quarta-feira, 20 de março de 2013

Sobre as palmadas e a educação


A maternidade ativa e consciente desconstruiu em mim muitas certezas. A mais difícil delas foi a certeza que para educar, precisava bater. Sim, eu acreditava nisso. Arrotei algumas vezes essa falácia mal digerida, essa verdade que nos é passada como quesito básico e necessário para a boa educação. Apanhei dos meus pais, algumas vezes. Jamais duvidei do amor que tinham por mim. Sei que absolutamente todas as decisões que tomaram tinham uma imensa intenção de fazer o melhor, e, quando erraram, erraram buscando acertar. Mas erraram. E este erro eu não pretendo cometer com o meu filho. A maternidade/paternidade nos dá a chance de fazermos melhor. Quero ser o melhor possível para o meu filho, ser ainda melhor do que o que meus pais foram. E torço que ele seja ainda melhor que eu com os meus netos. Assim evoluiremos como seres e como sociedade. Portanto este post não discute o amor de ninguém por seus filhos. Seguindo o perfil de todas as minhas outras escritas, quero apenas que analisemos o senso comum, que enxerguemos as falhas do "todo mundo faz." 
Como já disse, apanhei algumas vezes na minha infância e adolescência. Fui criada com um certo rigor, com regras rígidas. Certa vez fui a um festa sem a permissão dos meus pais. Saí escondida, curti, aproveitei e pensei: " a surra não vai apagar tudo que tô curtindo aqui." Cabeça de adolescente avoada, doida pra se divertir. Meus pais descobriram e, quando meu pai veio conversar comigo, seu comportamento me surpreendeu. Em vez da surra que imaginei que viria, encontrei meu pai, o homem mais forte e machão - com todos os preconceitos que à época eu carregava - que eu conhecia, chorando. Ele me olhou e disse que eu havia traído a sua confiança. Lembro do que senti até hoje. Naquele momento eu preferiria uma surra. O olhar dele não valeu minha diversão da noite. Me senti péssima. Eu havia magoado o homem que mais me amava no mundo. Meu pai, apesar de rude as vezes, era - e é - um homem muito amoroso, carinhoso. Vê-lo chorando por uma atitude minha doeu demais. Naquele dia ele me ensinou algo que jamais esqueci, traição dói, magoa. Tenho aversão a traição de confiança e sei que este sentimento se deve muito àquele dia. Porque estou contando essa história? Porque talvez, se naquele dia eu tivesse levado uma surra, em vez do arrependimento, podia ter aflorado uma revolta e uma vontade de repetir o erro.Não precisei de palmada para aprender algo tão importante.
Infelizmente nossa sociedade associa palmada à educação. Nos preocupamos em dar limites às crianças, pois caso contrário se tornarão seres desmedidos, irresponsáveis e repugnantes. E dar limite é bater. Mas educar vai muito além de perder as estribeiras e agredir fisicamente. Sim, agredir. Palmada é agressão, violência. Bater em um animal é violência, bater em outro adulto é violência. Bater em criança é educação. Não é possível que esta máxima não nos cause estranheza. Já ouvi que a palmada é um ato de amor. Mas não, eu não quero que meu filho cresça ouvindo que "te bato porque te amo." Não acho que esse seja uma boa premissa para ele basear suas crenças futuras e seu caráter. Nossas atitudes mostram a eles como é o mundo, o que é o amor, o companheirismo, a educação. Não é isso que quero que ele aprenda.
Antes que achem que estou aqui afirmando que devemos fazer todas as vontades dos filhos, explico que não acredito que este seja o caminho. As crianças acabaram de chegar ao mundo e não sabem o que é melhor para elas. É nosso dever, como pais, guiá-las,instruí-las e livrá-las do mal que podem causar a si mesmas e aos demais.Dizer o não, redirecionar a atenção e a energia. Explicar, conversar. Ensinar que toda atitude tem consequências. Mas principalmente dar o exemplo, ser exemplo. Um discurso vazio recheado de violência não educa ninguém. 
O que  você acha que a palmada ensina? Como você se sentiu quando apanhou dos seus pais? Quantas das suas angustias poderiam ser evitadas se, em vez de uma mão erguida, você encontrasse braços abertos?  Quantas vezes queríamos apenas atenção, compreensão? Quantas vezes, no afã das ansiedades infantis fizemos algo que nos trouxe medo, dor, e queríamos apenas um consolo, em vez de palmadas mudas?
Não, a sociedade cheia de valores invertidos que temos hoje não é fruto de pais que não educaram com palmadas. É fruto de pais que não deram exemplo. É fruto de pais que acreditaram que dar dinheiro, casa, comida e o tênis da moda já ensinavam bastante. É fruto de pais que não conversaram, que não olharam nos olhos, que não convidaram à reflexão.A juventude irresponsável e egoísta que vemos hoje é fruto de pais que não amaram, que não abraçaram e que disseram sim pra compensar o vazio emocional deles mesmos. Pais que não educaram e não disseram não para compensar a ausência física e afetiva. Pais que terceirizaram suas crianças.
Uma educação sem palmadas não é fácil. Em determinados momentos, as crianças gastam todo nosso estoque de paciência e conversa. Mas lembre, nestes momentos, que não precisam de uma palmada. É exatamente neste momento que precisam que mostremos a elas, com atitudes, que a conversa, o diálogo e o amor são o melhor caminho. Existem muitos sites e muita literatura ensinando métodos de driblar a palmada e educar de maneira positiva. Repense o que que você quer que seus filhos aprendam. Pense em como quer que se sintam. Pense que bater dói em você e nele. Crie seres que sabem que violência não se aplica nunca, a nada. Ensine, com seus gestos, o significado de compreensão, respeito. Utilize suas mãos para acarinhar, dar amor e guiar.Valerá a pena, tenho certeza.

