísta que vemos hoje é fruto de pais que não amaram, que não abraçaram e que disseram sim pra compensar o vazio emocional deles mesmos. Pais que não educaram e não disseram não para compensar a ausência física e afetiva. Pais que terceirizaram suas crianças.
Uma educação sem palmadas não é fácil. Em determinados momentos, as crianças gastam todo nosso estoque de paciência e conversa. Mas lembre, nestes momentos, que não precisam de uma palmada. É exatamente neste momento que precisam que mostremos a elas, com atitudes, que a conversa, o diálogo e o amor são o melhor caminho. Existem muitos sites e muita literatura ensinando métodos de driblar a palmada e educar de maneira positiva. Repense o que que você quer que seus filhos aprendam. Pense em como quer que se sintam. Pense que bater dói em você e nele. Crie seres que sabem que violência não se aplica nunca, a nada. Ensine, com seus gestos, o significado de compreensão, respeito. Utilize suas mãos para acarinhar, dar amor e guiar.Valerá a pena, tenho certeza.

terça-feira, 19 de março de 2013

Parir não exige coragem

Quando digo que pari em casa, naturalmente, sem anestesia ou intervenções, escuto sempre a mesma frase: "Você é corajosa!" Pois bem, venho dizer a todos que não precisa de coragem para parir. Talvez seja necessária coragem para enfrentar uma cirurgia, desnecessariamente. Para parir, não. Pra parir a gente só precisa de entrega. De autoconhecimento. Esquecer as falácias e lendas sobre o parto. Só precisa confiar no corpo que soube gestar, no corpo que alimentou, cuidou e protegeu a cria por nove meses.
A dor do parto jamais me amedrontou. Acredito que, se respeitada em sua fisiologia, cada mulher terá o parto que precisa ter. Rápido ou longo. Tranquilo, orgasmático ou desesperador. A dor vem na medida da nossa necessidade. Eu senti muita dor. Quase 10 horas de bolsa rota. Mas aquela dor me transformou. O trabalho de parto me fez entrar em harmonia com uma mulher que a sociedade moderna me fez esconder. O excesso de tecnologia, as exigências exacerbadas, as verdades que nos vendem prontas em um mundo machista nos fazem perder o contato com o nosso feminino.Perdemos nossa intuição, nossa sensibilidade, nosso poder. Mas o parto me reconectou com a mulher primitiva que vivia em mim, me ligou aos meus instintos mais animais e íntimos. Senti meu corpo se abir. A medida que meu corpo se abria, minha feminilidade se aflorava. Ah, como doía. Dor de vida, dor de transformação, dor de amor. Nada de sofrimento. Dor e sofrimento não são sinônimos.Aquela dor me mostrava do que sou capaz. Me mostrava o quanto sou forte. Me dizia que minha cria estava chegando, vibrante, saudável. Nos colocava juntos em nossa primeira jornada como seres separados. 
Não precisei de coragem para viver o dia mais mágico de minha existência. Um dia suspenso no tempo e espaço. Um dia que não teve horários, gente, mundo exterior. Um dia apenas nosso. Olhei meu filho nos olhos assim que chegou a esse mundo. Segurei em meus braços, pus em meu seio. Senti o cheiro do vernix, a pulsação do cordão que nos ligava. Beijei os cabelos negros. Não trocaria esse momento por nada nesse mundo. Precisava estar lúcida para gravar aquele primeiro olhar em minha memória, para sempre. Precisava dos meus braços livres e o meu corpo desimpedido para envolvê-lo no nosso primeiro abraço. Precisava estar transbordando ocitocina para recebê-lo com cheiro de amor. Não precisa de coragem para viver algo tão rico e natural. 
Não há o que temer. A mulher parida encontra em si uma força sobrenatural. Descobre que a carapuça de sexo frágil não lhe cabe. Que a passividade não lhe define. Saímos de um parto, se natural e respeitoso, conscientes de todo o legado que nossas ancestrais nos deixaram. Descobrimos que cada pedaço de nosso corpo vibra, sente e se harmoniza com o universo. Descobrimos que somos lobas, leoas. Com minha cria em meu braços percebi que era capaz de ir muito além do que considerava serem meus limites. 
