terça-feira, 23 de julho de 2013

Sobre as birras e frustrações.

A cada dia constato que pari um lindo, genioso e determinado ser. Sabe o que quer, a hora que quer e o jeito que quer. E odeia ser contrariado. Grita, joga as coisas no chão. Berra desesperadamente, fica vermelho. As vezes puxa os cabelos. Diante de cenas como esta, a criatura que eu era enlouqueceria, consideraria uma tremenda afronta e sem dúvida reprimiria o comportamento com um castigo moral e/ou físico. Mas a criatura que hoje sou enxerga a beleza destes momentos. Mesmo as vezes querendo surtar junto, sei que está diante de mim uma demonstração de sentimentos genuína e forte, a frustração. A tal birra, que tanto fazem questão de alarmar e julgar como falta de limites, nada mais é que um ser frustrado exteriorizando toda raiva e desapontamento que sente. Não tem nada a ver com você, não tem a intenção de manipular, de chantagear. Não é o seu filho se enveredando para o lado negro da força. É seu filho sendo um humano que ainda não aprendeu a controlar seus próprios sentimentos. Simples assim.
Como você lida com suas frustrações? De que maneira age quando seus planos saem dos eixos? De que maneira gostaria de agir quando dá tudo errado?  A sensação de frustração é péssima. Mesmo após os vários desapontamentos que acumulamos com os anos, o fracasso continua a doer e desestabilizar. Agora reflita, se já é péssimo para você, adulto, que sabe exatamente o que está acontecendo, porque está sentindo e como resolver - ou não - a situação, imagine para um ser que não faz ideia de como o mundo funciona, que não sabe se expressar com clareza, que não sabe nem organizar as ideias com precisão. Passei a ter um pouco mais de empatia às explosões de raiva do pequeno. Eu iria ficar P da vida se meu marido me tomasse o celular enquanto eu estava usando, principalmente se o fizesse de maneira abrupta. E se me obrigassem a sair de um lugar, no ápice da minha diversão? Com certeza eu não reagiria de maneira branda, amável e pacífica. Agora porque esperamos tanto das crianças? Porque desejamos que tenham atitudes que nós não somos capazes de ter? Porque menosprezamos tão friamente seus sentimentos? Será que não merecem um pouco mais que frases imperativas e olhares repressores?
A maternidade é um aprendizado continuo e tenho crescido com meu filho, diariamente. Aprendi a enxergá-lo como gente e tratá-lo com o mesmo respeito que trato meu marido e as pessoas que amo muito. Se nos colocarmos um pouco no lugar deles, perceberemos que a tal "birra" não foi sem razão. E quando conseguimos enxergar que ali, a nossa frente, está apenas um ser humano com um forte sentimento de frustração,  baixamos a guarda e, com menos raiva ou estresse, nos oferecemos apenas para explicar e consolar. Quando este episódios acontecem aqui em casa, abraço meu filho, o pego no colo e explico porque a mamãe agiu daquela maneria. Falo que também estaria chateada se fosse ele, mas que infelizmente a mamãe não podia fazer diferente. E como faria a um amigo, o consolo. Em poucos instantes, em regra, o nervosismo passa e ele, com o mesmo olhar lindo e doce de sempre, brinca como se nada tivesse acontecido.
Com o desenvolvimento de sua personalidade e autonomia estas situações serão cada vez mais frequentes. Mas não me furto ao meu papel de mentora. Não calo as demonstrações de raiva, o choros de frustração. Não o ensino que deve calar seus sentimentos, mas a lidar com eles. Meu filho precisa saber que todos estes sentimentos são legítimos e humanos.  Estou certa de que será um adulto mais pacífico, seguro e amável que os que vemos por aí. Um homem que conhece seus sentimentos, suas dores e alegrias, sabe vivê-las com plenitude. Não calará suas frustrações, e também não se tornará agressivo por conta delas. Talvez escreva uma música ou uma poesia. Quem sabe pinte um quadro. De uma coisa estou certa, a cada "birra" aprendemos a lidar melhor com nossas dores e frustrações, Ele e eu.

terça-feira, 16 de julho de 2013

E quando você volta a trabalhar?