terça-feira, 19 de março de 2013

Parir não exige coragem

Quando digo que pari em casa, naturalmente, sem anestesia ou intervenções, escuto sempre a mesma frase: "Você é corajosa!" Pois bem, venho dizer a todos que não precisa de coragem para parir. Talvez seja necessária coragem para enfrentar uma cirurgia, desnecessariamente. Para parir, não. Pra parir a gente só precisa de entrega. De autoconhecimento. Esquecer as falácias e lendas sobre o parto. Só precisa confiar no corpo que soube gestar, no corpo que alimentou, cuidou e protegeu a cria por nove meses.
A dor do parto jamais me amedrontou. Acredito que, se respeitada em sua fisiologia, cada mulher terá o parto que precisa ter. Rápido ou longo. Tranquilo, orgasmático ou desesperador. A dor vem na medida da nossa necessidade. Eu senti muita dor. Quase 10 horas de bolsa rota. Mas aquela dor me transformou. O trabalho de parto me fez entrar em harmonia com uma mulher que a sociedade moderna me fez esconder. O excesso de tecnologia, as exigências exacerbadas, as verdades que nos vendem prontas em um mundo machista nos fazem perder o contato com o nosso feminino.Perdemos nossa intuição, nossa sensibilidade, nosso poder. Mas o parto me reconectou com a mulher primitiva que vivia em mim, me ligou aos meus instintos mais animais e íntimos. Senti meu corpo se abir. A medida que meu corpo se abria, minha feminilidade se aflorava. Ah, como doía. Dor de vida, dor de transformação, dor de amor. Nada de sofrimento. Dor e sofrimento não são sinônimos.Aquela dor me mostrava do que sou capaz. Me mostrava o quanto sou forte. Me dizia que minha cria estava chegando, vibrante, saudável. Nos colocava juntos em nossa primeira jornada como seres separados. 
Não precisei de coragem para viver o dia mais mágico de minha existência. Um dia suspenso no tempo e espaço. Um dia que não teve horários, gente, mundo exterior. Um dia apenas nosso. Olhei meu filho nos olhos assim que chegou a esse mundo. Segurei em meus braços, pus em meu seio. Senti o cheiro do vernix, a pulsação do cordão que nos ligava. Beijei os cabelos negros. Não trocaria esse momento por nada nesse mundo. Precisava estar lúcida para gravar aquele primeiro olhar em minha memória, para sempre. Precisava dos meus braços livres e o meu corpo desimpedido para envolvê-lo no nosso primeiro abraço. Precisava estar transbordando ocitocina para recebê-lo com cheiro de amor. Não precisa de coragem para viver algo tão rico e natural. 
Não há o que temer. A mulher parida encontra em si uma força sobrenatural. Descobre que a carapuça de sexo frágil não lhe cabe. Que a passividade não lhe define. Saímos de um parto, se natural e respeitoso, conscientes de todo o legado que nossas ancestrais nos deixaram. Descobrimos que cada pedaço de nosso corpo vibra, sente e se harmoniza com o universo. Descobrimos que somos lobas, leoas. Com minha cria em meu braços percebi que era capaz de ir muito além do que considerava serem meus limites. 
Coragem eu precisaria para receber meu filho em uma sala fria, cheia de gente estranha. Coragem eu precisaria para viver a chegada do meu novo ser de forma passiva, imobilizada em uma cama. Coragem eu precisaria para não recebê-lo nos braços. Coragem eu precisaria para violentar meu corpo com cortes profundos, desnecessariamente. Coragem eu precisaria para me deixar anestesiar. Coragem eu precisaria para permitir que arrancassem meu filho de mim. Coragem eu precisaria para perder toda a magia que vivi. Pra parir precisei apenas de respeito e amor.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A doença nossa de cada dia

