terça-feira, 19 de novembro de 2013

Julgamentos, competições e cusparadas para cima

Desde o começo da gravidez frequento grupos de parto e maternidade, nas redes sociais. Conheci muita gente bacana, gente interessada em fazer diferente, gente que quer compartilhar conhecimento, gente que quer dividir as delícias e agruras da maternidade. Gente que quer criar gente diferente. Mas constatei algo triste e decepcionante no universo materno, a competição. Sim, mães tendem a ser competitivas. E nos grupos de maternagem ativa e consciente então, esta disputa atinge níveis assustadores. 
Antes que alguém se ofenda, não tenho o intuito de causar celeuma, nem de atingir quem quer que seja. Apenas sigo me surpreendendo com a incrível capacidade de julgar e menosprezar a maternagem alheia. Assim como o parto perfeito precisaria ser com a parteira da moda, com a doula estrela, de cócoras na água, de um bebê com 5 kg, a maternagem perfeita precisa preencher a todos os requisitos. Nada de televisão, nunca, jamais! Aplicativo no celular, para um bebê? Pecado capital! Nada de comida pronta, de chupeta, de mamadeira, de engrossante. Tem que amamentar linda e sorridente o guri de 5 anos, se ele assim o quiser. Cama compartilhada é lei. Se você descumpre uma destas regras, sinto lhe informar, tá fora do clubinho. Não vai ser aceita. E por mais que digam que não, sim, te consideram menos mãe. Ou MENAS, se assim o preferir. 
Ah, as tais menas. Eu confesso que não entendia porque tantas mulheres defendiam suas escolhas com um: "mas eu não sou menas mãe por isso.." Hoje entendo. Há um certo pedantismo em muitos dos discursos que vemos "dazativista". Um ar de eu fiz o melhor. Um tom de menosprezo. Uma real crença de que sim, a Menas é menos informada, menos dedicada, menos mãe.E é aí que mora o perigo.
Conheço muitas mães. Converso com pessoas que agem como eu, buscando uma criação voltada para a segurança emocional da cria, e pessoas que seguem o que todo mundo segue. Nossas posturas nos diferem, mas acredito que verdadeiramente o que nos move é igual. Amamos nossos filhos mais que a nós mesmas. Salvo as pouquíssimas exceções, toda mãe faz o que acha que é o melhor. Já não tenho a ilusão de que toda mãe saiba o que é melhor. Mas faz o que considera melhor. Será que alguém realmente acredita que a mãe que coloca coca-cola na mamadeira deseja prejudicar o filho? Será que a mãe que deixa chorando tem a real noção do tamanho do prejuízo emocional que está trazendo para a cria? Julgar a mulher que não acredita no seu próprio corpo para parir, amamentar e criar é como falar a uma vítima de estupro que se não quisesse que acontecesse, andasse com roupas maiores! É culpabilizar a vítima!
Vivemos em uma sociedade altamente patriarcal e preconceituosa. Aprendemos desde pequenas a fecharmos as pernas, a nos comportamos, a nos calarmos, a rirmos contidas. Será que este já não é um julgo pesado demais para que a mulher carregue? Ainda precisa ser apontada por outras mães? Você conseguiu informação? Que bacana! Compartilhe, divida, converse, acolha! Mas não espere que todas tenham a mesma sede de mudança que você. Antes de sentirmos necessidade de fazer diferente, precisamos confessar para nós mesmas que algo está errado, e que não pode permanecer como está, e isso não é fácil. Simplesmente respeite a mulher que não bebeu das mesmas fontes que você. Já me vi hostilizando. As vezes a gana de mudar o mundo nos deixa cega. Esquecemos que cada pessoa tem sua história e seu tempo. Demorei, mas tenho aprendido a não me intrometer na educação do filho dos outros. A minha opinião é dada quando solicitada. Com o máximo de respeito e paciência que meu jeito um pouco duro é capaz de ter.
Muito além de ter esta ou aquela informação, de saber mais ou saber menos sobre as evidências científicas, tenho comprovado diariamente que ser mãe é cuspir pra cima. Meu filho muda tudo e mostra que não estou no controle de absolutamente nada. Que não sou super nada. Que a maternidade perfeita é linda, ideal, mas não existe. Que todo mundo volta e meia pisa fora da linha, perde as estribeiras e manda a cartilha pras cucuias. E principalmente, que não existe mãe melhor ou mãe pior, mais ou menAs mãe. Amor de mãe é amor de mãe. Sem comparações, sem medidas, sem precedentes. Toda e qualquer tentativa de comparar e mensurar o que nos move é vazia e imbecil. É só mais uma cusparada, que muito provavelmente, nos atingirá em cheio a testa!


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