Ao longo da gestação muitas coisas mudaram em mim. A medida que a barriga crescia algumas convicções se firmavam e se mostravam como escolhas mais adequadas para nós - marido, filho e eu. Destas escolhas, a que mais impacto causou em minha vida foi deixar de trabalhar. Estava acostumada com o ritmo frenético de um escritório de advocacia, com clientes ligando, com prazos findando, com o dinheiro na conta no final do mês.Mas nada disso se mostrava prioridade após a chegada do meu filho, ele não se encaixaria bem nesta rotina. Optamos, então, por me dedicar exclusivamente a ele. E foi aí que descobri como a nossa sociedade está com os valores completamente distorcidos, e como as mulheres não sabem o que é machismo, tão pouco feminismo. Recebo incessantes cobranças de quando voltarei a advogar. Todos, sim, todos que me encontram perguntam quando volto ao batente...e meu filho tem apenas 11 meses. Já ouvi que estou desperdiçando meu tempo, que joguei os 5 anos de faculdade fora e que meu diploma - no caso, minha carteira da OAB - não deve ficar guardada em uma gaveta. E que é importante, para a mulher, que ela não dependa de um centavo sequer do marido.
Nos acostumamos tanto com a figura da mulher-mãe-profissional-esposa que achamos ser este o modelo perfeito. Nos habituamos tanto a babá trocando as fraldas, dando leite na mamadeira e educando nossos filhos que não aceitamos quem sai deste padrão. Pois bem, decidi sim trocar fraldas, amamentar, cozinhar e cuidar do meu filho. Optei por estar presente quando a primeira palavra foi falada, por amparar os primeiros passos. Decidi não assistir, de longe, o desenvolvimento da minha cria, acreditando que quantidade e qualidade de tempo são igualmente importantes.
Desde quando ficar em casa, educando o meu filho, dando-lhe amor, carinho e atenção é desperdício de tempo? Algo está errado em seus conceitos! Criar um ser humano melhor deveria ser a nossa prioridade! Passar ao filho os valores que acreditamos, direcionando num caminho bacana está muito longe de ser improdutivo! Esta juventude vazia, consumista e alienada é fruto de uma sociedade que estimula a tercerização de suas responsabilidades. Decidir trabalhar em home office, mudar o rumo da carreira, foi um decisão consciente e acima de tudo responsável, uma decisão que abraça um conceito de vida que refletirá nas próximas gerações. Os anos de faculdade foram muito importantes e trouxeram uma vivência e experiência que são aproveitados diariamente. É um pensamento muito restrito e limitado acreditar que um diploma te amarra a uma única profissão para sempre, até que a morte os separe. Saber mudar e utilizar o aprendizado em outras realidades é inteligência emocional. 
Mas o argumento que, sem sombra de dúvidas, me tira do sério é que mulher não pode depender de marido. Pra ser respeitada por meu marido preciso dividir com ele as contas da casa? Jura? Tá aí outra demonstração de que falta a quem pensa assim um pouco de raciocínio lógico e inteligência. Não posso falar do casamento alheio, mas no meu o respeito independe de conta bancária ou de trabalho. Nos respeitamos por sermos quem somos e pelo que nos tornamos juntos. Respeitamos nossas escolhas por merecemos respeito, simples assim. Somos companheiros e parceiros, nossas vitórias e derrotas são divididas. Quem paga o aluguel ou a conta do restaurante pouco importa. Portanto, querida amiga-mulher-pseudo feminista, se você realmente acredita que para se fazer respeitar precisa de um contracheque, sinto te informar que você é tão machista quanto quem sonha com Amélia. O direito de escolha é um alicerce da liberdade. Falta-lhe auto-estima e auto-confiança suficientes para sustentar as suas escolhas.
Não posso considerar uma opção fácil, principalmente para quem está acostumada a ter um emprego pra chamar de seu,  mas tem sido gratificante e rico. Jamais imaginaria perder cada descoberta e cada conquista do meu filho. Se um dia abandonarei o projeto da lojinha virtual e voltarei à advocacia? Não sei, não estou nem um pouco preocupada com isso. Pouco me importa a ansiedade alheia. Nas bandas de cá tenho utilizado meu tempo, meus esforços e minhas energias na produção de algo imaterial, impalpável e imensurável: um ser humano mais humano.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Eu não agradeço as palmadas que levei