Vou muito pouco ao pediatra, desde o segundo mês do pequeno percebi que as consultas mensais eram desnecessárias e acordamos que iríamos dar um espaço maior entre elas. O médico que nos atende conhece e respeita os meus posicionamentos e nunca cobrou uma maior assiduidade. Mas as poucas vezes que estou em um consultório médico, ou que converso com outras mães, percebo que todas - ou quase isso - tem um diagnóstico na ponta da língua. "Ele tem hiperatividade", "Ela dorme pouco porque tem terror noturno", " Ele  come muito porque tem um transtorno de ansiedade", "Ele não se concentra, tem deficit de atenção". Me pergunto que tipo de mutação alterou nosso DNA e produziu uma sociedade tão enferma. Ou que tipo de alteração social nos tornou uma sociedade tão preguiçosa. O diagnostico é algo espetacular na cidade moderna, a muleta perfeita. Tiramos de nós mesmos o peso das consequências de nossas atitudes e jogamos numa doença. Ela sustenta o corpo cansado e preguiçoso. Os nomes dos transtornos se multiplicam e passam a ser nossos sobrenomes. E, muito pior, o dos nossos filhos.
Estamos criando uma geração de preguiçosos, piores do que nós. Se somos incapazes de assumir nossas próprias angustias e problemas, temos ainda menos capacidade para nos responsabilizarmos pelas atitudes dos pequenos.A criança de hoje aprende, desde muito pequena, a andar apoiada na muleta do doença, a não pensar por si mesma e a culpar o mundo pelas suas próprias dores. Há muito não pensamos por nós mesmos. A mídia te diz o que comer, o que vestir, o que ouvir, o que criticar. As grandes empresas nos mostram o que precisamos. Precisamos do carro do ano, do Iphone 5 e de uma viagem para o exterior. Precisamos do iogurte para defecar, da suplementação de vitaminas para viver, do tênis com zero impacto para correr, do travesseiro da nasa para dormir. Precisamos de mucilon para nutrir nossos filhos, dos programas infantis para deixá-los atentos e quietos, da melhor escola para que "sejam alguém". 
E assim como a doença nos tira a responsabilidade sobre nós mesmos, nos tira a responsabilidade sobre a criança. É mais fácil culpar o deficit de atenção, que sentar com o filho e ajudá-lo na leitura. É mais simples aceitar que a criança não nos respeita porque tem um transtorno qualquer do que enxergarmos as nossas ausências. É muito mais prático jogar o poder de decisão na mão do médico que tomá-lo para si. A verdade  liberta, mas a liberdade tem um alto preço. E temos preferido não assumir esta conta. Abrir mão da medicação, do diagnóstico fácil, coloca em nós a responsabilidade de pensar, enxergar e decidir como agir. Nos dá a certeza que temos que assumir a consequência dos nossos atos. Nos tira a quem culpar. Nos arranca as muletas e nos faz assumir o peso dos nosso corpos. E carregar junto o dos nossos filhos. 
Recentemente escrevi sobre não ter filhos.Não tenha filhos. Não os tenha se você ainda não é capaz de sustentar o peso do seu próprio corpo. Se precisa de diagnósticos para se evadir da responsabilidade por si, não saberá ser responsável pelas atitudes do seu filho. A violência, a falta de atenção e TODAS as atitudes da criança tem origem em nós, pais. Somos nós que os ensinamos como enxergar o mundo, como agir e como reagir. Não apenas com o que falamos, mas, principalmente, com como agimos.Deixemos a preguiça e as facilidades de lado. Ter filhos não é fácil. Para que os ensinemos a pensar, precisamos de mais reflexão. Precisamos tomar as rédeas sobre nossa próprias vidas. Precisamos ser exemplo. Precisamos ser aquilo que queremos que nossos filhos sejam. 
Filhos não precisam da escola mais cara da cidade. Mas precisam de pais que sentem, estudem, leiam, pesquisem, compartilhem. Seu filho não precisa da roupa da moda, da marca mais cara. Mas precisa do seu abraço, do seu conforto, do seu carinho. Eles não precisam do melhor plano de saúde. Precisam de pais que os façam enxergar que uma mente sã faz um corpo são. Precisam de pais presentes. E precisam, principalmente de pais que assumem suas próprias fraquezas, dúvidas, responsabilidades e atitudes. Pais que percebem que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor. Pais que saibam que a dor, o sofrimento e o esforço fazem parte da vida, nos moldam e ensinam melhor que a felicidade.Pais que se afastam do rebanho e escolhem seu próprio caminho. Pais inteiros para se doar.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Minhas escolhas, suas escolhas e o respeito

