sexta-feira, 3 de maio de 2013

Mãezinha? Eu? Desculpe, dotô, mas a fêmea aqui tem nome!

Sentada, amamentando meu pequeno, encosta uma mulher com sua filha de 1 ano e 9 meses. Papo vai, papo vem...
- Ele AINDA mama, não é?
- É sim, e vai mamar até quando quiser.
- Ela AINDA mama também. 
- Que ótimo! A amamentação é excelente e deve ser mantida pelo menos nos primeiros 2 anos de vida.
- Ah, não, o pediatra me disse que depois de 1 ano o leite é igual a água, não serve para nada.
Respiro fundo, muito fundo. 
- Não acredite em tudo que pediatra diz. A organização mundial de saúde e as evidências científicas orientam de maneira completamente diferente. Pediatra fala muita besteira.
Recebo um olhar que mistura indignação, incredulidade e repugnância. Juro que parecia que tinha xingado Jesus, cuspido no papa ou feito uma minissaia com o santo sudário. Encerrei o assunto em mais poucas palavras, sobre o tempo e o mar, pedi licença e saí. Difícil lidar com a santidade do "dotô". Canso de ouvir: "o médico proibiu ele de comer isso", "o médico me proibiu de usar aquilo". Que pena que seu pediatra te faz proibições. Aqui ninguém tem esse poder. Não há médico que me proíba de comer, beber ou fazer algo, muito menos ao meu filho. Não é essa a função do médico, não é essa a importância que lhe dou.
Vamos ao pediatra bem pouco. Abrimos mão das consultas mensais e vamos sem uma periodicidade regular. O pediatra que nos acompanha, apesar de não ser exatamente da linha que gostaria, não me trata como mãezinha. Discute, conversa, explica, e sabe que sigo o que acredito, independente da opinião que ele me dá. Não faço ideia do que ele pensa sobre amamentação, introdução alimentar ou sobre o choro desamparado. Não tenho o número do celular, ou da residência. Meu filho não é pesado, nem medido todos os meses. Assim seguimos felizes, tranquilos e saudáveis. Mas principalmente, assim seguimos donos de nós mesmos.
Creio que essa dependência da opinião do médico seja uma coisa recente. Não vou me aprofundar neste texto sobre o que penso sobre o controle que hoje é exercido pela medicina na sociedade, com a proliferação da cultura do medo. Quero apenas chamar a atenção para o quanto deixamos que o pediatra determine a forma que vamos educar, amar e cuidar das nossas crias. Permitimos que nos digam a hora e a forma de amamentar. Permitimos que enfraqueçam nossa fé em nós mesmas. Seguimos orientações estapafúrdias. Acreditamos no leite fraco, no bebê manhoso, e na nossa incapacidade de cuidar da nossa cria. Discutimos com o médico a marca da fralda, o lugar que o bebê dorme, a rotina da família. Abrimos a porta de nossas vidas para esse estranho, lhe entregamos o leme e deixamos que guie a embarcação. 
Não seria a hora de retomarmos a direção de nossas vidas, e, principalmente, da criação de nossos filhos? Acredite, ninguém nesse mundo sabe cuidar do seu filho melhor que você. Ninguém cuida do meu filho melhor que eu. Ninguém o entende como eu. Porque ninguém possui a nossa ligação física, emocional e espiritual. Se nos aquietarmos e escutarmos os nossos corações, saberemos exatamente o que fazer. Não precisamos da permissão do pediatra, nem da opinião da mãe, da sogra ou da vizinha. Para termos filhos seguros e saudáveis, precisamos da segurança que somente um encontro profundo com nós mesmas traz.Por isso, mães, se empoderem. Esqueçam a mãezinha, infantilizada e sem nome que senta ansiosa mês a mês no consultório pediátrico. Se entreguem à maternidade de corpo e alma. Encontrem o instinto da fêmea parida. Se animalizem. Se nos conectarmos melhor com nossos instintos, nos conectaremos melhor com nós mesmas, consequentemente, com nossas crias. 
Costumo seguir as evidências científicas em relação às decisões que tomo. Estudo, pesquiso, me informo. Mas no final das contas, nem as evidências, nem o pediatra determinam o meu caminho. Estudo para que minhas decisões sejam conscientes. É o instinto que me mostra o melhor. É a fêmea, loba e feroz, que fareja a trilha devida. A maternidade, para que seja vivida com consciência e intensidade, precisa de entrega. Pra nos entregarmos precisamos nos livrar das amarras. Livrem-se dessa necessidade opressiva de pediatra. Reservem para o este profissional um papel secundário. Não deixem que protagonizem um papel que é nosso, de mães. Livrem-se da opinião infundada da vizinha, da sogra, da mãe. Escutem mais a voz interior que nos diz o que fazer e como agir. Silenciem as demais vozes. Mais uma vez digo: Empoderem-se. Acreditem no poder da maternidade, do amor, do colo, do peito. Acreditem na sabedoria dos nossos corpos, dos corpos de nossas crias, e da natureza.Somos treinadas naturalmente para cuidarmos dos nossos filhos. A humanidade sobreviveu e multiplicou-se durante anos e anos. A pediatria é uma ciência recente, se comparada aos nossos anos de existência neste mundo. Não somos diferentes das nossas ancestrais, não viemos com "defeito de fábrica." Acreditem, sabemos gestar, sabemos parir e sabemos criar. Se seu médico te faz pensar o contrário, mude de médico.


Um comentário:

  1. Apoiado! Não consigo entender esse "poder" que os pediatras têm de decidir tudo na vida dos nossos filhos! Conheço mães que não dão sequer uma fruta pro filho sem perguntar pro pedi se "pode". Aqui em casa não tem isso: médico só quando está dodói. Tratamos no consultório apenas de saúde.
    beijos

    tati
    maedoerich.blogspot.com

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