Volta e meia vejo um amig@ postando em uma rede social imagens valorizando as palmadas, com dizeres do tipo: "Eu agradeço aos meus pais as surras que levei." Sinto muito, meu querido amigo, se você agradece aos seus pais as palmadas que você levou. Não, eu não agradeço as palmadas que levei. Não agradeço por ter aprendido que a violência é uma forma de linguagem. Não agradeço por ter aprendido que o mais forte pode bater no mais fraco. Não agradeço ter aprendido que, as vezes, a violência é uma forma legítima de amor. Sim, violência. Palmadas e cintadas são violência. Agradeço sim, aos meus pais, pelo carinho e amor que sempre me deram. Pelas várias vezes que se acalmaram e conversaram. Pela preocupação em me manter sempre bem. Pelo colo, pelos beijos, pelos abraços. Por terem acreditado em mim. Agradeço, principalmente, o exemplo que sempre me deram, esse sim, me educou e me moldou. Agradeço ao meu pai por me mostrar que preciso ser determinada, forte e sincera. À minha mãe por me ensinar a ser sempre compreensiva e branda. Inúmeros são os motivos que tenho a agradecer. Mas a palmada não está entre eles.
Meus pais apanharam bastante dos meus avós, tiveram uma criação sem diálogo ou respeito. Pai manda, filho obedece, sem explicações, sem conversa. Aprenderam que a surra educa. Diante da criação que tiveram, fizeram o que acreditavam ser o melhor. Introduziram o diálogo e deixaram a palmada apenas para as situações em que " a conversa não resolvia". Certamente meus avós apanharam ainda mais dos meus bisavós. Mas esse ciclo acabou aqui. Nesta família, a minha geração foi a ultima a ser agredida fisicamente. Meu filho não o será. Não é esta a linguagem que usamos e usaremos em nossa casa. Ele não aprenderá que violência educa. Não aprenderá que encerrado o diálogo a agressão será a única saída. Já acreditei que a palmada é uma forma legítima de educar. Inofensiva. Escondia os reais sentimentos que ela sempre me causou. Aliás, esta é a conduta mais comum em toda vítima de violência. Negar que foi violentado. Negar o medo, o terror, a angústia, a dor. Se culpar. Acreditar que causou a agressão. Meu filho não conhecerá esse sentimento. Não olhará para a porta, ansioso e assustado, enquanto apanha, esperando que alguém chegue e o salve. Agressão física é descontrole. Ele não pagará pelo meu descontrole, não é dele a conta por eu ter pedido a paciência. Se eu perdi a paciência, sou eu quem devo me acalmar e recuperá-la. 
Como ensinarei meu filho a não ameaçar, se sempre o ameaço? Como ensinarei que não deve agredir os coleguinhas e os irmãos se eu o agrido? Como ensinarei que deve buscar sempre o diálogo se eu, adulta, não sou capaz de dialogar? Quando enxergaremos que palmadas são violência? Quando assumiremos, para nós mesmos, que fomos violentados?  Quando choraremos a nossa dor? Quando veremos, nos olhinhos suplicantes do filho agredido o nosso próprio olhar? Quando lembraremos que as surras nos trouxeram apenas medo e angústia, nada mais? Quantas vezes vemos em nós mesmos o comportamento dos nossos pais? Aprendemos mais com os exemplos ou com as agressões?
Te aconselho, caro amiga@ que apenas reproduz um discurso irracional, a parar e pensar. Te aconselho a voltar um pouco à infância e, sem fazer piada ou esconder seu sentimento, pensar em cada vez que levou uma "inofensiva" palmada. Deixar de lado as velhas verdades e sentir suas próprias dores.Verá que jamais aprendeu algo de bom com uma palmada. Que não repetiu o "erro" apenas por medo. Que com a palmada aprendeu apenas a não questionar, a se anular, algumas vezes a mentir. Enxergará que as palmadas refletem até hoje, negativamente, em sua vida. Antes de levantar a mão para o seu filho, lembre do horror que sentia quando via uma mão erguida. Use a mão para acarinhar. Existem maneiras positivas de educar e ensinar. Não é fácil, mas é gratificante. Quebre os ciclos, mude o rumo. Agradeça aos seus pais o que realmente merece agradecimento. Eles com certeza merecem muitos agradecimentos. Meus pais me amaram e amam muito. Buscaram em todo o tempo acertar. Mas erraram, e este erro eu não quero e não vou repetir.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A consciência e a maternidade consciente