Fiz escolhas atípicas em relação ao meu filho. Fiz e faço. Desde a gestação me desviei do caminho escolhido pela maioria e decidi traçar minha própria trilha. Optei pelo parto natural, domiciliar, sou defensora ferrenha do protagonismo da mulher no nascimento do seu filho, além de ativista da amamentação. Estudo, pesquiso e me informo antes de tomar decisões em relação ao pequeno. Divulgo estudos sobre alimentação consciente, maternidade ativa e sobre a forma que acredito ser a mais respeitosa e amorosa de ensinar os pequenos a viver nesse mundão. Amo a maternagem e se alguém me pede um conselho ou ajuda, dou o máximo de mim. Isso porque acredito verdadeiramente que se queremos que o mundo seja melhor, precisamos mudar a forma de tratar nossas crianças.Mas essas são MINHAS escolhas. Sim, minhas, em caixa alta. Não as imponho a ninguém. Respeito seu direito de escolher como lidar com sua cria. 
Não dou papinha nestlé, nan, mingau, mas respeito seu direito de dar ao seu filho o que você quiser. Meu filho nunca provou um bico que não fosse o da mamãe, não sabe o que é uma chupeta, ou mamadeira, mas jamais me intrometerei no seu direito de dar a ele chupeta o dia inteiro. Não vemos os programas da moda mas não me recusarei a ir na sua festa da Galinha Pintadinha, nem criticarei sua coleção do Patati Patatá. 
Não suporto que deem opinião sobre a forma que cuido do meu filho. Exatamente por isso, não opino sobre a criação de ninguém. Respeito para ser respeitada. Se quer discutir, conversar e entender o porquê dos meus caminhos, estou aberta a conversas. Mas não me venha com conversas cheias de achismos. Não me venha com o que todo mundo faz. Não queira mudar minha opinião baseando-se em argumentos vazios. Estou realmente cansada dos pitacos alheios, das observações intrometidas e ignorantes. Portanto, antes de criticar o sling e falar que estou " judiando" do meu filho, pesquise sobre a exterogestação, sobre a importância do colo, do contanto. Antes de criticar o parto natural domiciliar, estude sobre violência obstétrica e os cuidados rotineiros com os neonatos. Antes de me dizer que danoninho vale mais que um bifinho, veja as estatísticas de obesidade infantil, leia a tabela nutricional do produto e as consequências nefastas na saúde da criança. Antes de dar uma opinião não solicitada, pesquise as evidências cientificas. Antes de me criticar por não seguir cegamente um pediatra, leia as orientações da organização mundial de saúde e da sociedade brasileira de pediatria. E antes de me dizer que chorar faz bem para o pulmão, respire e cale-se. Tamanha ignorância não exige apenas leitura, exige um encontro consigo mesmo. Exige o mínimo de humanidade e amor.
Minhas escolhas não desvalorizam as suas, não são críticas a sua vida. Minhas escolhas levam em consideração o bem do meu filho e da nossa família. O seu arranjo familiar não me importa. Mas as intromissões e opiniões infundadas desmerecem minhas horas de estudo e reflexão sobre a melhor forma de agir. Desmerecem meu cuidado, meu carinho e meus esforços. Desrespeitam meu espaço, do marido e o da cria. Invadem a intimidade da nossa família.
Existe vida fora da caixinha, existem outros caminhos além dos escolhidos pela maioria. Já chorei pelos filhos dos outros. Já assisti cenas que considerei lamentáveis. Mas sofri em silêncio, por respeitar o direito de escolha alheio. Não se ofenda quando falo apaixonada sobre a amamentação, ou afirmo que compartilho o quarto. Não entenda as criticas à alimentação infantil como indiretas. Estas escolhas nada tem a ver com você. Antes de opinar, ofendida, tente se despir de seus preconceitos e enxergar apenas uma mãe amorosa buscando dar o seu melhor. Não há mensagens subliminares, nem textos nas entrelinhas. Ninguém está te chamando de "menos mãe", ou pior, "menas mãe". A maternidade não é algo que caiba em um único adjetivo. Não estou competindo com ninguém. Busco as melhores opções para a minha cria. Da sua cria, cuida você.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Para tempo. Para.