Coragem eu precisaria para receber meu filho em uma sala fria, cheia de gente estranha. Coragem eu precisaria para viver a chegada do meu novo ser de forma passiva, imobilizada em uma cama. Coragem eu precisaria para não recebê-lo nos braços. Coragem eu precisaria para violentar meu corpo com cortes profundos, desnecessariamente. Coragem eu precisaria para me deixar anestesiar. Coragem eu precisaria para permitir que arrancassem meu filho de mim. Coragem eu precisaria para perder toda a magia que vivi. Pra parir precisei apenas de respeito e amor.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A doença nossa de cada dia

Vou muito pouco ao pediatra, desde o segundo mês do pequeno percebi que as consultas mensais eram desnecessárias e acordamos que iríamos dar um espaço maior entre elas. O médico que nos atende conhece e respeita os meus posicionamentos e nunca cobrou uma maior assiduidade. Mas as poucas vezes que estou em um consultório médico, ou que converso com outras mães, percebo que todas - ou quase isso - tem um diagnóstico na ponta da língua. "Ele tem hiperatividade", "Ela dorme pouco porque tem terror noturno", " Ele  come muito porque tem um transtorno de ansiedade", "Ele não se concentra, tem deficit de atenção". Me pergunto que tipo de mutação alterou nosso DNA e produziu uma sociedade tão enferma. Ou que tipo de alteração social nos tornou uma sociedade tão preguiçosa. O diagnostico é algo espetacular na cidade moderna, a muleta perfeita. Tiramos de nós mesmos o peso das consequências de nossas atitudes e jogamos numa doença. Ela sustenta o corpo cansado e preguiçoso. Os nomes dos transtornos se multiplicam e passam a ser nossos sobrenomes. E, muito pior, o dos nossos filhos.
Estamos criando uma geração de preguiçosos, piores do que nós. Se somos incapazes de assumir nossas próprias angustias e problemas, temos ainda menos capacidade para nos responsabilizarmos pelas atitudes dos pequenos.A criança de hoje aprende, desde muito pequena, a andar apoiada na muleta do doença, a não pensar por si mesma e a culpar o mundo pelas suas próprias dores. Há muito não pensamos por nós mesmos. A mídia te diz o que comer, o que vestir, o que ouvir, o que criticar. As grandes empresas nos mostram o que precisamos. Precisamos do carro do ano, do Iphone 5 e de uma viagem para o exterior. Precisamos do iogurte para defecar, da suplementação de vitaminas para viver, do tênis com zero impacto para correr, do travesseiro da nasa para dormir. Precisamos de mucilon para nutrir nossos filhos, dos programas infantis para deixá-los atentos e quietos, da melhor escola para que "sejam alguém". 
E assim como a doença nos tira a responsabilidade sobre nós mesmos, nos tira a responsabilidade sobre a criança. É mais fácil culpar o deficit de atenção, que sentar com o filho e ajudá-lo na leitura. É mais simples aceitar que a criança não nos respeita porque tem um transtorno qualquer do que enxergarmos as nossas ausências. É muito mais prático jogar o poder de decisão na mão do médico que tomá-lo para si. A verdade  liberta, mas a liberdade tem um alto preço. E temos preferido não assumir esta conta. Abrir mão da medicação, do diagnóstico fácil, coloca em nós a responsabilidade de pensar, enxergar e decidir como agir. Nos dá a certeza que temos que assumir a consequência dos nossos atos. Nos tira a quem culpar. Nos arranca as muletas e nos faz assumir o peso dos nosso corpos. E carregar junto o dos nossos filhos. 
Recentemente escrevi sobre não ter filhos.Não tenha filhos. Não os tenha se você ainda não é capaz de sustentar o peso do seu próprio corpo. Se precisa de diagnósticos para se evadir da responsabilidade por si, não saberá ser responsável pelas atitudes do seu filho. A violência, a falta de atenção e TODAS as atitudes da criança tem origem em nós, pais. Somos nós que os ensinamos como enxergar o mundo, como agir e como reagir. Não apenas com o que falamos, mas, principalmente, com como agimos.Deixemos a preguiça e as facilidades de lado. Ter filhos não é fácil. Para que os ensinemos a pensar, precisamos de mais reflexão. Precisamos tomar as rédeas sobre nossa próprias vidas. Precisamos ser exemplo. Precisamos ser aquilo que queremos que nossos filhos sejam. 
