segunda-feira, 17 de junho de 2013

Carta a uma amiga grávida

Querida amiga,

Não tenho a pretensão, com esta carta, de te preparar para o turbilhão de emoções e mudanças que estão por vir. Não se engane, você jamais estará preparada. Então, sente e respire. Relaxe. A gravidez recém descoberta passará mais rápido do que você imagina. Em poucos meses o bebê que hoje é só uma manchinha no ultrassom estará em seus braços, te olhando fixo e revirando sua vida pelo avesso. Os dias passarão acelerados, curta a gestação, você sentirá saudades imensas dela. Lembro que, logo quando descobri a gravidez, torcia para que o tão sonhado dia do parto chegasse...mais pro final, torcia para que a gestação não acabasse nunca. Sei que você ouvirá um milhão de opiniões e absurdos sobre a gravidez, mas quem te fala aqui é uma apaixonada pela barriga. Uma maluca que se sentiu tão linda e fêmea com a gravidez que desejava passar um ano grávida. Não é romantismo. Senti dores, incômodos. Uma azia que  me queimava por dentro e me dava a clara sensação de que o pequeno estava acendendo uma fogueira ou soltando fogos! Mastigava gelo como se fosse chicletes. Mas se ter um filho fosse só a gravidez, eu já estaria com o segundinho aqui, crescendo em mim. Acredite quando falo que você sentirá saudades da barriga. Você jamais olhará uma gravida com os mesmo olhos de antes da gestação. Aliás, vale te informar, você jamais olhará o mundo com os mesmo olhos de antes da gestação. Tudo muda. Se permita mudar. Não lute, não evite o inevitável. Esta mudança é necessária. Deixe que, nestes meses que se seguem, cresçam seu filho e seu novo eu. Quando engravidei, achava fraldas de pano um retrocesso, acreditava que amamentaria apenas por 6 meses, via na surra uma forma de educar - talvez a única e pregava a eficácia de deixar chorar(oh, God, que vergonha). Eis que eu, que sempre fui uma mulher altamente consumista e "moderna" me tornei uma "índia". E tenho que confessar, me orgulho muito de me permitir transformar e mudar. A gravidez foi um divisor de águas na minha existência. Deixe que o seja na sua também. Esqueça o que todo mundo faz, o caminho mais largo. Trilhe sua própria trilha.
Não posso deixar de falar: gravidez não é doença. É saúde. Muita saúde. Saúde para dois. É o ápice, o auge. É a fêmea na plenitude de seus instintos. Se permita ser fêmea. Se permita se animalizar. Permita que seu instinto te guie. Aproveite as sensações aguçadas e maximizadas pela gravidez. Sinta os cheiros, abuse do paladar apurado. Respeite as ânsias, as dores, os enjoos. Se sinta linda. Se veja linda. Você está linda, e ficará cada dia mais bela. As curvas que a gravidez te dará te embelezarão ainda mais. Cuide do ganho de peso, da pele, da alimentação, mas não se apavore com isso. Cada marca que ficará te fará lembrar de dias felizes. Ainda me emociono com cada fotografia minha grávida. Aquele brilho nos olhos foi único. O brilho de carregar um novo ser. 
Você sentirá algo imensamente privilegiado: os movimentos do seu filho. As tremidinhas iniciais se tornarão chutes fortes e vigorosos. O primeiro movimento é indescritível, único, mágico. Quando senti o primeiro chute, estávamos lá pelas 18 semanas, uma lágrima de emoção escorreu. Seguida de várias outras. Daí por diante os chutes e movimentos se tornaram as respostas às longas e intermináveis conversas que tínhamos.Ah, as lágrimas. Estas se tornarão companheiras. Ora de alegria, ora de medo, ora de dor. Acostume-se a chorar. A se emocionar. Chorei algumas vezes em propagandas de Tv. Chorei ouvindo música. Chorava ao ouvir o coração do meu pequeno. A gravidez nos deixa absolutamente sensíveis. E essa sensibilidade é o que nos faz entender as necessidades de um ser que não fala e que se comunica, muitas vezes, apenas com o olhar. Mas não se engane, junto a essa sensibilidade, nasce uma força sobrenatural. Você virará uma leoa. Uma fêmea brava e feroz. Você descobrirá que seus limites vão muito além do que conhecia. Se respeitará mais. Se amará mais. Se conhecerá. O mundo não será um mar de rosas. Você sentirá uma dor tão profunda que jamais imaginou sentir. Sentirá vontade de fugir, de sumir, de desaparecer. E quem sabe um dia aprenderá a conviver com essa dualidade de sentimentos que um filho traz.
Não posso deixar de aconselhar que lute pelo parto. Lute. Se esforce, corra se preciso. Fuja dos médicos que desencorajam, do sistema que enfraquece, do capitalismo voraz que nos reduz a nada. Não se permita violentar. Parir é importante. Lutei firmemente e me sinto feliz por ter vencido a guerra. Colocar seu filho no mundo, você mesma, é mágico. Exija respeito. Se informe, leia, estude. Não entregue sua gravidez ao médico, não confie no sistema, não seja coadjuvante do seu parto. Assuma o protagonismo da gestação e do parto. Não seja uma paciente. Não, não na gravidez, não no parto. Assuma as rédeas e confie em seu corpo. Esqueça os úteros hostis e os cordões assassinos. Não há lugar mais seguro, para seu filho, que dentro de você. Seu útero foi projetado para acolher. Seu corpo foi feito perfeito para parir. 
Vou ficando por aqui. Falar de gravidez me faz render o assunto. Espero, sinceramente, que você consiga viver a beleza de engravidar. Que você consiga se reconhecer linda. Que você consiga se entregar de corpo e alma. Que você consiga respeitar seu corpo e seu momento. Que você se permita metamorfosear e renascer. Viva com paixão. 

Um beijo 


2 comentários:

  1. Adorei o texto e me identifiquei muito.
    Hoje estou na fase do fugir, sumir.. ir para um canto so meu e da minha filha. Para ficar só juntinho dela, sem as intervenções, sem os conselhos... necessidade profunda de me aprofundar. Estou em silencio, quieta. me encontrando na meditação. muito grata por compartilhar sua experiencia.

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    1. Temos estas deliciosas fases, Jaqueline. O silêncio é m excelente conselheiro!
      Um beijo

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