O dia começou cedo. Miguel acordou às 5:00hr para mamar.Como de costume, o peguei do bercinho colado com a cama e o pus ao meu lado. Mas diferente dos outros dias, eu não dormi. Enquanto mamava o observei. Como está grande, como suas feições mudaram! 7 meses. Ontem eu pari, hoje ele completa 7 meses.  Enquanto o observava roguei a Deus por mais tempo.O tempo é impiedoso, passa sem nos pedir licença. Aquele bebê molinho, que apenas me olhava com grandes olhos expressivos deu lugar a um bebezão esperto que engatinha a casa toda, levanta segurando os objetos e ensaia os primeiros passos apoiando-se no sofá. Já não sou mais o seu mundo. As mãozinhas ávidas por novos toques, os olhinhos ansiosos por novas descobertas vão muito além de mim. O tempo me mostra que não o controlo. Meu bebê cresce rapidamente. A cada dia uma nova habilidade me mostra que um dia não será mais o meu bebê.
Para tempo, para mundo! Deixa que eu aproveite mais o cheirinho inigualável da minha pequena joia. O cheirinho que não há aroma no mundo que se compare. Cheirinho doce, inconfundível. Me deixa aproveitar um pouco mais os olhinhos que me observam, curiosos. O olhar que diz tudo que seus "dada-papa" não falam. Os olhinhos que me mostram que não preciso de palavras. Os olhinhos que me desnudam a alma. Os olhinhos que buscam os meus pra ter certeza que está tudo bem.Ah, tempo, me deixa aproveitar mais essa relação de confiança, dependência e fusão que temos hoje. Me deixa curtir um pouco mais o calor do corpinho que me agarra quando está com medo, assustado.O corpinho que se lança de onde estiver, certo que o segurarei. Me deixa aproveitar os bracinhos que se abrem me pedindo abrigo. Quero mais tempo para aproveitar os momentos em que dormimos agarradinhos, em que sua cabecinha repousa em meu braço e nossas respirações alcançam um mesmo compasso.
Para tempo, para. Não quero que esses momentos passem. Quero ter pra sempre a energia de um bebê iluminando minha casa, minha vida. Quero aproveitar esse sorrisinho faceiro, de canto de boca, mostrando de leve os dois dentinhos que crescem. Quero aproveitar mais a pele aveludada, macia e quente. E curtir mais os gritinhos de alegria quando um dos gatos passa descontraído. Aproveitar essa certeza de que ele sempre volta. De que explora tudo, mas meu braço ainda lhe assossega. Aproveitar a convicção de que não sou mais seu mundo, mas ainda sou o melhor lugar do mundo. Aproveitar os momentos em que o observo, amando cada traço, cada característica, os cabelinhos enrolados e as mãos macias. 
Me deixa aproveitar, tempo. Aproveitar para que quando a hora de deixá-lo ir chegar, que eu esteja pronta.   Me deixa aproveitar e juntar o máximo de recordações gostosas possível. Me deixa gravar na minha memória os cheiros, os gostos. Me dá, tempo, oportunidade de costurar todas essas lembranças numa grande colcha pra me aquecer nos dias frios de ausência. Me dá a chance de me sentir pronta pra vê-lo crescer. Porque hoje, quando ele completa apenas sete meses, sinto uma pontadinha de dor, um pouquinho dele se desgrudando de mim. A cada mês o vejo mais independente e mais capaz de realizar proezas sem a mamãe. E não consigo deixar de imaginar o dia que será homem feito, arrumará as malas e seguirá seu rumo.Peço apenas, tempo, que desacelere. Meu coração de mãe babona quer mais. Quer mais colo, mais cheiro, mais carinho, mais dengo. Quer mais beijo, mais grude, mais cheirinho no pé.O coração de mãe quer mais brincadeira boba, mais aperto no nariz, mais dedinho no ouvido. Quer ter a certeza de ter aproveitado tudo, de ter dado tudo de si. Para, tempo. Para.