Filhos não precisam da escola mais cara da cidade. Mas precisam de pais que sentem, estudem, leiam, pesquisem, compartilhem. Seu filho não precisa da roupa da moda, da marca mais cara. Mas precisa do seu abraço, do seu conforto, do seu carinho. Eles não precisam do melhor plano de saúde. Precisam de pais que os façam enxergar que uma mente sã faz um corpo são. Precisam de pais presentes. E precisam, principalmente de pais que assumem suas próprias fraquezas, dúvidas, responsabilidades e atitudes. Pais que percebem que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor. Pais que saibam que a dor, o sofrimento e o esforço fazem parte da vida, nos moldam e ensinam melhor que a felicidade.Pais que se afastam do rebanho e escolhem seu próprio caminho. Pais inteiros para se doar.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Minhas escolhas, suas escolhas e o respeito

Fiz escolhas atípicas em relação ao meu filho. Fiz e faço. Desde a gestação me desviei do caminho escolhido pela maioria e decidi traçar minha própria trilha. Optei pelo parto natural, domiciliar, sou defensora ferrenha do protagonismo da mulher no nascimento do seu filho, além de ativista da amamentação. Estudo, pesquiso e me informo antes de tomar decisões em relação ao pequeno. Divulgo estudos sobre alimentação consciente, maternidade ativa e sobre a forma que acredito ser a mais respeitosa e amorosa de ensinar os pequenos a viver nesse mundão. Amo a maternagem e se alguém me pede um conselho ou ajuda, dou o máximo de mim. Isso porque acredito verdadeiramente que se queremos que o mundo seja melhor, precisamos mudar a forma de tratar nossas crianças.Mas essas são MINHAS escolhas. Sim, minhas, em caixa alta. Não as imponho a ninguém. Respeito seu direito de escolher como lidar com sua cria. 
Não dou papinha nestlé, nan, mingau, mas respeito seu direito de dar ao seu filho o que você quiser. Meu filho nunca provou um bico que não fosse o da mamãe, não sabe o que é uma chupeta, ou mamadeira, mas jamais me intrometerei no seu direito de dar a ele chupeta o dia inteiro. Não vemos os programas da moda mas não me recusarei a ir na sua festa da Galinha Pintadinha, nem criticarei sua coleção do Patati Patatá. 
Não suporto que deem opinião sobre a forma que cuido do meu filho. Exatamente por isso, não opino sobre a criação de ninguém. Respeito para ser respeitada. Se quer discutir, conversar e entender o porquê dos meus caminhos, estou aberta a conversas. Mas não me venha com conversas cheias de achismos. Não me venha com o que todo mundo faz. Não queira mudar minha opinião baseando-se em argumentos vazios. Estou realmente cansada dos pitacos alheios, das observações intrometidas e ignorantes. Portanto, antes de criticar o sling e falar que estou " judiando" do meu filho, pesquise sobre a exterogestação, sobre a importância do colo, do contanto. Antes de criticar o parto natural domiciliar, estude sobre violência obstétrica e os cuidados rotineiros com os neonatos. Antes de me dizer que danoninho vale mais que um bifinho, veja as estatísticas de obesidade infantil, leia a tabela nutricional do produto e as consequências nefastas na saúde da criança. Antes de dar uma opinião não solicitada, pesquise as evidências cientificas. Antes de me criticar por não seguir cegamente um pediatra, leia as orientações da organização mundial de saúde e da sociedade brasileira de pediatria. E antes de me dizer que chorar faz bem para o pulmão, respire e cale-se. Tamanha ignorância não exige apenas leitura, exige um encontro consigo mesmo. Exige o mínimo de humanidade e amor.
Minhas escolhas não desvalorizam as suas, não são críticas a sua vida. Minhas escolhas levam em consideração o bem do meu filho e da nossa família. O seu arranjo familiar não me importa. Mas as intromissões e opiniões infundadas desmerecem minhas horas de estudo e reflexão sobre a melhor forma de agir. Desmerecem meu cuidado, meu carinho e meus esforços. Desrespeitam meu espaço, do marido e o da cria. Invadem a intimidade da nossa família.
Existe vida fora da caixinha, existem outros caminhos além dos escolhidos pela maioria. Já chorei pelos filhos dos outros. Já assisti cenas que considerei lamentáveis. Mas sofri em silêncio, por respeitar o direito de escolha alheio. Não se ofenda quando falo apaixonada sobre a amamentação, ou afirmo que compartilho o quarto. Não entenda as criticas à alimentação infantil como indiretas. Estas escolhas nada tem a ver com você. Antes de opinar, ofendida, tente se despir de seus preconceitos e enxergar apenas uma mãe amorosa buscando dar o seu melhor. Não há mensagens subliminares, nem textos nas entrelinhas. Ninguém está te chamando de "menos mãe", ou pior, "menas mãe". A maternidade não é algo que caiba em um único adjetivo. Não estou competindo com ninguém. Busco as melhores opções para a minha cria. Da sua cria, cuida você.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Para tempo. Para.


