terça-feira, 2 de abril de 2013

E porque não falar dos espinhos? ou Quem nunca?

Como boa nordestina, vou começar o post com um ditado que traduz com perfeição a difícil tarefa de educar um filho: " Rapadura é doce, mas não é mole não!". Ah, mas não é mole mesmo! Sempre escrevo sobre maternidade como uma paixão, algo lindo e inigualável. Não é mentira, nem exagero. A maternidade é mágica, fantástica e blábláblá. Mas tem espinhos, e muitos. E tem dias que a gente quer fugir, voltar a fita, sair correndo como uma louca sem nem olhar pra trás. Ah, amiga, tem dias desses sim, e isso não mede o tamanho do seu amor ou a sua qualidade como mãe. Portanto, se você acha que suas flores virão sem espinhos, e pretende manter viva esta ilusão, para por aqui mesmo. Tem muito texto apaixonado aqui no blog, esse aqui fala dos espinhos, e das coisas que ninguém conta.
Pois bem, lá vamos nós. Assim que meu filho nasceu, o peguei nos braços, babei, achei lindo, maravilhoso, mas aquele amor de tirar o chão não veio assim, no primeiro olhar. Hoje o amo mais que no dia do nascimento. Acho que cresce um pouco mais a cada dia, ainda bem, já que o trabalho também cresce consideravelmente a cada habilidade adquirida. Sinto que estou jogando um vídeo game, daqueles bem difíceis, e a cada fase que finalmente consigo vencer, avanço para uma mais complicada. E haja estudo, paciência e amor. Pra piorar um pouco mais, a cada mês acumulo mais horas de sono perdidas, mais dor na  coluna  e menos tempo para mim. Sim, sim, horas de sono perdidas, muitas delas. Ouvi de muita gente que o filho dormia bem, a noite inteira, e me iludi que isso aconteceria aqui em casa. Juro que fico puta da vida quando alguém me diz que o filho nunca acordou de madrugada. Na boa, ou a pessoa sofre de uma bela de uma amnésia, aquela memória seletiva que apaga os momentos ruins, ou é um ser sádico com vontade de ver nosso olhar de "porque comigo, meu Deus?".Converso com muitas mães com bebês de uma idade semelhante à do meu filho, e todos, TODOS os bebês acordam algumas vezes durante a madrugada. Quando ele acorda uma única vez, mama e dorme novamente, fica tudo lindo. O problema é quando acorda, faz cocô e quer comemorar o feito. Ou quando quer mostrar a mais nova habilidade, ou treinar as várias entonações do ba-bá,dá-dá,má-má,pá-pá. Aí você pede pelo amor de Deus que ele durma, explica pela milésima vez, no escuro da noite, que mamãe está cansada, que precisa dormir. Os olhos ardem, a cabeça dói. Mas os grandes olhinhos brilham e não dão a mínima para a sua súplica. Desesperada você desiste e coloca a criaturinha no berço, no meu caso ao lado da minha cama, esperando que durma sozinho - doce ilusão. Mas a cabeça de mãe neurótica não consegue parar, a cria começa a conversar cada vez mais alto, a cada segundo mais esperta e você percebe a merda que fez. Promete a si mesma, no momento de desespero, que ao amanhecer vai comprar uma chupeta. E que a noite vai dar um mingau bem grosso e pesado - amigas ativistas, até a mais consciente das mães de vez em quando pensa uma besteira destas. Depois de alguns muitos minutos, algumas vezes horas, de luta, ninadas, canções e muito mamá, o pequeno dorme. Mas você comete a besteira de olhar o relógio e percebe que faltam poucas horas para amanhecer. E que a cotovia que pôs no mundo acorda pontualmente às 5:40h, as vezes antes. Lembra das milhares de coisas que tem pra fazer no dia que está chegando. Levanta mais uma vez e tem certeza que ele tá dormindo. E trava uma briga intima para desligar. Quando finalmente dorme, o tempo, sacana como é, passa em segundos e o reloginho grita querendo mamar, brincar, conversar e que lhe troquem a fralda.