quarta-feira, 6 de março de 2013

A mãe recém-nascida

Hoje, em visita a uma pessoa muito querida, revivi meu pós-parto. Não que tenhamos passado pela mesma situação, mas eu sei que tinha aquele mesmo olhar. Um olhar de medo, de tensão, de confusão, mas sobretudo de muito amor. Fui muito bem amparada no meus primeiros dias de puérpera. Minha parteira amada cuidou da mãe recém-nascida, me acalmou, me ajudou, me acolheu. Falo recém-nascida porque é o que somos, é como nos sentimos. Bebês que acabaram de chegar em um mundo novo. Tudo é diferente. Esquecemos de toda uma vida de aprendizado e somos apenas sentidos, quase que irracionais. O novo ser que recebemos de braços abertos nos tira o chão. O mundo que idealizamos durante a gravidez, do lindo bebê mamando tranquilamente, enquanto afagamos seus cabelos fica apenas em sonho, nada sai como planejado, o bebê não leu o script, não segue o roteiro e nos deixa perdidas na improvisação.
Assim que meu pequeno nasceu eu o agarrei nos braços e pus no peito. Minutos depois estava mamando, muito afoito. Dormiu toda a noite, e eu, exausta depois de horas de trabalho de parto, apaguei junto.Mas a manhã que nasceu trouxe consigo uma nova realidade. Eu não sabia amamentar. A gente sempre acha que sabe, que vai ser super fácil. É só colocar no peito, ué?! Não, não é só colocar no peito. É controlar nossa própria ansiedade em vê-los mamar, e controlar a ansiedade deles, agoniados, famintos de alimento e de amor. Cada mamada era uma nova jornada, para nós dois. Assim como o primeiro banho, as primeiras trocas de fralda, os primeiros choros. Estávamos ambos nos conhecendo e conhecendo o mundo a nossa volta. Meus olhos mudaram depois da maternidade, e eu estava me adaptando à nova forma de ver e sentir o que estava ao meu redor.
Por vezes olhava pra ele, e por mais que meu instinto me dissesse que eu saberia cuidar, eu sentia um medo enorme. Aquela criaturinha precisava de mim pra tudo. Se eu não o alimentasse, certamente morreria de fome. Se não trocasse suas fraldas ou desse banho ficaria na sujeira. Ele não sabia fazer nada por si só. Eu era a responsável pelo seu bem estar, pela sua vida. Nossa, como isso amedronta. Por vezes me perguntei se daria conta. Por vezes chorei pensando em como minha vida tinha mudado pra sempre, imaginado que era melhor ter deixado tudo como estava. Ah, a mãe recém-nascida conhece bem o medo. Medo de não reconhecer e diferenciar os choros. Medo de esquecer algo importante. Medo de não amamentar. Medo de deixar o bebê com fome. Medo do bebê morrer enquanto dorme - eu conferia de 30 em 30 minutos se Miguel estava respirando, colocava a mão bem de leve no abdome para sentir se estava mexendo. - Medo de não secar todas as dobrinhas e assar. Medo de não dar o banho direito. Medo daquela doença horrível que a vizinha falou. Medo da anemia, da icterícia, da patrulha ante-peito. 
E recém-nascidas que somos, precisamos de amor. O mundo novo assusta, e um ombro amigo e um colo ajudam um bocado.Por isso, quando for visitar uma mãe recém nascida, olhe-a com outros olhos e a enxergue como tal. Esqueça a mulher que você conhece há anos, ali, a sua frente, está um novo ser. Aquela mulher voltará aos poucos, mas nos primeiros dias de vida do bebê, ela está adormecida. Tenha paciência, porque a racionalidade está longe. Não exija raciocínio lógico ou segurança. Acalme, acalante. Principalmente respeite. Não dê opiniões, não conte histórias trágicas, não dê palpites. Tudo que ela menos precisa é de pitacos, de contos tristes ou de desencorajamento. Não importa como você criou seus filhos ou suas teorias sobre maternidade.Deixe que a recém-nascida se conecte àquele que a fez renascer. Em um dado momento, sem intromissões exteriores, ela irá perceber que esta mulher que nasceu sabe cuidar. Que a mulher que antes ela era não sabia reconhecer os choros, as dores, as angustias da cria. Mas essa que aflorou sabe. Sem interferências exteriores o tempo fará seu papel. As angustias, medos e temores da mãe recém-nascida darão lugar a uma segurança e tranquilidade incomuns. Também darão lugar a novo medos, receios e angustias.
Acho que como mães, com tanto amor que temos em nós, sempre teremos medo do que não podemos controlar. Sabemos que não podemos defender os pequenos de todos os males do mundo. Lutamos com o instinto visceral de pôr a cria embaixo da asa. A mãe, que nasceu cheia de inseguranças, dá lugar a uma leoa. Se antes eu tinha medo de não dar conta, hoje acredito que ninguém no mundo pode cuidar do meu filho como eu. Ninguém pode ler suas expressões como eu. Ninguém segura sua mãozinha como eu. Ninguém o coloca no colo como eu. Ninguém o protege como eu. Não há lugar no mundo que seja mais seguro que ao meu lado. Aos poucos descobrimos que esta mãe que nasceu tem super poderes e que é uma versão melhorada de nós mesmas.



