terça-feira, 16 de julho de 2013

E quando você volta a trabalhar?

Ao longo da gestação muitas coisas mudaram em mim. A medida que a barriga crescia algumas convicções se firmavam e se mostravam como escolhas mais adequadas para nós - marido, filho e eu. Destas escolhas, a que mais impacto causou em minha vida foi deixar de trabalhar. Estava acostumada com o ritmo frenético de um escritório de advocacia, com clientes ligando, com prazos findando, com o dinheiro na conta no final do mês.Mas nada disso se mostrava prioridade após a chegada do meu filho, ele não se encaixaria bem nesta rotina. Optamos, então, por me dedicar exclusivamente a ele. E foi aí que descobri como a nossa sociedade está com os valores completamente distorcidos, e como as mulheres não sabem o que é machismo, tão pouco feminismo. Recebo incessantes cobranças de quando voltarei a advogar. Todos, sim, todos que me encontram perguntam quando volto ao batente...e meu filho tem apenas 11 meses. Já ouvi que estou desperdiçando meu tempo, que joguei os 5 anos de faculdade fora e que meu diploma - no caso, minha carteira da OAB - não deve ficar guardada em uma gaveta. E que é importante, para a mulher, que ela não dependa de um centavo sequer do marido.
Nos acostumamos tanto com a figura da mulher-mãe-profissional-esposa que achamos ser este o modelo perfeito. Nos habituamos tanto a babá trocando as fraldas, dando leite na mamadeira e educando nossos filhos que não aceitamos quem sai deste padrão. Pois bem, decidi sim trocar fraldas, amamentar, cozinhar e cuidar do meu filho. Optei por estar presente quando a primeira palavra foi falada, por amparar os primeiros passos. Decidi não assistir, de longe, o desenvolvimento da minha cria, acreditando que quantidade e qualidade de tempo são igualmente importantes.
Desde quando ficar em casa, educando o meu filho, dando-lhe amor, carinho e atenção é desperdício de tempo? Algo está errado em seus conceitos! Criar um ser humano melhor deveria ser a nossa prioridade! Passar ao filho os valores que acreditamos, direcionando num caminho bacana está muito longe de ser improdutivo! Esta juventude vazia, consumista e alienada é fruto de uma sociedade que estimula a tercerização de suas responsabilidades. Decidir trabalhar em home office, mudar o rumo da carreira, foi um decisão consciente e acima de tudo responsável, uma decisão que abraça um conceito de vida que refletirá nas próximas gerações. Os anos de faculdade foram muito importantes e trouxeram uma vivência e experiência que são aproveitados diariamente. É um pensamento muito restrito e limitado acreditar que um diploma te amarra a uma única profissão para sempre, até que a morte os separe. Saber mudar e utilizar o aprendizado em outras realidades é inteligência emocional. 
Mas o argumento que, sem sombra de dúvidas, me tira do sério é que mulher não pode depender de marido. Pra ser respeitada por meu marido preciso dividir com ele as contas da casa? Jura? Tá aí outra demonstração de que falta a quem pensa assim um pouco de raciocínio lógico e inteligência. Não posso falar do casamento alheio, mas no meu o respeito independe de conta bancária ou de trabalho. Nos respeitamos por sermos quem somos e pelo que nos tornamos juntos. Respeitamos nossas escolhas por merecemos respeito, simples assim. Somos companheiros e parceiros, nossas vitórias e derrotas são divididas. Quem paga o aluguel ou a conta do restaurante pouco importa. Portanto, querida amiga-mulher-pseudo feminista, se você realmente acredita que para se fazer respeitar precisa de um contracheque, sinto te informar que você é tão machista quanto quem sonha com Amélia. O direito de escolha é um alicerce da liberdade. Falta-lhe auto-estima e auto-confiança suficientes para sustentar as suas escolhas.
Não posso considerar uma opção fácil, principalmente para quem está acostumada a ter um emprego pra chamar de seu,  mas tem sido gratificante e rico. Jamais imaginaria perder cada descoberta e cada conquista do meu filho. Se um dia abandonarei o projeto da lojinha virtual e voltarei à advocacia? Não sei, não estou nem um pouco preocupada com isso. Pouco me importa a ansiedade alheia. Nas bandas de cá tenho utilizado meu tempo, meus esforços e minhas energias na produção de algo imaterial, impalpável e imensurável: um ser humano mais humano.

2 comentários:

  1. Neste momento: EMOCIONADA, COM SAUDADES E COM A CERTEZA DE OUVIR TAIS PALAVRAS AO SOM DA SUA VOZ! Tao você! Que bom poder saber de você e lhe saber feliz! Eu amo você!

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