segunda-feira, 15 de abril de 2013

Hitler nasceu bom


"Sabem o que fez o Joca? Cortou ao meio a minhoca!/ - Joca, como és tão malvado!/O papai disse indignado./E a mamãe, toda enojada:/- Ai! Mataste a coitada!/Mas responde alegre o Joca:/- Só fiz bem para a minhoca!/Ela estava tão sozinha,/Pobre e triste minhoquinha!/De uma só eu fiz um par: Duas já podem brincar, /Já se fazem companhia/E rebolam de alegria!/ - Diga - isso foi, ou não,O tipo da boa ação?"
Tatiana Belinky. 

O poema acima está, em forma de canção, em um Cd que ganhamos esses dias. Tic Tic Tati. Depois de ouvir a música, me pus a pensar em como somos injustos com as crianças. Não preparamos o mundo para recebê-los e não os preparamos para o mundo. Reclamos, brigamos, tolimos. Enquadramos suas atitudes em nossas próprias percepções e vivências e esquecemos que são apenas crianças, inocentes, movidas por um incansável instinto curioso e verdadeiro. Esquecemos que não são mini adultos. Já me peguei chamando o pequeno de malvado, quando puxa com força o rabo de um dos gatos. Coitado, não sabe o que é maldade. Não sabe que aquele treco peludo que está no chão é um gato.Não sabe que gatos sentem dor. Não sabe o tamanho da força que tem. Tenho me policiado para não chamá-lo assim. Crianças são boas. São honestas e verdadeiras. Ah, se fossemos um pouquinho como eles.
Acredito verdadeiramente que todas as vezes que nos descontrolamos com as crianças é porque nos falta compreensão. Paciência e compreensão.Nos falta a capacidade de enxergá-las como seres humanos, recém chegados ao mundo.Digo que falta que os enxerguemos como seres humanos porque enxergamos nossos filhos como nossa propriedade. São nossos. Não perguntamos sua opinião, não queremos entender suas motivações, não respeitamos suas vontades. Almejamos uma obediência cega. Queremos adestrá-los. Não quero que compreendam o que falo como permissividade. Criança precisa sim que direcionemos suas energias, que expliquemos que todas as suas atitudes tem consequências. Que lhes ajudemos a caminhar nestas tão tortuosas trilhas. Sim, ajudar, direcionar, compreender. Vejo pais orgulhosos em dizer que seus filhos obedecem com um olhar, mortos de medo. Posso estar enganada, mas o medo não é um bom alicerce para nenhuma relação. Não tenho a mínima intenção que meu filho tenha medo de mim. Desejo respeito, e o ensino a me respeitar respeitando-o todos os dias. Baseio nossa relação no amor. Deixo o medo para o mundo lá fora, esse já está assustador o bastante.
 Nas situações que tenho em minha mente, da minha infância, todas as vezes que me pus em perigo, que me machuquei ou desobedeci, estava bem intencionada. Nunca, enquanto criança, agi com o intuito de afrontar meus pais, ou qualquer outro adulto. Quando esquecemos que éramos bons? Que adquirimos, ao passar dos dias, os sentimentos e intenções ruins que carregamos em nós? Certa feita, conversando com uma pessoa querida, mãe de três filhos, ouvi que tinha que ter cuidado para não ser manipulada pela criança, à época, falávamos de um bebê  de dois anos(sim, para mim é um bebê). Uma criança de 2 anos não tem construções neurológicas suficientes para manipular. Ela não tem vivência suficiente para isso. Não  possui maturidade para tanto. Antes de perder a paciência e partir para a agressão física, lembre que crianças não são como nós. Não viveram tantos anos, não choraram nossas lágrimas e não riram nossos sorrisos.Não carregam nossas cargas emocionais. Não utilize as suas medidas para mensurar a vontade de uma criança, nós perdemos a pureza, nossas medidas não lhes cabem.
Acredite, Hitler não nasceu mau. Ele nasceu bom, como todas as crianças. O adulto que se tornou foi moldado pelas experiências que vieram ao longo de sua existência. Ao nascer ele era bom, como você e eu fomos. Lembre sempre, ao olhar o seu filho, que ele é um ser melhor que você. Que ele não sente inveja, que não dissimula, que não maltrata. Converse mais, compreenda mais, tente olhar o mundo pelos olhos deste serzinho que lhe presenteia com lições de bondade e fraternidade. Alcançar a lógica ilógica da criança nos fará lembrar que também já fomos puros. Quem sabe este exercício diário não desperta em nós um pouco da inocência perdida? Vale tentar.



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