Eu não ia escrever sobre isso hoje, estava esperando completarmos uma semana de mudanças em casa, mas esse post quer sair agora e eu obedeço. Boa nova a gente espalha logo. Se deu certo aqui, não custa dividir, quem sabe dá aí também. Eu e minha mania de começar as coisas de trás pra frente. Vamos ao começo então.
Consegui manter a TV longe do nosso cotidiano nos dois primeiros anos de Miguel. Víamos um DVD ou outro, mas nada rotineiro, nada regular. Seguíamos bem. Helena nasceu e,com ela a necessidade de manter o pequeno distraído e ocupado por um tempo. Começamos a ligar a TV 15 minutos por dia. Só um episódio. Só enquanto aproveito o cochilo da caçula pra preparar o almoço. Só mais um episódio. Só mais quinze minutos. Tem nada não,não vê propaganda, é no Netflix. Pronto, ela achou a porta aberta, se instalou no meio da sala, do nosso dia, da nossa vida. E meu filho já passava uma hora, ou mais, frente a ela. Antes, de prosseguir, preciso esclarecer algo. Amo séries, amo vídeos, sou louca por filmes. Ah, amo programas de culinária também. Tenho TV desde sempre e creio que terei para sempre. Mas foi necessário discutirmos nossa relação.
Voltando a Miguel. Meu filho tem um gênio forte, sabe o que quer, a hora que quer e do jeito que quer. Tem um certo problema em aceitar ordens e crescemos juntos trabalhando nisso. Mas nos últimos meses as coisas tomaram proporções apocalípticas. Eram quatro, cinco, seis explosões emocionais por dia. Uma agressividade e estresse assustadores. É o terrible two. É fase. Vai passar. Putz, tá piorando. Não, não ia passar. E não adiantava acender vela pra que tudo melhorasse sozinho. Eu precisava fazer algo, Analisamos o que tinha mudado na vida do pequeno nos últimos meses. O pai voltou a trabalhar fora, ganhou uma irmã. Muita coisa mudou, muita coisa pra digerir. Precisávamos ajudá-lo na adaptação da nova realidade. Estamos mudando a forma de falar e agir com ele, e isso tem trazido resultados incríveis - prometo que escrevo sobre isso em breve. Mas eu sabia da necessidade de tirar a televisão da cena. Mas como? Como seria possível não utilizar desse artificio quando se fica 24 horas por dia, 7 dias por semana com a criança? Sem escola, sem creche, sem babá, sem trabalhar fora? Como que eu ia respirar? E o tempo pra mim? Como iria distraí-lo? Decidi tentar. No final de semana ele não viu nada direcionado a ele, mas nós assistimos algumas coisas. Na segunda troquei a TV pela música. ¨Mamãe, não tá aparecendo nada". "É filho, hoje a música é só pra ouvir." Não achei que seria possível. Não achei que conseguiríamos. Mas cá estamos, ligando a TV apenas depois que os dois dormem! E, surpreendentemente, estamos vivendo dias deliciosos. Meu filho criativo, carinhoso e feliz voltou. Assim, em menos de três dias. Ele voltou. Nos últimos três dias não precisei segurar meus monstros interiores nenhuma vez. Não quis bater nele, não entramos em confronto, não os descontrolamos.
Sem o entretenimento pronto ele voltou a desenhar várias vezes ao dia. Voltou a pedir o violão pra tocar. Tem brincado mais com a irmã. Tem estado mais calmo. Seu pequeno processador recém inaugurado não tem precisado processar informações demais. Não está sobrecarregado, não dá curto. Sua pequena vida tem tido cores mais naturais, mais vivas, mais sentidas. Não, eu não quero dizer que a televisão é um cão que suga a mente de criancinhas. Quero dizer apenas que a retirada dela fez milagres. Ou a entrada dela que trouxe caos. Não sei se todas as crianças são tão fortemente influenciadas pelo excesso de informação da TV, mas aqui, com meu filho, a relação será apenas de conhecidos. Visita rápida, bem esporadicamente. Talvez um filme, em família, um final de semana ou outro. Mas não a quero mais em nossa rotina.
Depois de encarar os fatos, tenho visto que nem tudo que reluz é ouro. Nem toda ajuda é tão bem vinda. Eu realmente achei que a TV era necessária e que quebrava um galho deixando o pequeno quieto por alguns minutos. Eu realmente acreditei que sem ela o dia seria ainda pior. Mas não. Os efeitos colaterais não valeram a ajuda. O tempo de paz não valia o estresse e a guerra no fim do dia. O silêncio precedia o esporro. Ainda não consegui elaborar tanta mudança. Talvez não tenha sido apenas o excesso de informação. Talvez a TV tenha nos distanciado mais do que pensei. Talvez ele sentisse um pouco de abandono ali, sentado, sozinho, de frente pra tela. Talvez seja tudo junto e misturado. O que posso dizer é que vale a pena escutar algo. Vale a pena deixar que suas cabecinhas de criança criem sua própria diversão. Estudos sobre os malefícios da dita cuja tem aos montes, espalhados por toda a internet. Essa semana a teoria, aqui, saiu do papel. Senti na pele. Nesse eterno ir e vir, avançar e retroceder da maternidade, sigo descobrindo o que nos faz bem e nos faz mal. Sigo costurando essa colcha de retalhos que me define, tecendo hoje, desfazendo o ponto amanhã. Não posso garantir o resultado final, mas o caminho, por si só, já tem valido a pena.