E você, com o pouco de ilusão que lhe resta, pensa que irá dormir a tarde pra compensar a noite perdida. Mas os 70 e poucos centimetros de criança não param mais. Eu achava lindo uma criança engatinhar. Olhava e babava pensando em quando o meu começaria. Agora, juro por tudo que é mais sagrado, fico com dó da coitada que me conta feliz que o baby aprendeu a engatinhar. Não sabe o que lhe espera. De domingo a domingo a casa tem que ser toda limpa e aspirada pra que o pequeno possa explorar. Os objetos de decoração que você comprou com carinho vão ficando cada vez mais escondidos em nome da segurança. Esconde-se telefone, modem, caixa de som.Tem dias que nem eu mesma sei onde escondi o celular. Os brinquedos dele são coloridos demais, bonitinhos demais. Acho que ele gosta de coisas menos chamativas. Do velho cinza do controle remoto ou do preto do celular. E do rabo do gato também. E aquela paranoia que você tinha de manter tudo limpo e organizado vai por água a baixo. O guri lambe a parede, agarra qualquer sandália que esteja vacilando e rói os móveis. Sim, sim, rói os móveis. Os tais dentinhos que deram um trabalho pra nascer, que causaram dor em você e nele causarão prejuízo. Depois de muito aprontar, vem o primeiro cochilo do dia. Liga-se o cronometro, tenho exatamente 40 minutos para deixar tudo em ordem, aprontar a comida, escovar os dentes e acabar de passar aspirador na casa. Os minutos passam e o banho fica pra depois. Hora de voltar a correr atrás de uma criaturinha que veio com 10 dentro e uns 5 correndo por fora! "A mão de Miguel fica longe da tomada", "O telefone fica fora da mãozinha de Miguel." " A gatinha fica longe de Miguel". Nessa loucura o dia se vai, e você percebe que tomou um banho de 20 segundos enquanto o gato e o menino gritavam na sala, um com dor e o outro de êxtase.
Quando finalmente o pequeno dorme, toma um banho um pouco mais demorado, mas não muito, porque tem que aproveitar o tempo para ajeitar um trilhão de coisas, come com um pouco mais de calma, senta no computador e começa a trabalhar. Sim, sim, trabalhar. Cumprir prazo, estudar algumas coisas, atender cliente. E aí decide dormir, deita exausta, acabada e com dor em todos os ossinhos e músculos do corpo, com uma imensa vontade de descansar e com uma incansável esperança de que a noite será um pouco melhor e que o bebê dormirá a noite toda. Três horinhas depois - com sorte - o pequeno acorda e mostra que a tão sonhada noite ininterrupta de sono ficará para a próxima vez.
A gente acorda, olha no espelho, vê que as unhas foram feitas no século passado, que as olheiras estão mais fundas que o oceano, que a pele está opaca, sem vida e pálida e que o cabelo precisa ser lavado e hidratado com urgência. Pensa que você foi uma maluca em ter inventado filho, que tava tudo certo como era, que nunca mais vai dormir, comer ou viver em paz. Sonha com uma folguinha da maternidade. Mas a criaturinha olha pra gente com um olhinho curioso, e um sorrisinho com dois dentinhos que coloca o sorriso da Julia Roberts no chinelo. Abre os braços e faz tudo valer a pena. A gente recebe um carinho melado de mão babada, se sente muito especial e privilegiada, e a mãe maluca, cansada e descabelada percebe que não poderia estar com outra vida, ou em outro lugar. 

4 comentários:

  1. Chorando aqui... Bom saber que não estou sozinha nesse barco, me sinto menos culpada pelas vezes que pensei e comprar uma chupeta pra ver se conseguia dormir, rs. Não comprei, não tenho dormido, me identifiquei completamente com o texto, por aqui tem sido igual, sem o gato, mas com a escada que me faz ter pesadelos dia e noite... Sinta-se abraçada! Bjs.

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    1. É Fernanda, tem dias que a noite é f*&%!

      Fizemos escolhas conscientes, mas sem dúvidas muito difíceis.

      Com certeza vamos colher bons frutos, não?!

      Beijo!

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  2. Que coisa mais linda. Me vi em seu relato. Também trabalho cuido da casa, do marido e de meu pequeno que completa um aninho esse mês. Graças a Deus ele não acorda muito a noite desde os dois meses. Mais a maioria das vezes dorme tarde e eu com sono faço de tudo pra ele dormir. É tudo do jeito que você falou, é lindo mais difícil.

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    1. Ah, só a gente sabe a dor e a delícia de ser mãe, não é, Aline?

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