domingo, 14 de setembro de 2014

Recomeços.

As gotas de leite pingando no chão me diziam que eu estava mais uma vez parida. Era a minha primeira semana sendo mãe de dois. Estava no banho, olhei para a barriga, então "vazia" e chorei. Não era um choro de tristeza, nem de felicidade. Era choro de puérpera. Choro de quem passou nove meses sendo dois, e tornava-se novamente uma. Recém-parida e recém nascida. Porque no parto também nasce uma mãe. Até então me conhecia como mãe de Miguel. No parto nasceu a mãe de Helena. Nasceu com dor, com lágrima, com descontrole. Nasceu como tinha de nascer. 
Nunca duvidei que amaria minha filha. Nunca achei que a amaria menos que a Miguel. Mas em momento nenhum tive noção do que amar a dois filhos significa. Amar aos dois é algo transcendental. Não dividi meu coração, ganhei outro. Vê-los juntos faz tudo ganhar sentido. Cada vez que a pequena ri para o irmão me faz conhecer um sentimento que só a mãe de dois pode ter. Mas nem tudo é lindo, é romântico, é ideal.
Nos primeiros dias com a pequena Miguel me rejeitou. Negou meu abraço. Não quis o meu colo. Conheci uma dor que nunca tinha sentido. Chorei imaginando que não daria conta, que ter dois filhos era uma loucura. O olhar de menino traído me atingia profundamente. Como eu pude fazer isso com ele? Como pude ceder seu colo para uma estranha assim? Depois de dois dias ele me permitiu um  abraço. Tímido, contido. Agarrei meu filho com força e chorei. Mais uma vez.  Porque puérpera, recém nascida que é, chora. Chorei dizendo que o amava e que o bebê que agora mamava nos seios que foram dele tinha vindo para a nossa casa para abençoar e multiplicar o que tínhamos. Falei para ele (e para mim) que não havia divisão. 
Hoje, quase dois meses depois de parida, aprendi que o segundo filho vem como precisamos que seja. Vem porque a família precisa de ainda mais amor. Vem porque tem muito a dar e ensinar. Vem para completar. Senti medo de não dormir nunca mais. Minha filha veio com um sono tão gostoso e tranquilo que dormir ao seu lado me faz dormir melhor que antes de sua chegada. Sua energia calma adoça o dia. O segundo puerpério é mais leve, menos tenso, menos assustado. Não tenho a vontade de ser a mãe perfeita. Não tenho medo de não saber o que fazer. Meu corpo já gestou e pariu dois. Já alimentou um. Sei que sou capaz. Gasto menos tempo lendo sobre maternidade. Passo mais tempo vivendo a maternidade. Duvido menos, acredito mais. Sei que bebês choram e que, por vezes, me resta abraçar, amar, consolar. Os momentos de colo são melhor aproveitados. No colo agora cabem dois. E no chuveiro somos três.
Como disse, nada é perfeito. Os dias seguem oscilando em dias muito fácies e realmente incríveis e dias de piração total.Por vezes são dois choros, ao mesmo tempo, e tenho que escolher a quem atender primeiro.São duas demandas diferentes. São dois seres diferentes me tornando alguém que ainda estou conhecendo. No puerpério conhecemos o bebê e nosso novo eu.
Pois agora sou mãe de dois. Tenho dois corações batendo forte no peito. E dois pedaços de mim no mundo. Tenho dois motivos para acordar. Dobrou o amor dentro de casa. Dobrou o choro. Dobrou o riso. O dobro de vontade de fugir. E de razões para ficar. Duas vezes mais beijo, mais dengo, mais carinho. Duas vezes mais cheiro de vida. Mais vida. Dois Sóis iluminando e aquecendo a fria solidão do pós parto. Cá estou, com um recomeço nos braços e entendendo que a vida tem suas próprias razões.  


2 comentários:

  1. Lindooooo! Parabéns! Td de bom nesta nova jornada! E volte mais vezes partilhar como está sendo para nos encorajar! ;-)

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