segunda-feira, 4 de março de 2013

Uma galinha, dois palhaços e a moda da vez

Em um mundo ideal, a mãe ou o pai poderia se dedicar exclusivamente à criança, dar-lhe seu tempo e atenção, guiando os primeiros passos nesse mundo maluco. Infelizmente não vivemos em um mundo ideal. Trabalhamos, estudamos, temos muitos afazeres além de cuidar dos pequenos, e, precisamos vez ou outra, que se aquietem para que possamos cumprir nossas tarefas. É aí que entra a televisão. Colocamos em um dos trezentos milhões de canais dedicados à criança, sentamos os pequenos frente à TV e deixamos que o aparelhinho cuide deles enquanto realizamos nossos afazeres.Tenho me policiado muito para que isso não ocorra aqui em casa, por diversos motivos. Acho que criança tem que se mexer. Essa coisa de ficar paradinha frente a Tv não faz bem. Criança tem que ser criança. E tem que ter imaginação de criança. Acredito que as imagenzinhas prontas tiram da criança a criatividade de sonhar, limita o lado lúdico da vida.
Quando acontece de colocar Miguel para assistir algo enquanto cuido dos meus assuntos, tenho muita cautela no que coloco. Fujo dos canais, programas e desenhos da moda, sempre.Coloco um dos DVDs comprados para ele e que eu assisti e aprovei previamente. Não assistimos a galinha pintadinha ou o Patati Patatá, e sou muito criticada por isso. Mas você já pensou nas repercussões do que você coloca para seu filho assistir? O que é um programa bom para você? O que coloca seu filho quietinho e mudo, sem te atrapalhar?

Antes que achem que eu sou uma dondoca com dez empregadas e não preciso de nada que aquite meu bebê, informo que não tenho babá, cozinho, cuido do bebê, da casa - uma ajudante vem uma vez na semana - e da lojinha. Me divido em mil, e ter o bebê calminho por alguns minutos seria ótimo para agilizar todos os meus afazeres. Mas temos que ir muito além do óbvio. Nenhum programa de TV atual é, puramente, um programa de TV. Se pensarmos que nossas crianças vão desligar a televisão e não serão influenciadas pelo que assistiram, estamos sendo extremamente ingênuos. 
Como disse, sou muito criticada por afastar meu filho da tal galinha e dos palhaços. Mas minha decisão não foi aleatória, foi extremamente fundamentada. Saia de sua casa e vá ao mercado. Já notou quantos produtos dos citados programas você vê? Biscoitos cheios de açúcar, sapatos, roupas, brinquedos, sucos artificiais porcaria, cadernos, tintas e uma infinidade de lixo consumista. Não me importa se as músicas são ou não bacanas. A intenção dos criadores da marca é muito clara e não atende as minhas expectativas. Os tais programas são puramente comerciais. Não estão nem um pouco preocupados com a saúde, bem estar e desenvolvimento do meu filho. O intuito é lucrar. E lucrar de todas as formas possíveis, com todos os tipos de produtos imagináveis.
Não respeito marcas infantis que associam sua imagem a produtos porcaria. Brinquedos de péssima qualidade, comida cheia de açúcar,gordura e pobre em nutrientes. Além de uma publicidade desleal direcionada aos pequenos. Quando não permito que meu filho assista este ou aquele programa, estou protegendo-o dessa selvageria. Não estou sendo radical, estou sendo cuidadosa. Se meu filho não conhece a tal galinha, não vai entrar no mercado e querer aquele suquinho cheio de corante só porque tem a foto da dita cuja. Não vai chorar quando eu negar o boneco dos palhaços. 
Nós costumamos proteger nossos filhos de muitos perigos, e, no entanto, lhes damos de bandeja para o voraz mercado de consumo. Deixamos que sejam exposto a todo tipo de informação duvidosa, que sejam incentivados a consumir todo tipo de porcaria. Pior, deixamos que se tornem produto das grandes empresas. Criar na criança o vício pelo consumo garante a sobrevivência das grandes marcas. Ao expor meu filho a tanta publicidade estou permitindo que o mercado crie mais um consumidor. Estou permitindo que ele seja mais um produto, mais um consumidor inconsciente que deseja desesperadamente suprir necessidades que não possui. Por esses e por outros motivos  fechei a porta para os programas e canais da moda. Antes de colocar qualquer coisa para Miguel, assisto, analiso, estudo, observo. Pesquiso a forma que a criança é tratada, se como criança ou se como mais um produto/mercado consumidor.Não permito que a televisão ensine a ele valores que abomino. Dá mais trabalho, sem dúvida. Mas meu filho não toma decisões por si só, e, se nós, como pais, não os protegermos, quem irá fazê-lo?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Não tenha filhos