Ser mãe é uma delícia, isso é inegável. Não é perfeito, mas nada o é. Vivemos para o filho durante algum tempo, priorizamos seu bem estar, sua saúde física e emocional, abrimos mão de muito do que fomos para melhor atender as demandas destes pequenos seres que chegam transformando nossas vidas. Abdicamos de nós mesmas, diariamente. Já escrevi aqui sobre o mito da mãe 100% feliz, satisfeita e realizada. Mas até que ponto temos que abdicar de nós mesmas? Até que ponto é saudável para nós - e para eles - que esqueçamos de nossas necessidades? E quando o maternar de forma consciente passa a ser uma obsessão irracional, que escraviza e oprime tanto quanto o "todo mundo faz"? 
Participo de muitas discussões, a maioria on line, em redes sociais, sobre a maternidade ativa e consciente e tenho percebido que criou-se uma padrão de comportamento, pré-requisitos que devem ser preenchidos para que uma mãe possa ser bem vista e benquista. Importante parir em casa, deixar o emprego para ser mãe em tempo integral, só comer orgânicos e eliminar por completo a vida social nos primeiros anos de vida do baby. Cinema, nem no CineMaterna. Pecado mortal deixar o filho com a avó para ir ao salão fazer a unha ou simplesmente para dormir um pouco e descansar. Todas estão sempre vigiando, de olhos vívidos e ouvidos apurados, prontas para criticar qualquer comportamento fora do padrão. E assim, buscando fugir de um mundo alienado, caímos em outro. Não me entendam mal, não estou aqui defendendo as cesáreas eletivas ou a terceirização da educação. Jamais. Mas acredito que maternar de forma consciente exige consciência em cada decisão, não um padrão pré-estabelecido no qual não se pode questionar, duvidar ou escolher um caminho diferente. 
Logo após o nascimento do meu filho, na ânsia de fugir do senso comum, busquei seguir o caminho oposto. Hoje passados quase 11 meses, tenho percebido que ser consciente não é apenas agir de maneira diferente. Não vejo diferença entre a mãe que dá mamadeira porque todo mundo dá da mãe que amamenta porque lhe falaram que deveria. Ambas agem sem consciência. Ambas terceirizam suas escolhas. Ambas seguem cartilhas. Ser consciente não é isso. A maternidade consciente não nos tira o direito  a escolha, muito pelo contrário, ela nos abre um leque de opções. Ela nos mostra que não temos obrigação de agir desta ou daquela forma. Ela amplia os horizontes. De posse de muita informação podemos eleger a melhor escolha. Normalmente busco as evidências cientificas quando preciso decidir algo em relação ao meu filho. Leio, pesquiso, me informo. Mas nenhuma leitura me vincula, nenhum método me aprisiona. Por diversas vezes agi  de maneira diversa da "cartilha". Já contrariei orientações dadas pela OMS. Mas o fiz de maneira consciente. Fiz conhecendo o risco das minhas escolhas, assumindo as consequências, os eventuais danos. É   esta clareza que nos difere de quem simplesmente segue a manada, sem nada questionar. A capacidade de entender, conhecer e assumir os riscos de cada escolha.
Neste primeiros meses de vida, quase que primeiro ano, meu filho não ficou longe de mim por mais de 2 horas, mesmo nestas situações, o longe era ali, na esquina. Todas as ocasiões que saí, o levei comigo. Saí muito pouco, em comparação com a vida antes de sua chegada. Mas esta escolha não me oprimiu. Não tenho sofrido com minhas decisões. E, caso perceba que minhas escolhas estão causando dores além das normais, irei rever meus conceitos. Simples assim, sem qualquer culpa. Percebi que preciso, além de atender as necessidades do meu filho, atender também as minhas. Não uso chupeta, mas por diversas vezes coloquei meu filho no peito porque precisava que se aquietasse, e não vejo motivo de me sentir mal com isso. Já fingi estar dormindo pra ver se ele dormia também. Não deixei de assistir aos seriados que gosto, mesmo quando Miguel está acordado. Continuo comendo pão, brigadeiro e pizza, enquanto ofereço uma fruta para ele. Lanchamos frutas e comidas saudáveis juntos, mas percebi que gosto de determinados alimentos e decidimos - marido e eu - não abrir mão. Mudei muita coisa em minha vida. Coisas que jamais imaginei que mudaríamos. Mas deixei um pouco de mim inteiro. 
Talvez seja chegado o momento de rever nossos conceitos e decisões. Quantos deles são realmente nossos? Quantos nos oprimem porque fogem da nossa vida, da nossa realidade? Sigo buscando cada vez mais consciência e ciência nos meus caminhos, cuidando para que o afã de fugir de uma manada não me empurre, cega e alienada, para outra. Conscientemente livre.