quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um papo sobre a manha

Sou uma pessoa muito educada. Costumo conversar com as pessoas, ouvir e responder educadamente. Mas tem coisa que me faz perder a paciência, as estribeiras, a educação, o bom humor. Das muitas coisas que me irritam, a que encabeça a lista do top 5 é que bebê faz manha. Ah, dá vontade de virar as costas e deixar a pessoa vomitando besteira sozinha. Minto, dá vontade de mandar pra um lugar bem bonito e fofinho. Só que não. Já parou pra procurar o significado de manha no dicionário, cara pálida? Você realmente acredita que um bebê, que não sabe satisfazer suas necessidades mais básicas e primitivas sozinho, consegue ser astuto e ardiloso? Jura? Do fundo do coração? 
Acreditar na manha é, no mínimo, ilógico. Um bebê que acabou de sair da barriga da mãe,que não faz ideia de como o mundo funciona, nem mesmo de quem ele é, que precisa que lhe limpem a bunda suja, alimentem e vistam é obviamente incapaz de ser ardiloso. De maquinar qualquer coisa que seja. Incapaz. Não possui capacidade neurológica ou emocional para isso. Não precisa ser um neurocientista pra saber, qualquer um que pare dois segundos para ligar os pontos consegue enxergar. 
Bebês são seres dependentes. E são dependentes não apenas física, mas emocionalmente. Precisam de nós para que construam sua própria identidade e visão de mundo. Precisam de apoio emocional, carinho, chamego. Opa, mas quem não precisa? Amo dengo, amo carinho e tem dia, que se eu pudesse, ficaria abraçada com o marido, deitada na cama, vendo um filminho e jogando conversa fora. Ok, normalmente estes dias ficam apenas na vontade. Porque sei que temos que trabalhar, porque temos nossas atividades e porque ainda não viramos hippies  - mas tenho cogitado bastante a ideia. Pois bem, se eu, pessoa adulta, amo um carinho, imagine uma criancinha que acabou de chegar nesse mundo e nem faz ideia que existem necessidades emocionais e necessidades físicas? Tudo é fome, tudo dói, tudo precisa ser atendido. A fome do peito dói como a fome de amor, de carinho, de aconchego. Ninguém explicou aos bebês que no mundo invertido dos adultos as necessidades emocionais são desprezadas. Eles ainda não sabem que calamos os nossos gritos por atenção, que nos acostumamos a dor da solidão. Ainda não aprenderam a se reprimir. Ainda não embruteceram. Então choram pelo colo, pelo carinho pela atenção. Choram como as vezes queremos chorar pedindo que nos abracem, pedindo um ombro amigo. 
Alguém vive só de comida? Você não precisa de nada além de roupas limpas e comida na mesa? Nada mesmo? Não precisa ligar pra um amigo, falar com o namorado, tomar um chop com a galera? Não precisa de abraço apertado, de beijo demorado e de cafuné? E porque temos que acreditar que bebês precisam apenas de limpeza e comida? Até nosso animalzinho de estimação recebe um carinho na barriguinha, além da ração e do cantinho pra dormir. Não faço ideia de quem iniciou essa conversa de manha, mas posso afirmar que, além de muito egoísta, esse ser era muito infeliz. Porque quem recebe dengo gosta de dar. Quem tá feliz de verdade, gosta de fazer feliz. Quem curte o aconchego de um abraço, gosta de abrir os braços pra aconchegar. 
Pra você, que acredita que criança faz manha, aconselho que deixe de se reprimir. Curta mais abraços apertados. Curta mais beijos longos, daqueles que fazem nossa alma se sentir beijada. Durma de conchinha. Peça um cafuné, aquele carinho de levinho na cabeça, que faz a gente amolecer e dormir. Receba mais cheirinho no cangote. Depois de doses cavalares de carinho e dengo, você entenderá que a necessidade de aconchego é tão importante quanto a necessidade de comida. Que a falta de carinho não mata fisicamente, mas mata a alma e nos põe em um estado vegetativo. Ah, você vai saber que um carinho bem feito faz a vida valer a pena. E vai entender que a criança que chora por aconchego sabe que solidão dói no estômago como a fome. Quem sabe assim seus dias se tornem menos amargos. Acredito verdadeiramente que se alimentarmos esta fome de amor, e ensinarmos aos pequenos que as necessidades emocionais também precisam ser atendidas e supridas, o mundo um dia será um lugar bacana de se viver. Tenho esperança. 

4 comentários:

  1. Muito bom!!! Quem n gosta d um denguinho neh??

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  2. "A gente não quer só comida... " (Titãs) foi o fundo musical dessa postagem enquanto eu lia, rs. Perfeito Elisama, parabéns pelo texto, vou recomendá-lo a muita gente que acha que meu filho é manhoso pq só quer viver pendurado, rs. Bjs.

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  3. Me identifiquei totalmente. Sem dúvida é tb meu número 1 da lista dos comentários mais irritantes sobre maternidade. Engraçado que colo pode viciar e por isso deve ser evitado mas chupeta e outros acessórios alienantes são permitidos, né? Nossa, a história da manha tb me tira do sério! Abs, Gabriela

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