quarta-feira, 6 de março de 2013

A mãe recém-nascida

Hoje, em visita a uma pessoa muito querida, revivi meu pós-parto. Não que tenhamos passado pela mesma situação, mas eu sei que tinha aquele mesmo olhar. Um olhar de medo, de tensão, de confusão, mas sobretudo de muito amor. Fui muito bem amparada no meus primeiros dias de puérpera. Minha parteira amada cuidou da mãe recém-nascida, me acalmou, me ajudou, me acolheu. Falo recém-nascida porque é o que somos, é como nos sentimos. Bebês que acabaram de chegar em um mundo novo. Tudo é diferente. Esquecemos de toda uma vida de aprendizado e somos apenas sentidos, quase que irracionais. O novo ser que recebemos de braços abertos nos tira o chão. O mundo que idealizamos durante a gravidez, do lindo bebê mamando tranquilamente, enquanto afagamos seus cabelos fica apenas em sonho, nada sai como planejado, o bebê não leu o script, não segue o roteiro e nos deixa perdidas na improvisação.
Assim que meu pequeno nasceu eu o agarrei nos braços e pus no peito. Minutos depois estava mamando, muito afoito. Dormiu toda a noite, e eu, exausta depois de horas de trabalho de parto, apaguei junto.Mas a manhã que nasceu trouxe consigo uma nova realidade. Eu não sabia amamentar. A gente sempre acha que sabe, que vai ser super fácil. É só colocar no peito, ué?! Não, não é só colocar no peito. É controlar nossa própria ansiedade em vê-los mamar, e controlar a ansiedade deles, agoniados, famintos de alimento e de amor. Cada mamada era uma nova jornada, para nós dois. Assim como o primeiro banho, as primeiras trocas de fralda, os primeiros choros. Estávamos ambos nos conhecendo e conhecendo o mundo a nossa volta. Meus olhos mudaram depois da maternidade, e eu estava me adaptando à nova forma de ver e sentir o que estava ao meu redor.
Por vezes olhava pra ele, e por mais que meu instinto me dissesse que eu saberia cuidar, eu sentia um medo enorme. Aquela criaturinha precisava de mim pra tudo. Se eu não o alimentasse, certamente morreria de fome. Se não trocasse suas fraldas ou desse banho ficaria na sujeira. Ele não sabia fazer nada por si só. Eu era a responsável pelo seu bem estar, pela sua vida. Nossa, como isso amedronta. Por vezes me perguntei se daria conta. Por vezes chorei pensando em como minha vida tinha mudado pra sempre, imaginado que era melhor ter deixado tudo como estava. Ah, a mãe recém-nascida conhece bem o medo. Medo de não reconhecer e diferenciar os choros. Medo de esquecer algo importante. Medo de não amamentar. Medo de deixar o bebê com fome. Medo do bebê morrer enquanto dorme - eu conferia de 30 em 30 minutos se Miguel estava respirando, colocava a mão bem de leve no abdome para sentir se estava mexendo. - Medo de não secar todas as dobrinhas e assar. Medo de não dar o banho direito. Medo daquela doença horrível que a vizinha falou. Medo da anemia, da icterícia, da patrulha ante-peito. 
E recém-nascidas que somos, precisamos de amor. O mundo novo assusta, e um ombro amigo e um colo ajudam um bocado.Por isso, quando for visitar uma mãe recém nascida, olhe-a com outros olhos e a enxergue como tal. Esqueça a mulher que você conhece há anos, ali, a sua frente, está um novo ser. Aquela mulher voltará aos poucos, mas nos primeiros dias de vida do bebê, ela está adormecida. Tenha paciência, porque a racionalidade está longe. Não exija raciocínio lógico ou segurança. Acalme, acalante. Principalmente respeite. Não dê opiniões, não conte histórias trágicas, não dê palpites. Tudo que ela menos precisa é de pitacos, de contos tristes ou de desencorajamento. Não importa como você criou seus filhos ou suas teorias sobre maternidade.Deixe que a recém-nascida se conecte àquele que a fez renascer. Em um dado momento, sem intromissões exteriores, ela irá perceber que esta mulher que nasceu sabe cuidar. Que a mulher que antes ela era não sabia reconhecer os choros, as dores, as angustias da cria. Mas essa que aflorou sabe. Sem interferências exteriores o tempo fará seu papel. As angustias, medos e temores da mãe recém-nascida darão lugar a uma segurança e tranquilidade incomuns. Também darão lugar a novo medos, receios e angustias.
Acho que como mães, com tanto amor que temos em nós, sempre teremos medo do que não podemos controlar. Sabemos que não podemos defender os pequenos de todos os males do mundo. Lutamos com o instinto visceral de pôr a cria embaixo da asa. A mãe, que nasceu cheia de inseguranças, dá lugar a uma leoa. Se antes eu tinha medo de não dar conta, hoje acredito que ninguém no mundo pode cuidar do meu filho como eu. Ninguém pode ler suas expressões como eu. Ninguém segura sua mãozinha como eu. Ninguém o coloca no colo como eu. Ninguém o protege como eu. Não há lugar no mundo que seja mais seguro que ao meu lado. Aos poucos descobrimos que esta mãe que nasceu tem super poderes e que é uma versão melhorada de nós mesmas.



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