O dia começou cedo. Miguel acordou às 5:00hr para mamar.Como de costume, o peguei do bercinho colado com a cama e o pus ao meu lado. Mas diferente dos outros dias, eu não dormi. Enquanto mamava o observei. Como está grande, como suas feições mudaram! 7 meses. Ontem eu pari, hoje ele completa 7 meses.  Enquanto o observava roguei a Deus por mais tempo.O tempo é impiedoso, passa sem nos pedir licença. Aquele bebê molinho, que apenas me olhava com grandes olhos expressivos deu lugar a um bebezão esperto que engatinha a casa toda, levanta segurando os objetos e ensaia os primeiros passos apoiando-se no sofá. Já não sou mais o seu mundo. As mãozinhas ávidas por novos toques, os olhinhos ansiosos por novas descobertas vão muito além de mim. O tempo me mostra que não o controlo. Meu bebê cresce rapidamente. A cada dia uma nova habilidade me mostra que um dia não será mais o meu bebê.
Para tempo, para mundo! Deixa que eu aproveite mais o cheirinho inigualável da minha pequena joia. O cheirinho que não há aroma no mundo que se compare. Cheirinho doce, inconfundível. Me deixa aproveitar um pouco mais os olhinhos que me observam, curiosos. O olhar que diz tudo que seus "dada-papa" não falam. Os olhinhos que me mostram que não preciso de palavras. Os olhinhos que me desnudam a alma. Os olhinhos que buscam os meus pra ter certeza que está tudo bem.Ah, tempo, me deixa aproveitar mais essa relação de confiança, dependência e fusão que temos hoje. Me deixa curtir um pouco mais o calor do corpinho que me agarra quando está com medo, assustado.O corpinho que se lança de onde estiver, certo que o segurarei. Me deixa aproveitar os bracinhos que se abrem me pedindo abrigo. Quero mais tempo para aproveitar os momentos em que dormimos agarradinhos, em que sua cabecinha repousa em meu braço e nossas respirações alcançam um mesmo compasso.
Para tempo, para. Não quero que esses momentos passem. Quero ter pra sempre a energia de um bebê iluminando minha casa, minha vida. Quero aproveitar esse sorrisinho faceiro, de canto de boca, mostrando de leve os dois dentinhos que crescem. Quero aproveitar mais a pele aveludada, macia e quente. E curtir mais os gritinhos de alegria quando um dos gatos passa descontraído. Aproveitar essa certeza de que ele sempre volta. De que explora tudo, mas meu braço ainda lhe assossega. Aproveitar a convicção de que não sou mais seu mundo, mas ainda sou o melhor lugar do mundo. Aproveitar os momentos em que o observo, amando cada traço, cada característica, os cabelinhos enrolados e as mãos macias. 
Me deixa aproveitar, tempo. Aproveitar para que quando a hora de deixá-lo ir chegar, que eu esteja pronta.   Me deixa aproveitar e juntar o máximo de recordações gostosas possível. Me deixa gravar na minha memória os cheiros, os gostos. Me dá, tempo, oportunidade de costurar todas essas lembranças numa grande colcha pra me aquecer nos dias frios de ausência. Me dá a chance de me sentir pronta pra vê-lo crescer. Porque hoje, quando ele completa apenas sete meses, sinto uma pontadinha de dor, um pouquinho dele se desgrudando de mim. A cada mês o vejo mais independente e mais capaz de realizar proezas sem a mamãe. E não consigo deixar de imaginar o dia que será homem feito, arrumará as malas e seguirá seu rumo.Peço apenas, tempo, que desacelere. Meu coração de mãe babona quer mais. Quer mais colo, mais cheiro, mais carinho, mais dengo. Quer mais beijo, mais grude, mais cheirinho no pé.O coração de mãe quer mais brincadeira boba, mais aperto no nariz, mais dedinho no ouvido. Quer ter a certeza de ter aproveitado tudo, de ter dado tudo de si. Para, tempo. Para.