terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mais uma epifania...

A maternidade é uma experiência transformadora. Ou reveladora, já não sei mais. Volta e meia me pergunto se esse ser que hoje sou é um Eu transformado ou um Eu revelado pela maternidade. Explico. A bem pouco tempo minha vida, minhas prioridades, meu sonhos e até meus pesadelos eram outros. Nunca, em hipótese alguma, sonhei que pariria em casa. Tão pouco que amamentaria um "rapazinho" - ouvi isso da dentista recentemente, que estou amamentando um rapazinho, enorme - de um ano. Muito menos que usaria fraldas de pano, dividiria a cama com o bebê e abandonaria a carreira. Imaginaria menos ainda que gostaria verdadeiramente destas tão intensas mudanças. Por isso me pergunto, a maternidade transformou ou revelou?
Começo a acreditar que não fui transformada. Passo a acreditar que me encontrei. A despeito do que muitos dizem, que viver em casa com o filho é improdutivo e frustrante, tenho me sentido altamente produtiva e feliz. Óbvio, existem os dias nebulosos. Mas estes sempre existirão, independente de nossas escolhas. A frequência que eles aparecem é que pode ser preocupante. Mas sim, voltando a mais esta epifania. A maternidade me desnudou. Depois de mergulhar tão profundamente em meus instintos, de viver com entrega a fase de fêmea parida, concluo que as roupas que tirei, lá no começo deste caminho, não me cabem mais. Não eram exatamente minhas. Não foram escolhidas pela minha alma, pelo meu desejo. Foram impostas, ditadas. Sufocavam, apertavam, incomodavam, marcavam. A tranquilidade e conforto que hoje sinto com minhas escolhas refletem que hoje sim visto as roupas feitas para mim. Escolhidas a dedo, confortavelmente ajustadas. 
A gente ouve tanta coisa desde que nasce que se distancia demais do que realmente somos. Permitimos que o mundo nos diga o que precisamos falar, comer, vestir, comprar, ouvir, gostar. Até a nossa rebeldia foi previamente planejada e imposta. Passamos anos desejando desejos que não são nossos.
Definitivamente não foram meus discursos que mudaram. Os discursos que sempre arrotei como verdades não eram meus. Mas a maternidade me deu de presente a tal pílula vermelha. E ai a gente começa a enxergar que necessitamos de menos do mundo e muito mais de nós. Por tanto, aos amigos que falam quase que com pena que parei a carreira ou que eu era muito boa no que fazia, apenas digo que, se é que importa,  estou feliz. E que esta é uma escolha genuinamente minha.
Não, não é felicidade modelo novela das oito. É felicidade de gente de verdade. É felicidade de ter a consciência tranquila. É felicidade de aproveitar o que realmente importa. É a felicidade de cozinhar um belo prato e saborear sem pressa. De acordar recebendo beijo babado de bebê. De poder parar no meio do dia, do nervosismo e da correria e brincar na sala. Felicidade de ter brinquedo espalhado pelo chão. De ler livro fazendo voz de macaco, de elefante e da mamãe urso.De tomar banho junto. De se espremer pra cabermos os três -papai, mamãe e bebê - na foto. Felicidade de ver os primeiros passinhos. De ouvir as primeiras palavras incertas. De admirar o sorriso durante o sono. De dividir a fruta, o prato, e o gosto. Não é essa felicidade que achei que teria um dia. Por anos a fio acreditei que a felicidade morava em produtos em prateleiras de lojas. E que precisava do trabalho corrido, do dia apertado e da rotina estressante para comprá-la. Engraçado que um serzinho que está no mundo a pouco mais de 1 ano que me ensinou o que realmente importa. Eles nascem sábios.


3 comentários:

  1. É exatamente o que sinto, penso e vivo.
    Exceto que, eu ainda vivi dentro de uma maternidade criada por outros.
    Minha primeira gravidez, meu primeiro filho, tudo o que fiz com ele foi tudo aquilo que o sistema me dizia que era o que deveria ser feito.
    Eu demorei muito, muito tempo pra me desfazer de toda aquela ideia pré-concebida de maternidade e de vida.
    Aos poucos, fui me deixando levar.
    Hoje, prestes a parir depois de ter feito uma cesariana mais do que eletiva, pronta para amamentar um "rapaz" até onde for confortável para nós, de criar com apego, de re-aprender a ser mãe, me sinto livre.
    Sinto que me livrarei de tantas coisas que me prenderam e nos prenderam durante tanto tempo.
    Infelizmente, nem todo mundo aproveita a maternidade como um momento de transformação. Sei disso, porque fui uma. Mas não dessa vez.
    Agora, ninguém tira de mim essa experiência!

    Muito obrigada pelo belíssimo texto!
    Tive que compartilhar =)

    Beijos!

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    1. Esse re-aprender é mágico. Nosso caminho não é fácil, mas é delicioso!
      Que bom que curtiu o texto!
      Um beijo!

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    2. Esse re-aprender é mágico. Nosso caminho não é fácil, mas é delicioso!
      Que bom que curtiu o texto!
      Um beijo!

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