Falo de maternidade com muita paixão, agradeço a Deus o dia em que tive um filho. Olho para minha cria e babo imensamente. Mas ter filho dá trabalho, e muito. Um trabalho que pra mim é muito prazeroso, mas trabalho. Em tempo integral, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Não existe folga ou férias. Se você quer permanecer vivendo como vive, não quer abrir mão de nada por um outro ser, faça um favor a si mesmo e à sociedade: Não tenha filhos. Não se empolgue com o bebê fofinho de sua vizinha, ou com a cobrança que insistem em fazer aos casais. Filhos não são brinquedos, não são mais um degrau no seu status social. Eles requerem muito, eles merecem muito.
Volta e meia me deparo com situações em que me pergunto porque cargas d'agua a pessoa resolveu ter um filho. Meu bem, se você acha que amamentar é coisa de pobre, que não quer criança pendurada em você, não tenha um filho. O Bebê necessita do leite materno para que se desenvolva da maneira adequada. E precisa do colo e carinho de mãe que normalmente acompanham os momentos de amamentação. Se você acha que seu sono é sagrado e que noite perdida só se for na balada, esqueça a ideia de ter um filho. Seu filho vai tirar seu sono várias vezes ao longo da vida. Vai acordar, enquanto bebê, para mamar, para brincar ou simplesmente para ficar perto de você, e para ele não faz diferença se são dez da manhã ou duas da madrugada. Vai adoecer algumas vezes e precisará de cuidado e vigília.Não perder noite não é uma opção, tá no pacote básico, vem de fábrica. Se você não é capaz de se doar, não tenha filhos. Eles precisam de doação de tempo, de amor. Requerem altas doses de paciência. Ah, outra coisa muito importante. Se você quer alguém que dorme sozinho, sem precisar ser ninado, brinca sozinho e que seja altamente independente, definitivamente, não tenha filhos. O filhote humano é dependente por natureza. É mais um item que vem de fábrica. Serão anos de absoluta dependência. E mais alguns anos de relativa dependência. Precisarão dos pais para mantê-los vivos, seguros, protegidos. Precisarão de atenção para que se desenvolvam bem física e emocionalmente. E o melhor de todos, se você acha que filhos são um investimento, oh Deus, não tenha filhos. Invista na bolsa, será mais seguro. Talvez em imóveis. Mas não em filhos. No futuro pertencerão a eles mesmos e sua opinião será apenas isso, uma opinião. Não vão lhe devolver os valores gastos em fraldas, comida, escola, plano de saúde, brinquedos, roupas. O que oferecemos a eles não deve ser esperando um retorno, uma compensação futura. Se você é incapaz de enxergar isso, não tenha filhos.
Ia esquecer de um motivo absurdo mas muito usado: se seu relacionamento está uma merda, NÃO TENHA FILHOS. Filhos não prenderão seu namorado ou namorada. Não salvarão seu casamento. Muito pelo contrário, se a sintonia do casal não for bem bacana, se ambos não tiverem maturidade e sabedoria, o casamento vai para as cucuias. As noites de sono perdido, os saltos e picos de desenvolvimento, e a loucura hormonal e emocional do puerpério exigem bastante do casal, acredite, não são a receita mais eficaz para garantir o adiamento do fim. Faça um viagem a dois, é mais barato, mais prático e o resultado seria mais garantido.
Existem um milhão de razões para se ter filhos. Eu listaria muitas delas. Começar o dia vendo um sorriso do meu bebê, hoje com dois dentinhos, não tem preço. Deitar na cama com ele e o maridão, apenas pra brincar e rir, é algo impagável. Amamentá-lo, sentir o "bafinho" de leite e o carinho das suas pequenas mãozinhas faz valer cada noite em que pedi a Deus forças para não desmaiar de sono em cima dele. Mas para viver cada coisinha dessas eu abri mão de muito. Filhos mudam tudo, tiram tudo do lugar. Chegam sacudindo nossas vidas, remanejando nossas prioridades, alterando nossa realidade de maneira irremediável. Depois que chegam, nada, mas nada mesmo, voltará a ser como antes. Nós nunca mais seremos como antes. Se você não está dispost@ a pensar no bem deles antes mesmo de pensar em você, siga sua vida sem filhos. Os filhos que você não terá agradecem.